segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As moradas da canção [Mayra Andrade] - Eduardo Tristão Girão


A cantora Mayra Andrade lança Lovely difficult, trabalho com tempero cabo-verdiano e aberto a influências do pop e da world music. CD tem faixas cantadas em quatro idiomas

Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 23/12/2013 


A música popular brasileira se mantém como uma das referências do estilo de Mayra Andrade

 (Youri Lenquette/Divulgação)
A música popular brasileira se mantém como uma das referências do estilo de Mayra Andrade


Sem prestar tributo às mornas e coladeras, sem cantar só em crioulo cabo-verdiano e esquivando-se do fardo de sucessora de Cesaria Evora, a cantora Mayra Andrade chega ao quarto disco, Lovely difficult (Sony Music/Columbia). Um trabalho no qual a artista, nascida em Cuba e criada em Cabo Verde, se distancia do namoro com a música brasileira (como em seu último disco de inéditas, Stória, stória, de 2009) para criar linguagem pop um tanto mais universal, sem deixar de lado, claro, algum tempero world music.

Para auxiliá-la na tarefa, chamou o produtor Mike Pelanconi (também conhecido como Prince Fatty), que já trabalhou com artistas como Lily Allen, Gregory Isaacs e Graham Coxon (guitarrista do Blur). Quase todas as 13 faixas foram gravadas em Brighton, na Inglaterra. Mayra, que já morou em vários países e hoje reside em Paris, cantou neste novo álbum em quatro línguas: crioulo cabo-verdiano, português, francês e inglês.

Apesar de cantada na língua de Cabo Verde, Ténpu ki bai, faixa que abre o álbum, pode causar alguma estranheza aos que esperam a típica sonoridade atlântica do arquipélago africano em função da levada pop, pontuada pela guitarra. O mesmo vale para a canção seguinte, We used to call it love, obviamente em inglês, mas com andamento mais para o pop francês atual. Build it up já remete, por sua vez, ao que faz a nova leva de cantoras brasileiras por aqui.

Sopro cabo-verdiano só vai aparecer na quarta música, Ilha de Santiago, com versos em crioulo local e o cavaquinho característico de lá a executar ritmo que tem algo da morna – uma interessante releitura desse ritmo que é automaticamente associado a Cesaria Evora. Algo semelhante é feito em A-mi n kre-u txeu e, de forma mais discreta (a proximidade do reggae fica considerável) em Rosa e Les mots d’amour. Já o tempero caribenho de Téra lonji faz desta uma das canções mais gostosas de se ouvir do disco.

Ecletismo


Resumindo, sair do quintal fez bem a Mayra, que entregou um disco bom de ouvir, com algum ecletismo e diferente dos que já havia posto na praça, mantendo conexão com Cabo Verde, que é seu trunfo inegável. Assinando com parceiros várias das 13 canções que integram o álbum, ela mostra que tem condições de seguir surpreendendo o ouvinte.

Ainda que a sonoridade atual não esteja tão próxima do Brasil como antes, os brasileiros não deixaram de estar presentes em Lovely difficult. Além de figurar nos agradecimentos (as cantoras Márcia Castro e Mariana Aydar, entre outros), participaram de algumas faixas, a exemplo de Jaques Morelenbaum (violoncelo em Meu farol) e Zé Luís Nascimento, percussionista que a acompanha desde trabalhos anteriores.

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