terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Entenda como a ciência ajudou a abalar a história da arte em 2012

FOLHA DE SÃO PAULO

P
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

O ano que chegou ontem ao fim entrará para a história da arte como divisor de águas: nunca ciência e tecnologia foram aplicadas de tal forma a descobertas no campo das artes visuais, revelando obras desconhecidas, destrinchando métodos criativos de mestres do passado e mudando o pensamento a respeito de obras canônicas.
Tudo começou em fevereiro com o estardalhaço em torno de uma nova "Mona Lisa" descoberta no Museu do Prado, em Madri. Antes considerada mais uma cópia do célebre quadro de Leonardo Da Vinci, a Gioconda espanhola foi, na verdade, pintada por um assistente do artista ao lado da original, ao mesmo tempo em que o mestre renascentista executava a sua obra.
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte
Radiografias mostram que as mesmas alterações nos esboços de Da Vinci por trás da camada de tinta foram feitas por seu assistente na "Mona Lisa" do Prado, o que revela que o autor da cópia só podia estar no ateliê do mestre.
Meses depois, foi confirmada a existência de outra "Medusa" de Caravaggio. Além da famosa pintura do monstro sobre um escudo na Galleria degli Uffizi, em Florença, havia uma primeira versão que o mestre do barroco fez para si mesmo e guardou.
Essa nova "Medusa", que foi exposta no Brasil, esclareceu o enigma que há séculos perturbava historiadores. O esboço original da pintura, que não existe por baixo da versão dos Uffizi, foi feito por Caravaggio só na primeira versão e projetada à luz de vela para o segundo escudo, o que explica a perfeição de uma pintura que a princípio parecia feita sem esboços.
Mais para o fim do ano, uma grande exposição no Metropolitan, em Nova York, juntou especialistas de Harvard e conhecedores da obra de Gian Lorenzo Bernini para explicar como o maior escultor de Roma trabalhava.
Uma técnica que analisa a textura interna de seus modelos de argila revelou que, em vez de esculpir o material como um bloco de mármore, ele fazia movimentos bruscos com as mãos para moldar, num só golpe, os modelos preparatórios das peças.
Por fim, outro ambicioso restauro devolveu os tons de azul originais à "Mulher de Azul Lendo uma Carta", obra de Johannes Vermeer, tela agora em exibição no Masp.

Após crise, jovens são novos sem-teto dos EUA

FOLHA DE SÃO PAULO

Governo lança iniciativa para mensurar problema, camuflado pelos que preferem dormir em sofás a abrigos
DO “NEW YORK TIMES”, EM SEATTLEDuane Taylor estudava ciências humanas numa faculdade pública e vivia num apartamento quando perdeu o emprego. Então ele encontrou um segundo emprego, e o perdeu. E um terceiro.
Agora, com "padrões reduzidos" e um emprego incerto num fast-food de Seattle, Taylor, 24, não ganha o suficiente para alugar um apartamento ou dividir um com outra pessoa. Ele dorme numa esteira num abrigo para sem-teto, exceto quando passa a noite no sofá de sua irmã.
"Posso perder meu emprego a qualquer momento", diz ele. "Quero conseguir me sustentar. É minha única meta."
Dezenas de milhares de jovens subempregados ou desempregados nos EUA, muitos com histórico de trabalho ou de estudo universitário, têm dificuldade em encontrar moradia na esteira da recessão, que deixou aqueles entre 18 e 24 anos com o índice de desemprego mais alto.
Jovens que podem voltar a viver com os pais -"o contingente bumerangue"- têm sorte. Isso não é possível para famílias como a de Taylor, vítimas da recessão. A mãe dele mal pode se sustentar trabalhando em uma lavanderia.
Sem endereço estável, eles formam um grupo que, em sua maioria, dorme em sofás em casas de amigos ou escondidos em carros na esperança de evitar o estigma de ser sem-teto, em uma fase difícil que esperam ser temporária.
PROBLEMA INVISÍVEL
Esses adultos jovens formam o novo rosto da população americana de sem-teto. Mas o problema se conserva, em sua maior parte, invisível.
A maioria dos governos volta a atenção às famílias de sem-teto e não se esforça para identificar adultos jovens, que tendem a evitar abrigos.
O índice de desemprego e o número de adultos jovens que não podem pagar a faculdade "apontam para um aumento dramático no número de sem-teto" dessa faixa etária, disse Barbara Poppe, diretora do Conselho Americano Interagências sobre Sem-Teto.
O governo lançou uma iniciativa em nove comunidades, em sua maioria em cidades grandes, para buscar pessoas de 18 a 24 anos sem endereço fixo. Nova York, Houston, Los Angeles e Boston estão entre elas. "Uma de nossas primeiras abordagens é buscar uma estimativa mais exata", disse Poppe, cuja agência coordena o esforço.
Os setores que prestam serviços aos pobres dizem que a recuperação econômica não está aliviando o problema.
"Anos atrás, não víamos universitários esperando para falar com assistente social porque estão vivendo na rua", disse Andrae Bailey, do Centro Comunitário de Alimentação e Apoio, uma organização beneficente da Flórida. "Hoje isso é comum."
Los Angeles fez a primeira tentativa de contabilizar os casos em 2011. Foram 3.600, mas os abrigos só tinham capacidade para 17% deles.
"Os outros ficam por conta própria", declarou Michael Arnold, da Autoridade de Serviços para Sem-Teto de Los Angeles. "Quando se inclui quem está dormindo em sofás, esse número aumenta exponencialmente."
Tradução de CLARA ALLAIN

    Monja por dez dias - Laura Capriglione

    FOLHA DE SÃO PAULO

    Silêncio absoluto, isolamento e disciplina monástica atraem 120 pessoas para curso de meditação; repórter conta sua experiência
    Objetos de valor ficam na portaria. Quem imaginava um spa no estilo oriental leva o primeiro susto
    Marlene Bergamo/Folhapress
    Chegada à fazenda onde ocorre o retiro, em Miguel Pereira, área rural do Rio de Janeiro
    Chegada à fazenda onde ocorre o retiro, em Miguel Pereira, área rural do Rio de Janeiro
    LAURA CAPRIGLIONEENVIADA A MIGUEL PEREIRA (RJ)
    Viver de esmola em absoluto silêncio, em total disciplina, meditando em posição de lótus durante 12 das 24 horas do dia, sem qualquer contato físico com outra pessoa, em respeito a todos os seres -inclusive baratas, escorpiões, cobras e sapos!-, lavando sua própria roupa, seus pratos, arrumando sua cama.
    Sem poder ler, sem poder escrever, sem usar um tocador de mp3 ou CD, sem computador, iPad, e-mail, Facebook. Sem telefone.
    Folha participou do Curso de Meditação Vipassana, um retiro espiritual de dez dias. Baseado em tradição de 2.500 anos, o Vipassana, diz o site, deriva de ensinamentos deixados pelo próprio Buda, transmitidos de geração em geração até hoje.
    Dez dias sem saber se o Corinthians sagrou-se campeão mundial de clubes, se o José Dirceu foi preso, se a mãe comprou seu presente de Natal, se o mundo acabou como previram os maias. Dez dias para viver como um monge ou uma monja, praticando os ensinamentos de Buda.
    Atrás da promessa da "erradicação das impurezas mentais, da suprema felicidade e da erradicação essencial do sofrimento" (é pouco?), 60 homens e 60 mulheres aterrissaram no dia 12 de dezembro na fazenda Dhamma Santi, área rural de Miguel Pereira (120 km do Rio).
    Foram todos logo orientados a deixar objetos de valor (dinheiro, documentos, celulares e câmeras) na portaria.
    Quem imaginava um spa de extração orientalista para relaxar em meio a nuvens de incenso, relicários de Buda e bandeiras de oração coloridas ao vento, à moda tibetana, tomou o primeiro susto.
    Zero incenso, zero imagem de Buda, zero bandeira colorida. E zero pagamento (os organizadores só aceitam doações, em qualquer valor, de quem passar dez dias lá).
    As paredes de tijolo aparente não contêm um só adereço. Das lindas trilhas abertas nas montanhas recobertas de mata atlântica só podem ser percorridos menos de cem metros que separam os dormitórios do salão de meditação e do refeitório. O restante está interditado por placas que avisam: "Limite". Dali não se passa.
    É claro que fumar não pode, como também não pode beber, usar calmantes "ou qualquer tipo de intoxicante". Então, fica-se assim: das 24 horas do dia, 12 horas serão dedicadas à meditação e 12 horas servirão para dormir, alimentar-se, descansar, cuidar da higiene.
    "Não tem milagre ou mágica. Não adianta focalizar a mente em uma imagem, em uma cor, em um som" [refere-se àquele "ommmm" pronunciado com os olhos fechados], avisa o professor birmanês Satya Narayan Goenka, 88, principal mestre de Vipassana hoje em atividade.
    A voz de Goenka gravada em CDs é a única que se ouve no curso. Ele canta, recita ensinamentos em páli (a língua falada no norte da Índia no tempo de Buda), explica em inglês (tudo com tradução).
    A ideia da meditação Vipassana é transformar a mente em um scanner que percorre cada parte do corpo, localizando as sensações agradáveis, desagradáveis, fortes e tênues que se manifestam. Então, usando de "equanimidade" (sem avidez ou aversão), vê-se como elas, impermanentes, efêmeras e mutáveis ("Anicca", em páli), dissolvem-se por si mesmas.
    Segundo Goenka, "o autoconhecimento baseado na observação resulta numa mente em equilíbrio, cheia de amor e compaixão".
    Mas haja força de vontade. Nos dois primeiros dias, é o próprio Goenka quem avisa: "A coluna dói, a cabeça dói (muito), pensa-se em desistir". Tem mais: o tempo não passa, a claustrofobia pega, a chuvarada deixa o retiro às escuras durante dois dias, aparecem pelo menos três sapos, uma cobra coral (megavenenosa), duas baratas, um escorpião e um caramujo, fora os pernilongos.
    Duas mulheres não aguentam e "fogem", depois de crises de choro (há testemunhas), dores nas costas (nem precisa) e talvez fome.
    A reportagem da Folha emagreceu 3,5 kg nos dez dias de saborosa alimentação vegetariana. Ainda não sabe se está com a mente mais equilibrada, "cheia de amor e compaixão".

    Ninguém se fala, ninguém se olha ou se toca
    Limpava-se o banheiro compulsivamente; Os dias duram muito quando não se pode falar, assistir TV ou passear na internet
    DA ENVIADA A MIGUEL PEREIRA (RJ)A decretação do fim do "nobre silêncio", no último dia do Curso de Meditação Vipassana, encheu de blá-blá-blá, sorrisos e histórias as instalações sóbrias do retiro.
    Logo se soube que o sapo do banheiro, um anfíbio safado que parecia se divertir assustando as moças que iam tomar uma ducha, foi removido de lá corajosamente pela meditadora Claudete Sarapu, professora de Santo André. Ela o pegou usando um pano de chão como luva.
    Ou que a consultora de sustentabilidade Gabrielle Lopez, 26, uma experiente frequentadora de retiros (já fez em Bali e na Costa Rica), a partir do sétimo dia não conseguiu mais acompanhar as meditações, o pensamento vagando disperso. "E por que você ficou?", quis saber a reportagem. "Tinha esperança de que melhorasse", afirmou.
    O "nobre silêncio" não se limita a um "cala a boca". Significa "abster-se totalmente da comunicação com outros, verbal ou física, mesmo que por intermédio de gestos ou olhares", em busca do "silêncio mental". Pesa.
    Durante toda a vigência desse silêncio em sentido amplo, ninguém sorriu para ninguém. Acabou também a gentileza, que exige interação entre viventes.
    Noite fechada, sem luz (a chuvarada havia derrubado a rede elétrica), quem tinha lanterna fez facilmente o percurso entre os dormitórios e a sala de meditação. A quem não tinha, restou torcer para não pisar em uma cobra. Ninguém ofereceu ou pediu carona no facho de luz.
    A mesma coisa aconteceu com os portadores de guarda-chuvas. Quem tinha, tinha. Quem não tinha, tivesse. Muitos chegaram à meditação pingando.
    Nada favorecia a interação. No refeitório, as pessoas sentavam-se como se fosse em bancos de igreja. Todos voltados para o mesmo lado, de modo que ninguém se encarasse.
    Mas o "nobre silêncio" acabou também com a histeria coletiva. Incrivelmente, a aparição de baratas, escorpiões, sapos e cobras não ocasionou um tsunami de gritos.
    Na verdade, nenhum grito se ouviu, nem mesmo quando uma barata cismou de voar sobre as meditadoras concentradíssimas. Seria esse o caminho da iluminação?
    Em absoluto silêncio, uma jovem levantou-se calmamente e pegou o chamado "kit salva inseto", que consiste em uma vasilha de plástico transparente e uma cartolina.
    A vasilha, emborcada, imobilizou a barata, impedindo-lhe a fuga. Então, a cartolina foi enfiada por baixo. E levou-se a barata aprisionada para um matinho, onde ela foi de novo libertada.
    Fiel ao princípio budista de respeito a todos os seres, ali não se matam animais -nem os peçonhentos.
    Entre as mulheres houve aquelas que, exasperadas pela disciplina rígida, levaram ao extremo o que era possível. Já que era possível lavar roupas, lavava-se roupas todos os minutos de descanso. Esfrega aqui, torce ali, pendura no varal. E de novo, de novo.
    Também podia-se limpar o banheiro, então limpava-se o banheiro compulsivamente. Ou varria-se o quarto. E a varanda. Os dias duram muito -demais- quando não se pode falar, assistir à televisão ou passear na internet.
    O professor Goenka prometeu em várias de suas palestras (sempre ministradas à noite) que o final do curso viria acompanhado por semblantes felizes, típicos de pessoas maravilhadas com as possibilidades abertas pelos ensinamentos recém-adquiridos.
    De fato, no final, mesmo todos sendo obrigados a fazer uma última faxina nas instalações, os semblantes estavam exultantes. Havia felicidade no ar.

      PRÓXIMOS CURSOS
      Novas vagas para 2013 abrem hoje
      Para participar do retiro é preciso preencher um formulário no site da Dhamma Santi (http://tinyurl.com/dhammasanti). Os cursos são gratuitos. Não há vagas para janeiro e fevereiro, mas hoje começam as inscrições para o período de 27/3 a 7/4.



        12 HORAS MEDITANDO - A PROGRAMAÇÃO DIÁRIA DO RETIRO
        4h - Despertar
        4h30 às 6h30 - Meditação na sala ou no quarto
        6h30 às 8h - Café e descanso
        8h às 9h - Meditação em grupo
        9h às 11h - Meditação na sala ou no quarto segundo as instruções do professor
        11h às 12h - Almoço
        12h às 13h - Descanso e entrevistas com o professor
        13h às 14h30 - Meditação na sala ou no quarto
        14h30 às 15h30 - Meditação em grupo na sala
        15h30 às 17h - Meditação na sala ou no quarto
        17h às 18h - Lanche
        18h às 19h - Meditação em grupo na sala
        19h às 20h15 - Palestra
        Após a palestra até 21h - Meditação em grupo na sala
        21h - Descanso
        21h às 21h30 - Perguntas ao professor
        22h - As luzes são desligadas

          Suzana Herculano-Houzel

          FOLHA DE SÃO PAULO

          NEURO
          Um Ano-Novo magro
          Você precisa comer a terceira rabanada ou vai ficar mais feliz se continuar cabendo na sua calça favorita?
          Uma das resoluções de Ano-Novo mais comuns é perder peso -um dos sinais de que a obesidade é um problema real. Culpa, em parte, da invenção da cozinha por nossos antepassados.
          Foi essa invenção que nos permitiu ingerir calorias suficientes por dia para sustentar um cérebro cheio de neurônios, mas que hoje, somada à geladeira, à fartura e à industrialização, tornou fácil demais... comer demais.
          O problema, então, passa a ser aprender a lidar com toda essa fartura.
          Para começar o ano ajudando a quem quiser comer menos, vou contar aqui três medidas que vi funcionar -ou não- nos Estados Unidos.
          Primeira: ano passado, o prefeito de Nova York tentou limitar a cerca de meio litro o tamanho das doses de refrigerante vendidas ao público em copos descartáveis.
          Dá para entender e apreciar o intuito: cada 100 ml de refrigerante tem mais de dez gramas de açúcar, ou 40 calorias de energia pura, não nutritiva. Meio litro dá 200 calorias provavelmente desnecessárias para quem já se alimenta bem -e que são, em um copão só, 10% de toda a energia que o corpo precisa em um dia.
          A medida, contudo, não foi bem-vista e há boas chances de não ser implementada. Americanos não gostam de ninguém cerceando sua liberdade, mesmo que seja a de engordar com calorias desnecessárias.
          Donde a segunda história: a Uno, uma das redes de pizzaria mais tradicionais nos Estados Unidos, agora traz em seu cardápio o valor calórico de cada pizza.
          Assim você pode usar o próprio cérebro para avaliar se quer mesmo comer sozinho uma pizza, até que pequena, mas que coloca em seu prato mais de 1.500 calorias -75% de toda a energia que você precisa em um dia.
          Em seguida, você quer de sobremesa aquela fatia de cheesecake de 1.600 calorias (chocante, pois é)? Eu não quis. Essa estratégia de conscientização e livre escolha tem bem mais chances de sucesso do que o terrível "não coma!".
          Como, aliás, tem boas chances a terceira medida, iniciativa da Kellog's em um anúncio de TV muito bacana: encorajar pensamentos otimistas sobre dietas, em vez do conceito tão comum do maldito "sacrifício".
          Ninguém gosta de fazer sacrifícios, e a neurociência já aprendeu que o que nos move é a expectativa positiva.
          Comer menos? Só se o benefício valer a pena. Então, experimente se perguntar o seguinte: você precisa mesmo comer a terceira rabanada que sobrou das festas ou vai ficar muito mais feliz se continuar cabendo, com folga, na sua calça favorita?
          SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog

          Mirian Goldenberg

          folha de são paulo

          OUTRAS IDEIAS
          MIRIAN GOLDENBERG miriangoldenberg@uol.com.br
          A arte de dizer não
          Não mendigar amor, não se cobrar, não se levar muito a sério; será que o segredo da felicidade é esse?
          Na minha pesquisa "A cultura da felicidade", 32% das mulheres dizem que não são felizes por serem perfeccionistas, insatisfeitas, críticas, ocupadas, preocupadas, estressadas, inseguras etc.
          No entanto, 60% afirma que quer ser mais feliz, leve e divertida.
          Elas deram inúmeras dicas para a conquista da felicidade, tais como:
          não ser tão crítica com os outros e consigo mesma;
          não se preocupar com a autoimagem;
          não se cobrar tanto;
          não aumentar pequenos problemas;
          não se preocupar com a opinião e a aprovação dos outros;
          não se levar tão a sério;
          não querer ser perfeita;
          não ter vergonha do próprio corpo;
          não se comparar com mulheres mais jovens, magras e gostosas;
          não se olhar muito no espelho;
          não conviver com pessoas negativas, agressivas e invejosas;
          não fingir orgasmos;
          não desperdiçar o tempo com pessoas desagradáveis e fofoqueiras;
          não ir a eventos sociais por obrigação;
          não responder a todas as demandas de amigos, familiares ou colegas de trabalho;
          não dividir o prato só para ser gentil;
          não atender aqueles que só sabem pedir ou reclamar (e nunca dão nada em troca);
          não emprestar dinheiro nem para o melhor amigo;
          não pedir dinheiro emprestado nem se for para o melhor amigo;
          não aceitar encomendas quando viajar;
          não pedir nada para os que vão viajar;
          não ser fiador de amigos ou parentes;
          não mendigar amor, atenção e reconhecimento;
          não se fazer de vítima;
          não achar que é o centro do mundo;
          não deixar para amanhã o que pode resolver hoje;
          não ter medo de dizer não.
          Uma professora de 65 anos disse que descobriu o segredo da felicidade. "Li que o lema da Hillary Clinton é 'foda-se'. Hoje, sou como ela. Não me interessa a opinião dos outros, se gostam ou não de mim e se fazem fofocas. Aprendi a ligar o botão do 'foda-se', passei a dizer não e minha vida ficou muito mais leve."
          Ela citou uma frase da atriz Marília Pêra, de 70 anos, para exemplificar a importância de dizer não para ser mais feliz. "A Marília Pêra recusou um projeto importante e uma jovem atriz disse: 'Lógico que você pode dizer não, você é a Marília Pêra!'. Ela respondeu: 'É exatamente o contrário. Eu só sou a Marília Pêra porque aprendi a dizer não'."
          Será que é tão simples assim o segredo da felicidade?
          MIRIAN GOLDENBERG é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de "Coroas: Corpo, Envelhecimento, Casamento e Infidelidade" (ed. Record); www.miriangoldenberg.com.br

          Quadrinhos

          FOLHA DE SÃO PAULO

          CHICLETE COM BANANA      ANGELI

          ANGELI
          PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

          LAERTE
          DAIQUIRI      CACO GALHARDO

          CACO GALHARDO
          NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

          FERNANDO GONSALES
          MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

          ADÃO ITURRUSGARAI
          BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

          ALLAN SIEBER
          MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

          ANDRÉ DAHMER
          GARFIELD      JIM DAVIS

          JIM DAVIS

          Brasileiro segue otimista com economia

          FOLHA DE SÃO PAULO

          Datafolha mostra que, após um 2012 fraco, 44% acreditam em melhora neste ano, mas com inflação mais alta
          Para 57%, situação econômica pessoal vai progredir; otimismo é menor entre aqueles de maior renda
          PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOO "pibinho" não abalou as expectativas dos brasileiros.
          Apesar do desempenho pífio da economia em 2012, com crescimento que deve ficar abaixo de 1%, quase metade dos brasileiros acredita que a economia do país vai melhorar nos próximos meses.
          Esse otimismo moderado apareceu em pesquisa nacional feita pelo Datafolha em 13 de dezembro, em 160 municípios. Para 44% dos 2.588 entrevistados, a economia vai melhorar; 38% acreditam que ficará como está e 13% acham que vai piorar. Não opinaram 5%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
          Em janeiro de 2012 -antes, portanto, do PIB decepcionante-, a percepção dos brasileiros sobre o futuro da economia era praticamente a mesma: 46% achavam que ia melhorar, 13% apostavam em uma piora e 37% acreditavam que ficaria igual.
          Os brasileiros com renda entre cinco e dez salários mínimos são os mais otimistas: 48% apostam na melhora da economia. Os mais pessimistas são os de maior renda (mais de dez salários mínimos) -16% acreditam que a situação vai piorar. A renda dos 10% mais pobres da população foi a que mais cresceu entre 2001 e 2009.
          SITUAÇÃO PESSOAL
          Os entrevistados se mostram esperançosos quanto à sua situação econômica. A maioria, 57%, acha que sua situação pessoal vai melhorar, enquanto 31% acreditam que ela não vai mudar. Apenas 8% dizem que vai piorar.
          O desemprego tampouco desperta preocupações. A taxa medida pelo IBGE ficou em 4,9% em novembro, a menor para o mês desde 2002.
          Segundo o Datafolha, 33% dos brasileiros acham que o desemprego vai diminuir; 31%, que vai ficar como está, e 33%, que vai subir -resultado semelhante ao da pesquisa de janeiro.
          Mas o brasileiro se mostra mais receoso em relação à inflação, que deve ficar acima do centro da meta de 4,5% em 2012. Segundo última pesquisa do Banco Central de 2012, a estimativa de mercado é que o IPCA feche o ano em 5,71%. Segundo o Datafolha, 44% das pessoas acham que a inflação vai subir; 13%, que vai diminuir, e 37%, que vai ficar como está.

            Empresariado mostra confiança com moderação
            DE SÃO PAULOApesar do fraco crescimento de 2012, grande parte dos empresários e investidores acredita que as medidas de incentivo ao investimento vão finalmente render frutos em 2013.
            O otimismo, no entanto, é moderado: aposta em um avanço do PIB de cerca de 3%, abaixo do "Pibão grandão" almejado pela presidente Dilma Rousseff, que seria de cerca de 4%.
            Mohamed El-Erian, presidente-executivo da Pimco, uma das maiores administradoras de recursos do mundo, com US$ 1,92 trilhão em ativos, projeta um crescimento de 3% para o PIB brasileiro.
            "O crescimento global mais lento e a desaceleração da China tiveram impacto. Esses fatores externos evidenciaram o que ainda precisa ser feito no Brasil em termos de produtividade, como as reformas de segunda geração, muito necessárias", afirmou El-Erian à Folha. "Em 2013, teremos a resposta das medidas monetárias e fiscais adotadas em 2012."
            Armínio Fraga, ex-presidente do BC e fundador da Gávea Investimentos, não arrisca números, mas espera recuperação.
            "Houve estímulo macroeconômico, com corte de juro e alta do câmbio, e o período recessivo deve estar no fim", disse. "Mas falta elevar o investimento e a produtividade, para crescer de forma sustentada."
            Para Jim O'Neill, economista que cunhou o termo Brics, o Brasil sofreu com "a sobrevalorização do real e expectativas irrealistas sobre a contínua alta das commodities".
            "Com a melhora nas condições financeiras e algumas das medidas fiscais, acho que uma expectativa de crescimento entre 3% e 4% é razoável", disse O'Neill, que preside o conselho da Goldman Sachs Administração de Ativos.
            INDÚSTRIA
            A indústria, cuja competitividade foi afetada em 2012, também está moderadamente otimista. "Vamos iniciar o ano com câmbio a R$ 2,10, ante R$ 1,60 em 2012, com Selic a 7,25%, ante 11%, e redução de tarifas de energia. Isso vai melhorar nossa competitividade", afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
            "O ano passado é para esquecer. Nossa receita vai cair de 2% a 3% e muitos dos fabricantes de máquinas se tornaram importadores", disse Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq, associação dos fabricantes de máquinas.
            Segundo ele, a prorrogação de financiamentos do BNDES pode ser um estímulo, mas limitado.
            "Ninguém compra máquina só porque os juros estão negativos. Só vão investir quando tiverem mais segurança de que haverá mercado." Mas ele se diz mais otimista.
            "Estamos trocando uma economia especulativa por uma baseada em produção; isso leva tempo."

              Mercado espera PIB abaixo de 1% em 2012
              DE SÃO PAULOA previsão de analistas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2012 recuou para menos de 1% pela primeira vez.
              A última edição do ano da pesquisa semanal Focus -feita pelo Banco Central com cerca de cem bancos e consultorias -, divulgada ontem, aponta um crescimento de 0,98% em 2012.
              Se confirmado, o resultado será menos de um terço do que esperavam os economistas na virada de 2011 para 2012, quando previam uma expansão de 3,3%.
              A taxa básica de juros também caiu mais -dos 9,5% esperados no início do ano para os atuais 7,25%.
              Em 2012, o BC colocou os juros em baixa recorde e o governo lançou mão de desonerações tributárias. Tudo para evitar o baixo crescimento, mas o resultado não saiu como o esperado.
              "Os juros não conseguiram estimular a economia, os investimentos não vieram", afirma Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citibank.
              Na opinião dele, a transmissão desse estímulo para a atividade foi interrompida, com os bancos menos dispostos a emprestar diante da inadimplência em alta: "O juro baixo é condição necessária para estimular a economia, mas não é suficiente".
              Sem capacidade de competir com importados, a indústria registrou queda da produção -que, segundo analistas, deve recuar 2,31%.
              A crise externa também abalou as expectativas de empresários, que congelaram planos de investimento.
              Para 2013, a expectativa é que o crescimento seja maior que em 2012 (3,3%). Uma das contribuições deve ser a leve melhora da atividade esperada para o quarto trimestre. Se isso ocorrer, ao menos 1,2% de expansão está garantida em 2013.

                Produtos de verão chegam a subir mais que o dobro da inflação no ano

                FOLHA DE SÃO PAULO

                FOCO
                Daniel Marenco/Folhapress
                Josefa Lima Souza, vendedora em Ipanema (RJ), que aumentou o preço da cerveja
                Josefa Lima Souza, vendedora em Ipanema (RJ), que aumentou o preço da cerveja
                PEDRO SOARESDO RIOMais consumidos no verão, produtos como água, refrigerante, cerveja, sorvete e frutas pesaram mais no bolso do consumidor nesta temporada em que as temperaturas batem recordes. Alguns aumentos chegaram a mais que o dobro da inflação média.
                Quem decidiu passar as festas e as férias fora também arcou com uma despesa maior: viagens aéreas e hotéis também subiram acima do IPCA-15 de 2012 -fechado em 15 de dezembro, o índice teve alta de 5,05%.
                Dos itens típicos de verão, o maior reajuste foi o da cerveja nos supermercados: 13,33% no ano. Consumida fora de casa, a "loura" aumentou 12,95%.
                O sorvete aumentou 12,50%. No Rio, bateu em 14,55%. As frutas ficaram 9,28% mais caras. Em Fortaleza, a alta chegou a 23,2%.
                Vendedora da praia de Ipanema há 50 anos, Josefa Souza, a "Didi", 72, cobra R$ 5 pela lata de cerveja em sua barraca. No verão passado, o produto custava R$ 3,50.
                "Já avisei a toda a clientela que ia aumentar o preço. Tudo subiu", diz, reconhecendo que aproveitou também para ganhar mais com a praia cheia.
                IMPOSTOS
                Segundo Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-RJ, a cerveja sofreu com aumento de tributos (para compensar o IPI reduzido de veículos e linha branca), mas, sem dúvida, a demanda aquecida proporcionou reajustes. O mesmo ocorreu, diz, com outros produtos de maior consumo no verão.
                As frutas, afirma, encareceram por causa da estiagem, que reduziu a produção e fez subir preços de alimentos de um modo geral. Já passagens aéreas e hotéis (alta de 7,55% em 2012) aumentaram na esteira de custos maiores (combustível) e procura acirrada, segundo Cunha.
                Já o ar-condicionado e o ventilador tiveram altas inferiores à inflação. O açaí foi o único produto com queda de preço (1,04%), em razão da maior produção.
                Na Grande São Paulo, que não é destino de veraneio, os reajustes foram mais moderados, em sua maioria.

                  Benjamin Steinbruch

                  FOLHA DE SÃO PAULO

                  Feliz 2013
                  O melhor hoje é lembrar as boas notícias de 2012, e não ficar apontando problemas e dificuldades para o ano
                  Tenho a rara oportunidade -e a responsabilidade- de escrever neste espaço em 1º de janeiro. Num dia como esse, não dá para ficar apontando problemas e citando dificuldades que o país vai enfrentar no exercício que se inicia. Afinal, as pessoas só pensam em desejar feliz ano novo e querem passar longe de aborrecimentos.
                  Então, imaginei que a melhor ideia seria lembrar notícias boas, que não deixassem ninguém preocupado nem nervoso com problemas e deficiências a superar.
                  A primeira lembrança que me veio à mente não é de economia nem muito recente, mas de dez anos atrás. Em junho de 2002, a seleção brasileira ganhou sua última Copa do Mundo.
                  Num domingo de manhã, todos acordamos cedo, ligamos a televisão e lavamos a alma de verde-amarelo quando o segundo gol contra a Alemanha, de Ronaldo, garantiu o pentacampeonato. Foi um dia feliz. Esperamos revivê-lo no ano que vem, na Copa do Brasil. O competente Luiz Felipe Scolari vai dirigir a seleção e poderá repetir a proeza.
                  Lembrei-me disso porque uma boa notícia do ano que acabou foi a inauguração dos dois primeiros estádios brasileiros que serão usados na Copa: o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte. Nada mal. Essa conclusão, 18 meses antes da Copa, serve para aplacar críticas de quem sempre diz que o país não tem condição de sediar o megaevento de futebol.
                  Notícia alegre do ano foi também a da menina de sete anos, de Filadélfia, nos EUA, curada de um câncer por meio do uso de vírus HIV deficientes, causadores da Aids. Os médicos programaram geneticamente o vírus, inocularam-no na menina e a doença desapareceu. Um surpreendente resultado, que deixa esperanças sobre a descoberta da cura do câncer, uma das maiores aspirações da humanidade no século 21.
                  Também nos EUA, o brasileiro Alexandre Lopes foi eleito o melhor entre os 180 mil professores da rede estadual de ensino da Flórida e vai concorrer ao título de melhor professor dos EUA. Quem sabe ele possa nos ensinar e inspirar a melhorar a qualidade de nossas escolas públicas e privadas.
                  A população mundial ganhou mais de dez anos de esperança de vida. Em 187 países, os homens tinham expectativa de viver 56,4 anos, em média, em 1970. Hoje, são 67,5 anos. No caso das mulheres, o salto foi de 61,2 anos para 73,3 anos. O brasileiro nasce hoje com a esperança de viver 74 anos e 29 dias, três anos e sete meses a mais do que no ano 2000.
                  Notícia edificante também foi a do morador de rua Rejaniel Jesus dos Santos. Ele e a mulher encontraram um pacote com R$ 20 mil em notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20 e
                  R$ 10. O embrulho estava embaixo do viaduto, ao lado da cama improvisada em que dormiam. Ligaram para o 190 e entregaram o dinheiro à polícia, que o devolveu ao dono, um comerciante de São Paulo. Brasileiros simples e honestíssimos, foram recompensados.
                  O Rio de Janeiro deu continuidade ao projeto de pacificação de favelas, cujo principal objetivo é recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes de drogas e milicianos. No fim do ano passado, 28 favelas haviam sido devolvidas a seus moradores, pacificadas e com segurança pública. Até 2014, o número deve subir para 44.
                  Os juros básicos da economia brasileira fecharam o ano abaixo de dois dígitos. A taxa anual está em 7,25%, dois pontos acima da inflação, e não deve subir neste ano inteiro, segundo as previsões do próprio mercado. Um grande estímulo ao investimento produtivo.
                  O Brasil criou 1,77 milhão de empregos formais de janeiro a novembro do ano que terminou, apesar do fraco crescimento econômico. Nos últimos dez anos, o número de novas vagas atingiu 18,5 milhões. Em novembro, a taxa de desemprego no país era de 4,9%, uma das mais baixas do mundo.
                  É difícil encontrar notícia melhor do que esta última para a economia e o bem-estar do brasileiro. Então, termino com ela, não sem antes observar que, para cada um de nós, a boa notícia é a saúde e a felicidade de nossas famílias e a possibilidade de viver com dignidade, em paz e segurança. Tudo de muito bom a todos. Feliz 2013!

                    John Neschling assume Theatro Municipal

                    folha de são paulo

                    Demitido da Osesp há quatro anos, regente volta a trabalhar com o PT após desentendimentos com o PSDB
                    Maestro foi responsável pela transformação da Osesp no paradigma brasileiro de qualidade na música erudita
                    IRINEU FRANCO PERPETUOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAO maestro carioca John Neschling, 65, vai comandar o Teatro Municipal de São Paulo. Apadrinhado pelo candidato derrotado à prefeitura pelo PMDB, Gabriel Chalita, o nome de Neschling recebeu o aval do prefeito, Fernando Haddad (PT), e do secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira.
                    Em 2010, quando era ministro da Cultura, Juca deu apoio à Companhia Brasileira de Ópera, iniciativa de Neschling que percorreu o país com a ópera "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini.
                    Atualmente ele mora na Suíça e não dirige nenhuma orquestra.
                    PT E PSDB
                    Neschling trabalhou no Municipal em 1989 e 1990, durante a gestão petista de Luiza Erundina.
                    Mas sua grande marca na vida musical da cidade ocorreu entre 1997 a 2009, levando a cabo um vigoroso programa de reformulação que, com apoio político e financeiro de sucessivos governos estaduais tucanos, estabeleceu a Osesp como principal orquestra do país.
                    Durante a gestão de José Serra (PSDB) no governo do Estado, contudo, começou a fritura de Neschling, demitido da orquestra em janeiro de 2009, depois de uma entrevista na qual criticava a Fundação Osesp.
                    Em agosto de 2012, ele retornou à Sala São Paulo para reger um concerto da Orquestra Suíça Italiana. O público recebeu-o com prolongadas ovações e gritos de "volta".
                    Neschling retorna à cidade no momento em que a sinfônica que projetou internacionalmente passa por um momento de crise.
                    Músicos da Osesp estão em conflito com o diretor artístico Arthur Nestrovski desde novembro, quando a revista "Veja São Paulo" publicou uma matéria chamando-o de "motor da orquestra".
                    Não se sabe quanto Neschling, que recebia em torno de R$ 100 mil mensais da Osesp, vai ganhar para dirigir o teatro. Procurado, o maestro não foi encontrado para comentar a nomeação.


                      FRASES
                      "Sim. Mas o que são R$ 100 mil hoje em dia? Não se consegue um regente para vir para cá por menos de 25 mil dólares por semana"
                      JOHN NESCHLING,
                      respondendo à "Veja São Paulo" se seu salário é mesmo de R$ 100 mil, em 2008
                      "O Serra é um menino mimado... Um excelente administrador, mas uma pessoa muito complicada de se lidar"
                      em gravação feita em um ensaio, em 2007, e divulgada pelo YouTube
                      "Estou preocupado com a maneira como a sucessão está sendo feita. E magoado por ter sido excluído do processo"
                      em entrevista que acelerou sua demissão, a "O Estado de S.Paulo", em dezembro de 2008,
                      "Estou chocado"
                      em declaração à Folha, em janeiro de 2009, ao saber da demissão

                      61º prefeito de São Paulo, Haddad assume com impasse sobre inspeção

                      FOLHA DE SÃO PAULO

                      Mudança na vistoria de veículos faz futuro secretário pedir aval do Partido Verde para assumir cargo
                      Petista implanta cinco comitês para gerenciar andamento de projetos; posse ocorre hoje às 15h em evento na Câmara
                      Adriano Vizoni/Folhapress
                      DE SÃO PAULOEleito com 3,4 milhões de votos, Fernando Haddad, 49, assume hoje como o 61º prefeito de São Paulo, tendo como prioridade o enfrentamento de velhos problemas vividos pela população.
                      Entre eles estão enchentes, má qualidade dos serviços na saúde e educação, gargalos no planejamento urbano, falta de moradias no centro e de empregos na periferia e, os mais recentes deles, o fim da cobrança da taxa de inspeção veicular e as mudanças na política de vistoria de veículos.
                      O futuro secretário do Verde e do Meio Ambiente, vereador Ricardo Teixeira (PV), esteve numa reunião com integrantes de seu partido ontem, como antecipou o jornal "O Estado de S. Paulo".
                      Folha apurou que ele mesmo procurou a direção do PV porque ficou desconfortável com a decisão de Haddad de dar fim à inspeção anual -o petista vai flexibilizá-la, tornando-a obrigatória a cada dois anos e só para carros com cinco anos ou mais de uso.
                      O PV é defensor da inspeção como está. A direção do partido, porém, diz que, por ser um convite pessoal, o próprio vereador decidirá se segue ou não no cargo.
                      Segundo a assessoria de Haddad, Teixeira é aguardado na posse e deve assumir. Procurado, ele não retornou às ligações da Folha.
                      FINANÇAS
                      Haddad terá ainda de equalizar a situação financeira da prefeitura, principalmente a dívida com a União.
                      Seus primeiros decretos, que serão publicados amanhã no "Diário Oficial" da cidade, reorganizam as 27 secretarias municipais e criam cinco comitês temáticos destinados a cuidar de projetos comuns de determinada área.
                      Cada comitê terá um gerente de projeto, que fará relatórios trimestrais sobre o estágio de cada atividade.
                      A posse de Haddad será às 15h, na Câmara. Ele e a vice-prefeita Nádia Campeão (PCdoB) serão empossados por Toninho Paiva (PR), 70, o mais velho dos vereadores.
                      Depois, Haddad vai à prefeitura receber o cargo de Kassab. Entre os 1.500 convidados para a cerimônia, está o ex-presidente Lula.

                        Posse de Haddad terá 1.500 convidados, entre eles Lula
                        DE SÃO PAULOA maratona de Fernando Haddad (PT) em seu primeiro dia como prefeito de São Paulo começa hoje às 15h, na Câmara Municipal, quando tomará posse do cargo.
                        Haddad decidiu passar o Réveillon com familiares e amigos e não ir à avenida Paulista, na festa da virada.
                        O prefeito e a vice-prefeita, Nádia Campeão (PC do B), e os 55 vereadores eleitos serão empossados por Toninho Paiva (PR), 70, o mais velho entre os parlamentares.
                        Encerrada a posse, prefeito e vice deixarão a Câmara para se encontrar com Kassab e a ex-vice-prefeita Alda Marco Antonio (PSD) na prefeitura para a transmissão oficial do cargo.
                        Foram convidadas 1.500 pessoas para a cerimônia, no terceiro andar do edifício Matarazzo. O convidado mais ilustre é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho político de Haddad.
                        Os secretários indicados por Haddad também devem participar, com exceção dos cinco vereadores, que continuarão na Câmara para participar da eleição da nova mesa diretora da Casa -José Américo (PT) deve ser eleito presidente, tendo Claudinho de Souza (PSDB) como primeiro secretário.
                        TELÕES E FESTA
                        Foi instalado um enorme toldo em frente à prefeitura, no viaduto do Chá, para os convidados que não conseguirem lugar dentro do prédio. Há, ainda, dois telões -um debaixo do toldo, outro na praça do Patriarca, para que não tiver convite e quiser assistir aos discursos.
                        Após os discursos, Haddad e Nádia receberão os cumprimentos dos convidados.
                        O dia do prefeito não termina aí. Ele desistiu de comemorar a posse em um bar no centro de São Paulo, mas ninguém nega que essa festa, sem hora para acabar, vá acontecer em outro local.

                          FOCO
                          Kassab é o terceiro prefeito a ficar mais tempo no cargo
                          DE SÃO PAULOSeis anos, nove meses e um dia. Esse é o tempo que Gilberto Kassab (PSD) passou à frente da Prefeitura de São Paulo, desde a renúncia de José Serra, em 31 de março de 2006, até hoje, passando pela eleição de 2008.
                          É um recordista, ou quase. No livro recém-lançado "Em Busca da Melhor Cidade", editado pelo PSD, partido do qual é presidente, Kassab recebe o crédito de "prefeito que ficou mais tempo no cargo" na história da cidade.
                          O livro está errado. Sexagésimo prefeito efetivo de São Paulo -desconsiderando intendentes e interinos-, Kassab é o terceiro com mais tempo no cargo.
                          Antonio Prado foi o primeiro prefeito paulistano, nomeado pela Câmara na época. Ficou no cargo 12 anos e 8 dias -de 7 de janeiro de 1899 a 15 de janeiro de 1911.
                          Realizou obras que mudaram a cara do centro. Construiu, por exemplo, a av. Tiradentes, a Pinacoteca do Estado, a estação da Luz e o Theatro Municipal (entregue meses após sua saída).
                          Francisco Prestes Maia é o segundo prefeito mais longevo. Entre 1º de maio de 1938 e 10 de novembro de 1945, ficou sete anos, seis meses e nove dias na prefeitura, nomeado pelo então interventor Adhemar de Barros. Em 1961, desta vez eleito, ficou mais quatro anos no cargo.
                          Prestes Maia pode ser superado por Fernando Haddad (PT) como segundo prefeito com mais tempo ininterrupto no cargo, caso o petista termine dois mandatos. Mesmo assim, no entanto, Prestes Maia ainda manterá o posto de segundo no ranking da prefeitura, somando seus dois períodos.

                            Desafios de Haddad
                            Primeiros dias serão dedicados à prevenção das chuvas e data do reajuste da tarifa de ônibus; só depois entram prioridades da gestão como saúde, emprego e moradia
                            EVANDRO SPINELLIDE SÃO PAULOAdvogado, professor universitário, ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), 49, toma posse hoje, às 15h, como o 61º prefeito da cidade de São Paulo.
                            Eleito com 3,4 milhões de votos, ele terá o desafio de tentar solucionar uma série de problemas que há décadas afligem os moradores da maior metrópole brasileira.
                            Entre as metas estão melhorar o atendimento na saúde e promover mudanças urbanas e econômicas que gerem empregos na periferia e moradia de qualidade no centro, incluindo a aprovação de um novo Plano Diretor, Código de Obras, Lei de Zoneamento e novas operações urbanas.
                            Mas, em seus primeiros dias de despacho no quinto andar do edifício Matarazzo, no centro, Haddad deve colocar em sua agenda dois temas prioritários: a situação financeira da prefeitura e as fortes chuvas que atingem a cidade.
                            ALERTA PARA CHUVAS
                            O prefeito já determinou aos secretários das áreas envolvidas atenção total ao problema. As prioridades são monitorar as áreas de risco -para evitar mortes em alagamentos e deslizamentos- e fiscalizar com rigor o trabalho das empresas de limpeza pública, para garantir que o lixo não entupa as bocas de lobo.
                            Haddad recebe a prefeitura sem grandes preocupações financeiras. Ele tem cerca de R$ 6 bilhões em caixa, sendo R$ 2,5 bilhões comprometidos com despesas já feitas em 2012 e R$ 3,5 bilhões "carimbados" em áreas como saúde, educação e obras de operações urbanas -como o túnel de ligação da av. Roberto Marinho com a rodovia dos Imigrantes, que iniciou efetivamente na semana passada.
                            Para poder cumprir seus compromissos de campanha, ele precisa reduzir gastos e aumentar a receita.
                            Por isso, vai se dedicar nos próximos dias a definir a data em que entrará em vigor o aumento da tarifa de ônibus. Ele disse que não fará reajuste superior à inflação. Como o último reajuste foi há dois anos, a inflação já acumula 11,84%, o que elevaria a tarifa a R$ 3,36, no máximo.
                            O reajuste visa conter o crescimento dos subsídios às viações, que em 2012 atingiram o recorde de R$ 961 milhões. A cada mês sem aumento de tarifa, ele gastará R$ 35 milhões a mais em subsídios. Para 2013, estão previstos R$ 660 milhões.

                              BICICLETAS
                              Cicloativistas marcam ato para a posse
                              Um protesto para cobrar a retomada de um projeto de 2008, que prevê a construção de 142 km de ciclovias permanentes em São Paulo, foi organizado pelo Facebook para ocorrer a partir das 13h, na Câmara, horas antes da posse de Haddad. Ontem, mais de 800 pessoas haviam confirmado presença pelo site.

                                JAIRO MARQUES

                                FOLHA DE SÃO PAULO

                                Reflexões do primeiro dia
                                Começar o ano é como entrar num campo muito fértil para incentivar o desabrochar de novos e esquecidos valores
                                É certo que tentar pensar em algo que não seja a frugal morte da bezerra num momento em que o bucho ainda digere o pernil da ceia de ontem regado a todo tipo de espumante é complexo, mas não há tempo melhor para fechar compromissos consigo mesmo do que o primeiro dia.
                                No primeiro dia de vida, o filho é desenhado pelos pais como meninão forte, bonito e vitorioso que levará ao ápice o orgulho da família com seus gols no futebol ou na disputa quase selvagem para virar um "seu doutor".
                                Mas seria ótimo se todos pudessem assinar também, logo após o tenro momento da existência, um documento na consciência firmando propósito de esforço para que aquele pequeno jamais seja desses que batem em gays pelas ruas, que são desaforados com as diferenças humanas.
                                No primeiro dia da escola, da faculdade, as folhas brancas dos cadernos novinhos guardam a esperança do conhecimento libertador. Projeta-se no futuro como o chefe da firma, como o descobridor da cura de algum mal.
                                Hora ideal para se comprometer a ser um profissional que não faltará aos plantões de final de ano seja qual for o tamanho da comemoração na casa da tia. Há sempre alguém cuja vida depende de serviços fundamentais.
                                E como não achar que o coração, finalmente, irá aportar o medo terrível da solidão ao abraçar e beijar a primeira namorada, ao receber o primeiro "eu te amo" em um romance? Mas relacionar-se implica selar, no mínimo, um pacto de felicidade mútua. Não há sentimento nobre em satisfação de um lado só.
                                Na hora do bem-bom, é salutar entender que sentimento também exige força na tristeza.
                                No primeiro dia após uma perda, é comum redesenhar momentos, pensar naquilo que poderia ter sido se... Mas ainda é impossível apertar o botão de retroagir para a vida, embora ele fosse algo "maraviwonderful" mesmo que pudesse ser acionado apenas uma vez.
                                Como a realidade é inexorável, um caminho que, tenho convicção, leva mais longe é fazer pacto de tentar ser melhor com quem ficou, com o que restou, com a forma que mudou. De cara, a revolta pode até ser legítima, mas é sempre inútil e em nada agrega no porvir, que vai exigir novos começou todos os dias.
                                E, para o apreço das reflexões, a coleção de primeiros dias é extensa. Do diagnóstico terminal, que pode se render ao tempo que ainda existe; da conquista de um campeonato, que abre alas para uma coleção de troféus e para muito mais vibração dos "fiéis".
                                Ainda compõem o rol o do novo emprego, o do desemprego, o das férias, o da posse de algum objeto de muito desejo, que seguramente vai instigar pensamentos a respeito de privilégios.
                                Começar o ano é como entrar em um campo muito fértil para incentivar o desabrochar de novos e esquecidos valores atropelados pelo egoísmo e pelo rame-rame de tocar o barco para a frente.
                                Seguir adiante sem, no mínimo, revisar o rumo, sem reconduzir o olhar para direções inéditas e potencialmente frutíferas para o bem, é perder oportunidade valiosa da aparente pureza energética e límpida que um primeiro dia apresenta.
                                Um ótimo 2013!

                                  Brasileiros acham gene da pantera-negra

                                  folha de são paulo

                                  Alteração de uma única letra química do DNA é suficiente para transformar leopardo "comum" no felino preto
                                  Característica evoluiu várias vezes, de forma independente, nas linhagens de gatos; função ainda é debatida
                                  Gary Whyte/Creative Commons
                                  Pantera-negra (na verdade, uma forma de leopardo) fotografada em parque da África do sul; note as pintas nas ancas
                                  Pantera-negra (na verdade, uma forma de leopardo) fotografada em parque da África do sul; note as pintas nas ancas
                                  REINALDO JOSÉ LOPESEDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”Um dos felinos mais bonitos da Terra acaba de ficar um pouco menos misterioso. Dois cientistas brasileiros, trabalhando com colegas dos EUA e da Rússia, identificaram a mutação que transforma leopardos "comuns" na célebre pantera-negra.
                                  De quebra, os pesquisadores também flagraram a alteração genética responsável por produzir a versão negra de outro felino selvagem, o gato-dourado-asiático.
                                  A descoberta está descrita na revista científica "PLoS ONE". Os autores brasileiros do estudo são Alexsandra Schneider e Eduardo Eizirik, ambos da PUC-RS.
                                  O biólogo da PUC gaúcha conhece como poucos a genética da pelagem dos felinos. Há quase dez anos, ele foi coautor do trabalho que identificou pela primeira vez as mutações que produzem versões pretas do gato doméstico, da onça-pintada e do jaguarundi (espécie que lembra uma versão miniatura da suçuarana, com a qual tem parentesco próximo).
                                  Mas ainda havia (e há) um bocado de trabalho a fazer nessa área, já que as chamadas formas melânicas (ou seja, de pelagem preta) estão registradas para 13 espécies de felinos, sem falar em relatos não documentados sobre tigres negros, por exemplo.
                                  "No caso dos tigres, as fotos que eu vi até hoje não mostram melanismo verdadeiro", contou Eizirik à Folha. "Está mais para variação na largura das listras."
                                  Grosso modo, há dois jeitos principais de criar um felino negro, ambos envolvendo um receptor, ou fechadura química, conhecida como MC1R. É nessa fechadura que se encaixam as moléculas de um hormônio que estimula a produção da eumelanina, o pigmento da cor escura.
                                  Por um lado, se o MC1R ficar hiperativo durante o desenvolvimento do animal, ele pode nascer melânico. Por outro, o receptor pode ser bloqueado por outra molécula, conhecida como ASIP, cuja ação leva à produção de um pigmento de cor clara. Se a ASIP for eliminada, portanto, o bicho também pode acabar ficando escuro.
                                  Ora, o que o novo estudo mostrou, estudando 11 panteras-negras asiáticas, é que o DNA dos gatões tinha uma alteração de uma única "letra" química no gene que contém a receita para a produção da ASIP. Essa letrinha trocada é suficiente para atrapalhar a fabricação da proteína e inutilizá-la.
                                  Resultado: leopardos de pelos pretos -mas só se os bichos carregarem duas cópias do gene alterado. Coisa semelhante, embora não idêntica, ocorre no caso do gato-dourado-asiático.
                                  A questão agora é entender o papel evolutivo da mutação. Eizirik conta que, nas matas da península Malaia (que pega trechos de países como Malásia e Tailândia), as panteras-negras chegam a ser quase 100% da população de leopardos, enquanto são raras na África.
                                  "Pode ser um resultado casual do isolamento dessa população, ou pode ser resultado da seleção natural", diz. Há quem acredite que a cor preta seja mais vantajosa em matas mais fechadas, mas isso ainda não foi confirmado.

                                    MARIA ESTHER MACIEL » Ano novo‏

                                    Estado de Minas:01/01/2013

                                    Mesmo tendo ido dormir depois da meia-noite, Cecília se levantou muito cedo hoje, disposta a aproveitar ao máximo o primeiro dia do ano. Afinal, o mundo não acabou, mais um Natal aconteceu e os planos para 2013 estão mais vivos do que nunca. Resta-lhe, portanto, imaginar possíveis (e impossíveis) formas de felicidade para o ano que se inicia, apesar de saber que as coisas nem sempre acontecem como esperamos. Ainda bem que ela está aberta ao acaso e não teme os acontecimentos imprevistos. Pelo contrário, considera que são eles que dão um tempero especial à vida. 

                                    Cecília, antes de preparar o café, vai até a varanda aguar as plantas, que são muitas. “Nossa, a avenca está linda”, diz para si mesma com ar de surpresa. Olha, então, para o céu e os prédios à sua frente, sentindo uma inexplicável vertigem. Vai até a cozinha, pega as frutas e o queijo na geladeira, põe o pão para aquecer no forno e arruma a mesa do café, usando as xícaras e os pratos brancos que comprou recentemente. “Será que ele vai acordar muito tarde?”, pergunta-se, pensando no marido e olhando para as frutas, com fome. Pega uma maçã e decide esperar o marido pelo tempo que for preciso, pois faz questão de tomar seu primeiro café do ano com ele. Em seguida, liga o som da sala e escolhe um CD de Paulo Moura para dar um ritmo alegre ao dia. Ela sempre gostou de ouvir chorinho, samba e gafieira ao som de clarineta, nos dias felizes. Já nas horas solitárias, prefere um concerto de piano e violino. 

                                    De repente, a imagem de seu pai lhe vem aos olhos. “Se ele ainda estivesse vivo, estaria completando 77 anos hoje”, Cecília pensa, fazendo as contas nos dedos. E passa a rememorar as inúmeras vezes em que foi, no dia 1º de janeiro, às festas que ele oferecia em sua casa, no interior de Minas, as quais começavam na noite de 31 de dezembro e iam até o final da tarde do dia seguinte, com muita comida, bebida, roda de violeiros, grupos de folias de reis e apresentações de congado. Seu pai foi um homem simples e generoso, que dava aos outros o que tinha e o que não tinha. Adorava organizar festas e fazer as pessoas felizes, sem nunca pedir nada em troca. Por isso mesmo era amado e admirado por todo mundo. Pena ter morrido tão cedo, deixando sua filha órfã e seus amigos muito tristes.

                                    Lá fora, um cachorro late e um carro passa, ruidoso. Uma leve brisa chega pela janela. Cecília passa a mão direita nos olhos para afastar as lágrimas incontidas. “Não, não quero chorar hoje, não quero ficar pensando no passado”, diz com firmeza. E para se desviar das lembranças, começa a listar, aleatoriamente, as coisas que pretende fazer ao longo do ano que começa, como cultivar orquídeas e violetas na varanda do apartamento, andar de barca no Rio São Francisco, visitar Paris e Diamantina, voltar ao Vale do Reno, conhecer a Serra do Caparaó, ler todos os romances de Javier Marías, retomar as aulas de dança clássica, comprar uma nova adega de vinhos, jogar fora todos os papeis inúteis das gavetas e rever todos os filmes de Wim Wenders. “Será que vou conseguir cumprir a lista inteira?”, pergunta-se. Mas prefere acreditar que vai dar conta de quase tudo, mesmo com o acaso e os imprevistos.

                                    O mundo em 2013

                                    FOLHA DE SÃO PAULO

                                    Enquete com 25 colunistas, correspondentes e colaboradores da Folha aponta os fatos que devem marcar o cenário internacional neste ano
                                    folha.com.br/123661

                                    OS PARTICIPANTES
                                    Abraham Lowenthal, professor emérito da Universidade do Sul da Califórnia (EUA) e pesquisador da Brookings Institution
                                    Alex Keyssar, professor de história e política social na Universidade Harvard (EUA)
                                    Alexandre Vidal Porto, escritor e diplomata, colunista da Folha
                                    Bernardo Mello Franco, correspondente da Folha em Londres
                                    Carlos Eduardo Lins da Silva, editor da revista "Política Externa", e ex-correspondente da Folha emWashington
                                    Claudia Antunes, editora da revista "piauí", ex-editora de "Mundo"
                                    Clóvis Rossi, colunista da Folha
                                    Elena Lazarou, professora e pesquisadora do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas
                                    Fabiano Maisonnave, ex-correspondente da Folha em Caracas e Pequim
                                    Fábio Zanini, editor de "Mundo"
                                    Fernanda Ezabella, correspondente da Folha em Los Angeles
                                    Igor Gielow, secretário de Redação da Sucursal de Brasília da Folha
                                    Julia Sweig, diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations e colunista da Folha
                                    Luciana Coelho, correspondente da Folha em Washington
                                    Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda e colunista da Folha
                                    Marcelo Ninio, correspondente da Folha em Jerusalém
                                    Marcos Caramuru de Paiva, ex-embaixador na Malásia, ex-diretor do Banco Mundial e colunista da Folha
                                    Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas e colunista da Folha
                                    Minxin Pei, professor de administração pública no Claremont McKenna College (EUA)
                                    Moisés Naím, associado-sênior do Instituto Carnegie para a Paz Internacional e colunista da Folha
                                    Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha
                                    Raul Juste Lores, correspondente da Folha em Nova York
                                    Salem Nasser, coordenador do Centro de Direito Global da Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas
                                    Samy Adghirni, correspondente da Folha em Teerã
                                    Sylvia Colombo, correspondente da Folha em Buenos Aires