quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"Alckmin busca dividendo político com ameaça do PCC"

Por Vandson Lima e Fernando Taquari | De São Paulo

Valor Econômico - 31/10/2013
Em sua primeira grande entrevista desde que deixou o cargo de secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, há um ano, Antônio Ferreira Pinto diz que o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), busca lucrar politicamente com supostas ameaças de morte feitas por integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), captadas em escutas policiais. "Ele está aproveitando para colher dividendos políticos".
O ex-secretário, demitido quando da subida dos índices de violência, no ano passado, diz que essas escutas, nas quais um integrante da facção fala em "decretar" o governador, são conhecidas da cúpula da segurança pública desde 2011 e não tem credibilidade alguma. "A informação é importante desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham". Entre os que estavam sabendo disso há pelo menos dois anos, diz Ferreira Pinto, está o atual secretário de Segurança, Fernando Grella, então procurador-geral.
"Lamentável. [O governador] deve ter suas razões. Eu acho que é mais pelo viés político. Porque na hora que diz 'Não vou me intimidar', ele está também dando um 'upgrade' para a facção". Questionados, o secretário e o governador não quiseram se manifestar sobre as declarações.


O ex-secretário, que trabalhou em cargos diversos com todos os governadores de São Paulo nas últimas duas décadas - Luiz Antônio Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin, Alberto Goldman, Cláudio Lembo e José Serra - vê neste último o melhor gestor com quem trabalhou. Nas entrelinhas, dá a entender que Alckmin nunca lhe deu a autonomia necessária ao cargo.
Sobre a atual gestão da segurança, diz que faltou uma ação mais coerente da PM nos protestos, o que ocorre, em sua visão, por falha no alto comando. Diz também que seu legado está sendo desfeito pelo atual secretário.
Ferreira Pinto acabou de completar 70 anos. Recém-filiado ao PMDB por influência de Fleury, que conhece desde os tempos de academia militar, e Skaf, já que está prestando consultoria em segurança pública para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ele deve concorrer a uma cadeira de deputado federal em 2014. A seguir, alguns trechos da conversa exclusiva com o Valor:
Valor: O Ministério Público Estadual concluiu um mapeamento do crime organizado no país que mostrou o tamanho e poder do PCC. Quando secretário, o senhor disse que a organização não tinha mais que 30 integrantes. Errou?
Antônio Ferreira Pinto: Essa apuração evidenciou exatamente aquilo que venho afirmando sempre. A facção se compõe de uma liderança de 30 a 35 elementos. Tanto é assim que o MP pediu a internação de 32 presos no Regime Disciplinar Diferenciado. Os demais, que eles arregimentam na rua, apenas cumprem ordens e têm papéis absolutamente subalternos.
Valor: Por que a investigação apareceu agora?
Ferreira Pinto: As escutas começaram em 2006. Ao longo dos anos resultaram em 86 volumes de documentos e mais 800 apensos só de escutas.
Valor: Então o senhor tinha domínio dessas escutas?
Ferreira Pinto: Depois que eu saí, um jornal de grande circulação publicou que o secretário [Fernando Grella] desativava uma central clandestina de telefones. É uma inverdade tão grande que eu lamento que o secretário não tenha colocado as coisas no devido lugar. Ele era o procurador-geral de Justiça. Ele foi três vezes lá cumprimentar o pessoal que fazia as escutas. E ele não veio a público dizer, inclusive, que essa escuta tinha como principal protagonista o próprio Ministério Público. Porque era ele que fazia.
Valor: Grella conhecia essa investigação a fundo?
Ferreira Pinto: Por uma ironia do destino, aquele que era o responsável maior, como procurador-geral, acabava de assumir o cargo de secretário de Segurança Pública. Ele tinha obrigação de vir a público e dizer que a escuta não era ilegal e que ele tinha plena ciência, tanto que foi lá três vezes cumprimentar o pessoal pelo trabalho desenvolvido. Como eu, o procurador também tinha conhecimento desses fatos.
Valor: Como viu a ameaça de morte ao governador?
Ferreira Pinto: Veja, um deles, que é proeminente da facção [refere-se a Marcola, líder do PCC], disse que a facção diminuiu a taxa de homicídios. Isso é fanfarronice. Foi assim que o governo classificou, e está certo. Agora, quando um outro preso disse que ia "decretar", que na gíria significa que vai matar o governador, não é fanfarronice? Foi no mesmo contexto, em 2011. Aí vem o governo e diz "Não vou me intimidar". Ele está aproveitando para colher dividendos políticos.
Valor: O governador tinha ciência dessa escuta?
Ferreira Pinto: Não. Esse fato não tinha credibilidade nenhuma. A informação é importante desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham. Tanto que o promotor passou ao largo delas. Eu não vejo uma coerência aí de alguém que exerce um cargo público da relevância que é a segurança de São Paulo.

"Ora a polícia age com muita violência, ora deixa os manifestantes depredarem, há um problema de comando"



Valor: O senhor sabia que esse tipo de coisa tinha sido gravada?
Ferreira Pinto: Eu tinha plena ciência disso. Não tem credibilidade alguma. Lamentável. [O governador] deve ter suas razões. Eu acho que é mais pelo viés político. Porque na hora que diz "Não vou me intimidar", ele está também dando um "upgrade" para a facção. Está admitindo que há credibilidade numa conversa isolada. Seria um argumento de ouro se o MP tivesse uma interceptação ou gravação em que realmente o governador estivesse sendo ameaçado de morte. Seria o principal argumento que ele usaria para pedir o RDD para os 32. O MP não usou porque analisou e viu que era uma declaração irresponsável. É como alguém dizer aqui, "Ah, vou matar o Obama".
Valor: Então em 2011 o senhor sabia das escutas, o Grella sabia e ninguém levou a sério?
Ferreira Pinto: Comecei a trabalhar com o sistema penitenciário em 1993. Conheço muito bem o sistema, a postura do preso e o que deve ou não ter credibilidade. Não há como levar a sério uma alegação de um indivíduo que está dentro da cela, que fala o que bem entende e até, muitas vezes, sabe que está sendo escutado.
Valor: Qual a sua avaliação do PCC hoje?
Ferreira Pinto: Tudo se atribui ao PCC. Basta ter um pouco mais de audácia ou violência que se fala que é o PCC. Um indivíduo, quando quer se impor na periferia fala que é do PCC. O PCC é uma grande franquia. Se essa facção precisasse de uma empresa de marketing, não gastaria um tostão.
Valor: Alguns cientistas políticos acreditam haver uma espécie de "pax mafiosa", com o PCC dominando certas atividades criminosas. Como não há disputa por territórios, o número de homicídios cai.
Ferreira Pinto: Isso não tem sentido nenhum. Aliás, eles não tem comprometimento de diminuir a criminalidade, ao contrário.
Valor: O episódio com o PCC pode beneficiar o governador eleitoralmente?
Ferreira Pinto: Eu nunca fui político, qualquer manifestação nesse sentido vai parecer um ressentimento porque deixei de trabalhar com ele. O que não é. Me recolhi durante um ano. Mês que vem vai fazer um ano que eu saí. Eu não dei entrevista até agora.
Valor: É a primeira vez que o senhor fala da sua saída da secretaria. Como avalia o que ocorreu?
Ferreira Pinto: Evidentemente fui um secretário que fui muito contundente com a corrupção. Transferi a corregedoria da Polícia Civil para o meu gabinete. Vários policiais civis e militares foram demitidos. Contrariei interesses ao longo desse período. Durante o tempo em que fui secretário ninguém loteou distrito policial, seccional de polícia ou uma diretoria. Sempre foi escolha minha segundo os meus critérios, expurgando qualquer critério político, qualquer pedido.
Valor: O senhor recebeu esse tipo de pedido, de indicação?
Ferreira Pinto: Comigo não houve porque eu tinha uma postura bem clara desde o início. Mas a gente sabe que historicamente há muita influência política na nomeação de cargos.
Valor: Se sentiu injustiçado?
Ferreira Pinto: Não, eu sempre trabalhei como se fosse o último dia desde que assumi a secretaria. É um cargo instável, ao sabor dos acontecimentos e das crises. Além disso, nessa quadra da vida não tinha nenhuma ilusão de que iria ficar lá muito tempo. Tinha plena ciência de que havia pressões. Isso a gente notava.
Valor: De onde?
Ferreira Pinto: As pressões existiam, mas não eram em cima de mim. Em outros segmentos devem ter ocorrido pressões e alguns interesses eram contrariados.
Valor: Mas por que o senhor não foi bancado pelo governo?
Ferreira Pinto: Nessa função a tabela é de ponto perdido, não de ponto ganho. O que você fizer de bom é obrigação. Os desafios na segurança são muito grandes. Você nunca consegue o seu objetivo. Agora, o governador entendeu que tinha que mudar, eu respeito. O cargo é dele, mas eu também não me iludo. Ele me manteve pela minha performance anterior. Não foi por lobby. Ele entendeu que politicamente deveria me convidar para permanecer. Não era uma escolha pessoal.
Valor: Como o senhor avalia as ações atuais na área de segurança?
Ferreira Pinto: A gente vê que a crise é muito grande. Fica difícil eu fazer uma crítica à política de segurança de São Paulo. Só constato com tristeza que muita coisa que foi feita em três anos e nove meses acabou sendo desfeita em quatro ou cinco meses.
Valor: Como o quê?
Ferreira Pinto: Veja bem, a Polícia Civil de São Paulo tinha um modelo de atendimento ao público de 40 anos. Era um balcão de atendimento. Ela não tinha estrutura para fazer a parte de investigação e de atendimento. Esse modelo foi modificado após um estudo. Nós criamos 11 centrais de flagrantes. Elas faziam com que os demais distritos pudessem dar tratamento mais célere para quem vai comunicar um roubo de um celular, por exemplo. Economizava duas horas. Foi um grande avanço. Em uma entrevista, o atual secretário disse que foi uma medida ruim feita por mim, pois teria aumentado os latrocínios. Ele disse que já havia corrigido isso aumentando as centrais de 11 para 28. Ora, se era ruim por que aumentou? É uma incoerência grande. Essas colocações mostram que não houve continuidade administrativa na secretaria. Não estou criticando. É uma constatação.
Valor: Alckmin concordou com esse modelo?
Ferreira Pinto: O governador foi às 11 inaugurações. Foi feito atendendo a um pedido dele. Na primeira semana de governo, falou que queria um outro modelo de atendimento. E estava coberto de razão. Se você é maltratado e toma um chá de banco para fazer uma ocorrência, você não volta. Aí, criminalidade diminui. Quando instituímos essas centrais sabíamos que as notificações iam aumentar, logo, que os índices criminais também. Mas a minha administração não trabalhou ao sabor de índices criminais.

"Na hora em que [o governador] diz 'Não vou me intimidar', ele está também dando um 'upgrade' para a facção"



Valor: A atual secretaria trabalha ao sabor dos índices?
Ferreira Pinto: Há uma série de incoerências que lamentamos.
Valor: Qual a sua avaliação sobre a condução da polícia durante as manifestações?
Ferreira Pinto: Fica difícil fazer uma avaliação do meu sucessor por questão de ética. É uma coisa nova. Portanto, é natural que a secretaria estivesse desarmada para enfrentar situações como essa. Mas se ora a polícia age com muita violência, ora deixa os manifestantes queimarem coisas e depredar o patrimônio, há um problema de comando.
Valor: O senhor parece ter algum rancor com a demissão.
Ferreira Pinto: Tenho uma honra muito grande em ter trabalhado com os governadores com que eu trabalhei. Dentre eles eu destaco sem sombra de dúvida o professor Lembo, o Goldman e o José Serra. São três governadores que me deram todo ao apoio. Sou suspeito para falar do Fleury. E com o Covas eu trabalhei muito pouco. É por isso que dou ênfase ao trabalho do Serra. Como seu secretário, foi um período muito bom, com total apoio. É muito confortável trabalhar com ele.
Valor: E com Alckmin?
Ferreira Pinto: Com o governador Alckmin nossa relação sempre foi absolutamente formal.
Valor: Como a polícia vê o governador Alckmin?
Ferreira Pinto: Essa é uma questão polêmica. Não vou falar porque acho que minhas palavras podem ser distorcidas. Peço para não emitir meu juízo de valor a respeito disso. Mas a segurança é uma área técnica e difícil. Seu titular está sempre a título precário. Mas não pode ser utilizada como instrumento de política partidária. Tem que ser um órgão eminentemente técnico.
Valor: Sua saída foi traumática?
Ferreira Pinto: A minha saída não foi traumática. Já sentia que iria sair.
Valor: Como um secretário sente que vai sair?
Ferreira Pinto: Ele [Alckmin] pediu que o chefe da Casa Civil conversasse comigo. Era o Sidney Beraldo [hoje conselheiro do Estado]. Quando o Beraldo veio, me ligou, "Olha, dá para conversar com você..." Ele sempre dizia o assunto antes. Quando pediu para passar no fim da tarde no gabinete, eu fui, ele coçou a cabeça, aí falei, "Beraldo, vou facilitar para você, meu cargo está à disposição". Fomos lá conversar com o governador. Não coloquei nenhum empecilho. A conversa não demorou dez minutos.
Valor: O senhor havia levado um protegido seu, o Coronel Telhada, hoje vereador, para o PSDB.
Ferreira Pinto: Entendi que ele era um nome forte eleitoralmente. Quem levou o Telhada para a Rota também fui eu, a despeito de uns problemas que existiam dentro da própria Polícia Militar.
Valor: Que tipo de problema?
Ferreira Pinto: Ele tinha várias ocorrências de resistências [seguidas de morte]. Mas todas elas no estrito cumprimento do dever legal. Ele fez um trabalho muito bom. A Rota apreendeu nos meus dois últimos anos mais de R$ 2 milhões em dinheiro vivo. Isso deu muita visibilidade ao Telhada. Na ocasião, achava que ele deveria se filiar ao PSDB. O Serra era candidato [a prefeito]. Telhada foi eleito com 89 mil votos. Não teve ajuda nenhuma do partido. Nem na parte financeira e nem em horário gratuito na televisão. O Telhada pensou seriamente em sair do PSDB, porque ele fica sem discurso pela forma que está sendo tratada, na visão dele, a secretaria de Segurança Pública. Depois houve uma recomposição e ele permaneceu.
Valor: O senhor recebeu convites para se filiar?
Ferreira Pinto: Vários convites, do próprio PSDB, do PSD e do PMDB. E por uma questão de coerência, já que estou trabalhando na Fiesp, me filiei ao partido no qual Paulo Skaf será candidato.
Valor: O senhor está ajudando o Paulo Skaf a montar um programa de governo na área de segurança?
Ferreira Pinto: Estou ali assessorando na Fiesp na área de segurança. Não tem especificamente uma atividade de elaborar plano de segurança para candidato. Pode ser que eventualmente no futuro possamos conversar a respeito.
Valor: Seria candidato a quê?
Ferreira Pinto: Deputado federal. Apesar de ter 70 anos, tenho muita garra. A única coisa que me motiva um pouco é voltar a ter voz. Tenho bom relacionamento nas polícias militar e civil. É evidente que aqueles a quem eu desagradei são meus desafetos. Isso é normal. Eu, como secretário, não passei vontade. Não comi pelas mãos de ninguém. Não fiz média com ninguém e ainda durei três anos e nove meses.
Valor: Com que plataforma se candidataria?
Ferreira Pinto: Tenho várias bandeiras de combate à corrupção. Reformular algumas lacunas da lei. No caso das manifestações, por exemplo, se a conduta é potencialmente ofensiva e você vai criminalizar essa conduta, dá três meses a um ano de pena. Crimes cometidos em multidão realmente são difíceis de individualizar e ter condições de manter a prisão com embasamento legal. Formação de quadrilha, por exemplo, precisa caracterizar a habitualidade dessa atividade. Corrigir essas distorções legislativas com relação ao exame criminológico, tipificar melhor o crime de introdução de celulares em presídios, ter uma corregedoria mais forte, um órgão de nível nacional para coordenar o combate à corrupção institucional.
Valor: Não há possibilidade de o senhor voltar para secretaria de Segurança em uma gestão Skaf?
Ferreira Pinto: Isso eu assino embaixo. Jamais voltarei a ser secretário da Segurança. [Irônico] Isso causa muita atribulação aos meus desafetos. Até para tranquilizá-los, não tenho a mínima pretensão em ser secretário.




MARTHA MEDEIROS - Meus favoritos

Zero Hora - 30/10/2013

Estarei fora de Porto Alegre durante todo o período da Feira do Livro, mas para não me sentir totalmente afastada do evento, deixo aqui minha seleção de favoritos do ano, advertindo que nunca li tão pouco como em 2013, portanto, muita coisa boa ficou de fora. Um toque: antes de adquirir algum livro citado, dê uma folheada e leia a orelha – você sabe, gosto é gosto.

Melhor livro que daria um ótimo filme: Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera. Foi lançado no verão passado e ainda não saiu da minha cabeça.

Melhor livro que virou filme: Eu e Você, de Niccolò Ammaniti. Estreará em novembro, com direção de Bernardo Bertolucci.

Melhor livro de crônicas: Um Operário em Férias, de Cristóvão Tezza, um autor que circula com desenvoltura por todos os gêneros e merece o título de um dos maiores escritores em atividade.

Melhor livro que encerra a discussão sobre a diferença entre literatura masculina e feminina: o excelente Partir, da carioca Paula Parisot. É um road book: um homem vive uma série de experiências na estrada, ao deixar São Paulo rumo ao Alasca – pois é, logo ali, o Alasca. Escrevendo na primeira pessoa, Paula dá vida a um cara convincente, que em nenhum momento é traído pela feminilidade da mulher que o inventou.

Melhor livro de esposa de autor consagrado: O Verão sem Homens, de Siri Hustvedt, que vem a ser a senhora Paul Auster.

Melhor romance: Philip Roth, sempre ele, com seu magnífico O Professor do Desejo.

Melhor livro de bolso: Carta ao meu Juiz, de George Simenon.

Melhor livro que reli: O Apanhador no Campo de Centeio, que virou musical em cartaz atualmente em Porto Alegre. Mais um exemplo do amadurecimento do nosso teatro. Direção, coreografia, elenco, adaptação – a turma arrasa, e ainda tem as canções especialmente compostas para a peça pelo Thedy Corrêa. Assista logo, a temporada está quase acabando. É imperdível.

Melhor livro experimental, o que for que isso signifique: Miranda July com seu interessante O Escolhido foi Você.

Melhor livro divertido e com ótimos diálogos: O Substituto, de David Nicholls.

Melhor livro lançado em 1923, mas que só fui ler agora: A Consciência de Zeno, de Italo Svevo.

Melhor livro gaúcho: bom, em terra de Fabrício Carpinejar, Cíntia Moscovich, Leticia Wierzchovski, Paula Taitelbaum, dos veteranos Armindo Trevisan, Verissimo, Lya Luft, Assis Brasil, do patrono Luis Augusto Fischer, dos jornalistas David Coimbra, Mariana Kalil, Cláudia Laitano, do médico e colunista J.J. Camargo e de tantos outros talentos com livro na praça, não me atreverei a escolher um só. Mas o prêmio de mais hilariante relato sobre a praga que é telefonar para os serviços de atendimento ao consumidor vai para o conto “Hormônio do Demônio II”, que está em Sangue Quente, de Claudia Tajes.

Como se vê, tem para todos os gostos, inclusive (espero) para o seu.

Boa Feira!

Marina Colasanti-Em Cuba, três olhares‏

Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com


Estado de Minas: 31/10/2013 


Estive em Cuba três vezes e cada vez encontrei um sentido diferente no olhar dos cubanos. Acabo de regressar da terceira viagem.

Era janeiro de 1987 quando cheguei à ilha pela primeira vez, jurada do Prêmio Casa de Las Américas, emocionada como convinha aos da minha geração. O bloco soviético ainda existia e tudo o que nos chegava às mãos vinha de lá. O suco podia ser húngaro, o bombom polonês, o vinho iugoslavo e os veículos mais novos eram russos. O hotel à beira-mar conservava a decoração dos tempos de Batista, jarrões de gesso branco e escadarias, como um musical de Esther Williams, mas decadente, e compartilhavam-se os quartos.

Para que pudéssemos ler com calma os muitos originais inscritos, nos levaram ao interior, província de Santo Espírito. Fomos recebidos na associação de escritores, conversamos com moradores locais, com camponeses, visitamos a escola de cinema de Santo Antonio de Los Baños. Tudo era entusiasmo. A revolução continuava empolgando, os retratos dos seus heróis viam-se por toda parte em painéis gigantescos. Em La Habana, tomava-se sorvete da Copelia em prato fundo, comiam-se pelas ruas enormes fatias de torta. Os slogans revolucionários pintados nas paredes continuavam fazendo sentido, e os cubanos olhavam o presente sem tirar o olhar do retrovisor. Todas as referências eram “antes” e “depois”, como em um comercial de xampu.

Só voltei em 2007, convidada do congresso internacional Lectura, organizado pela valente cubana Emilia Gallego. O hotel era outro, o Habana Libre, a decoração também era outra. E outra era a cidade. Os produtos do bloco soviético haviam desaparecido, sem que outros ocupassem seu lugar. Os carros eram obras do talento local, infinitas vezes recompostos, desamassados, repintados, carros únicos, que os turistas ainda pouco numerosos gostavam de fotografar. O leite havia sido reservado para as crianças, os sorvetes estavam suspensos. Agora, nas ruas, nos pediam canetas. Havia permissão para abrir mínimos restaurantes domésticos, chamados Paladar, e já se transgredia a limitação imposta ao número de mesas. Algumas fachadas em Habana Vieja estavam restauradas, só as fachadas, o resto ameaçava desabar.

O olhar dos cubanos havia trocado o orgulho pela crítica. Abandonado o retrovisor, centrava-se no presente e olhava o mundo.

E voltei agora, para nova edição do mesmo congresso. O mesmo hotel, administrado por rede internacional. Alguns prédios novos, pouquíssimos. Habana Vieja com ruas inteiras restauradas, a imponente arquitetura colonial espanhola iluminada à noite para deleite dos muitos turistas. Carros novos, japoneses e franceses, mais numerosos até do que os antigos calhambeques. Muitos táxis, muitos e bons restaurantes. Vi uma loja de objetos para casa, padrão internacional; entrei em outra, de roupas artesanais. Mas isso tudo é só para os turistas, inalcançável para os salários locais. Disseram-me que há um shopping em bairro popular, apinhado de cubanos. Não soube a tempo, não fui.

O olhar, agora, volta-se para o futuro. Através dos turistas que chegam, os cubanos veem o resto do mundo e querem mais. Os rostos dos heróis já não estão em toda parte. E o antigo slogan “Aqui ninguém se rende” foi pintado por mão alegre no muro do cemitério.

TEREZA CRUVINEL » No centro da pauta‏

TEREZA CRUVINEL » No centro da pauta 

A festa do Bolsa-Família tem um tom de desforra. Entende-se a mágoa mas também a aposta de um governo com magros resultados econômicos no indiscutível saldo social 

Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 31/10/2013


O grito de guerra amplificou-se ontem com a festa do governo pelos 10 anos do Bolsa-Família. E o tom dos discursos foi de desforra contra todos aqueles que atacaram o programa nos primeiro tempos, chamando-o inclusive de “bolsa-esmola”. Quem tem memória sabe que houve mesmo uma estigmatização para desacreditá-lo. Nas falas de Lula e Dilma, sobrou para a imprensa, adversários políticos e cientistas sociais. Entende-se a mágoa mas também a aposta de um governo com magros resultados econômicos no indiscutível saldo social. Um outro discurso também parece estar sendo gestado para deixar em segundo plano o debate econômico: “Temos que debater a política. A campanha não pode ficar só no economês”, disse Lula anteontem em almoço com senadores.

A oposição já entendeu que, lá adiante, PT, Dilma e Lula denunciarão o risco de o programa ser extinto ou reduzido por outros governos. No segundo turno de 2006, o que ajudou Lula a virar o jogo foi uma feroz advertência sobre a volta das privatizações tucanas se o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ganhasse. Mas agora, depois do leilão de Libra, vai aposentar o tema. O presidenciável e presidente do PSDB, Aécio Neves, reagiu com a proposta de incluir o Bolsa-Família na Lei Orgânica da Assistência Social, a Loas, “para acabar de uma vez por todas com a utilização eleitoreira e criminosa do programa em determinados momentos”. A Loas banca os Benefícios de Prestação Continuada (BPC), como o salário mínimo vitalício para idosos e deficientes sem renda. Com a alta exclusão previdenciária, a Loas um dia talvez nem mais possa pagar os BPC a tantos idosos sem aposentadoria. Se o que o governo quer é colocar o tema no centro da agenda, a oposição está ajudando.

É verdade que hoje, passados os tempos críticos, é fácil defender o Bolsa-Família, como disse a ministra Teresa Campelo. Há estudos e estatísticas – que ela fez jorrar aos borbotões – comprovando a eficácia do programa, que alcança 50 milhões de pessoas, transferindo em média R$ 152 a 13,8 milhões de famílias a um custo anual de R$ 24 bilhões. Não faltou sequer, na festa, a presença de uma autoridade estrangeira: Errol Frank, presidente da Associação Internacional de Seguridade Social, a Issa, que há 15 dias concedeu ao programa o seu grande prêmio, algo como um Nobel das políticas sociais. Discursando em inglês, ele enalteceu a contribuição do Bolsa-Família para a redução da desigualdade brasileira e a inspiração para outros países. Não faltaram também quatro mulheres do povo, que deixaram de receber a bolsa depois que encontraram a famosa porta de saída em cursos de profissionalização. Pelo visto, foram garimpadas com peneira fina.
Os resultados e o reconhecimento fazem reféns os candidatos de oposição. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, defende sua continuidade (com mais educação, mais isso e aquilo), e Aécio Neves reivindica o DNA tucano da atual rede de proteção social, tecida inicialmente no governo FHC. Dilma tratou ontem de refutá-lo: “Mudamos não só a política (social), mas a forma de fazer a política. Passamos a fazer transferência de renda direta, bem na veia dos mais pobres, varrendo as políticas clientelistas centenárias”. Para ela, o cartão magnético suprimiu o assistencialismo anterior, que aparecia perto das eleições. Mas foi Lula o mais incisivo na “revanche verbal”, lendo manchetes e citando artigos contra o programa, quando começou a ser implantado, em seu governo. Tudo na linha “Lula fez, Dilma manteve e precisa ser reeleita para manter”.

Esse discurso pega. Hoje, nenhum governo conseguiria acabar com o programa. Bem mais complicado será impor à campanha o “debate da política”, bandeira que a dupla Eduardo Campos-Marina Silva levantou primeiro, embora sem dizer exatamente como funcionaria a tal “nova política” dentro do “velho sistema”. Lula prega a reforma política mas não explica como é que um Congresso em que o governo tem ampla maioria sepultou todas as propostas, nos 10 anos de PT no poder, inclusive o plebiscito sugerido por Dilma.

Biografias: palavra de além-mar

Não vi recuo, apenas maior clareza, no vídeo dos artistas do Procure Saber sobre a que aspiram em relação às biografias. Essencialmente, preservar o recôndito, o íntimo, em alguns casos a dor.

A propósito, uma palavra de longe. O escritor e jornalista português Miguel Sousa Tavares, apaixonado pelo Brasil, seu povo e sua cultura, acompanha o debate brasileiro. Em entrevista que o Correio Braziliense publica hoje no caderno Diversão e Arte, sobre seu novo romance, ele falou também sobre o tema. Como ele frequenta agora mais o noticiário político que o cultural, trouxemos essa resposta para a coluna. Diz ele: “Tenho seguido a polêmica mas, como sou também advogado, precisaria conhecer melhor a lei civil brasileira. Não é o caso. Mas a questão é transnacional e, a meu ver, não é tão simples de se resolver. Compreendo e sou sensível aos problemas que tal impedimento legal coloca para quem escreve biografias não autorizadas – que são as únicas interessantes, embora não necessariamente confiáveis. Mas também compreendo, até por experiência própria, o valor da privacidade. A Constituição portuguesa, por exemplo, estabelece que ‘todos têm direito à intimidade da sua vida privada’. Diz ‘todos’. Não diz ‘todos, menos as figuras públicas’. Nenhuma lei o diz, porque isso seria discriminatório, violaria o princípio da igualdade perante a lei. A menos que se estabeleça o oposto: que ninguém tem direito à privacidade. É verdade que caminhamos para sociedades assim, com os Facebooks, Instagrams e ainda as escutas dos americanos e de outros. Uma coisa é a violação da privacidade à revelia da lei e, no caso das mídias sociais, por decisão dos próprios. Mas se alguém quer preservar sua privacidade, que direito têm outros de arrombá-la? Só porque o público tem curiosidade de saber, parece-me pouco. Não se trata de um direito natural”. 

Na Tela da sua Tv

Estado de Minas : 31/10/2013 




 (Comedy Central/Divulgação )
Hora extra

Criada por Breckin Meyer (o dono do gato Garfield na série para o cinema), a sitcom Men at work emplaca sua segunda temporada no Comedy Central, estreando hoje, às 21h. James Lesure, Adam Busch, Danny Masterson e Michael Cassidy (foto) interpretam quatro rapazes que trabalham juntos em uma revista. Milo (Masterson, de That ‘70s show) é abandonado pela namorada e seus amigos se reúnem para lhe dar conselhos, o que normalmente não resolve muita coisa.

Syfy investe em séries
com temas paranormais


Por falar em séries, o canal Syfy exibe hoje, durante todo o dia, episódios dos programas Ghost hunters, Paranormal witness e Haunted collector com temática relacionada a eventos paranormais. A programação assustadora, que vai ao ar das 10h à meia-noite, faz parte do especial de Halloween.

Terror continua em alta
no pacotão de cinema


A Semana Halloween continua hoje nos canais Universal Channel, com Resident evil – O hóspede maldito (18h30) e Anjos da noite: a rebelião (20h30); Studio Universal, com Luzes do além (20h) e Halloween II (22h); e Megapix, com Evocando espíritos (22h30). E mais O massacre da serra elétrica, na MGM; Madrugada dos mortos, no Telecine Action; O segredo da cabana, no Telecine Pipoca; A cidade do horror, no Telecine Cult; e A volta dos mortos-vivos, no TCM, todos às 22h.

Muitas alternativas na
programação de filmes


Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: Netto e o domador de cavalos, no Canal Brasil; As aventuras de Pi, no Telecine Premium; Totalmente inocentes, no Telecine Fun; O noivo da minha melhor amiga, na HBO 2; Quando você viu seu pai pela última vez?, no Sony Spin; e O garoto da bicicleta, no Max. Outras atrações da programação: Zodíaco, às 19h50, no FX; Um sonho possível, às 22h30, no TNT; e Sintonia de amor, às 23h, no Comedy Central.

SescTV mostra a festa
do Pastoril no Nordeste


O auto popular Pastoril, originário da Península Ibérica e que resiste até hoje em cidades do Nordeste, é tema de hoje da série Coleções, às 21h30, no SescTV. A produção focaliza especialmente os grupos Pastoril Nossa Senhora de Fátima e Pastoril Dona Joaquina, respectivamente, das cidades de Maracanaú (CE) e Natal (RN). No mesmo horário, o Canal Brasil apresenta o Zoombido, de Paulinho Moska, com Tico Santa Cruz, vocalista da banda Detonautas. Já às 23h30, na Cultura,
o Ensaio recebe a cantora Dora Vergueiro.

Aprenda como é que se
faz uma picanha virada


Está com fome? Então não perca a receita que Rodrigo Hilbert vai dar hoje à noite em Tempero de família, às 20h, no canal GNT: a picanha virada. Na mesma emissora, às 20h30, Olivier Anquier comanda mais um episódio do reality Cozinheiros em ação, e às 21h30 entra em cena Claude Troisgros e seu Que marravilha!. O internauta também pode conferir as delícias preparadas na cozinha do canal acessando o site gnt.com.br.


CARAS & BOCAS » Simone Castro

Pai misterioso


Filho de Aline (Vanessa Giácomo) não é do patriarca da família Khoury como se pensava (Estevam Avellar/TV Globo-29/8/13)
Filho de Aline (Vanessa Giácomo) não é do patriarca da família Khoury como se  pensava


César (Antônio Fagundes) não sabe o que o espera em Amor à vida (Globo). Depois de vir à tona que ele é o verdadeiro pai de Jonathan (Thalles Cabral) e não Félix (Mateus Solano), o médico começará a ver seu mundo com Aline (Vanessa Giácomo) ruir. É que um dos podres da sua mulher será descoberto por Félix, que não pensará duas vezes para anunciar aos quatro ventos que seu pai foi traído. E o filho, o bebê Júnior, que pensa que é dele, é de outro sujeito. Tudo começa, segundo a revista Guia da TV, quando o presidente do San Magno passeia em um parque acompanhado de Anjinho (Lucas Malvacini). Não é que ele vê Aline, o filho dela, e um homem desconhecido? Félix se aproxima deles e, sem ser visto, ouve toda a conversa. Ela afirma que o golpe em César já está quase terminando e que, em breve, poderão viver como uma verdadeira família. “Meu amor, vou tirar tudo daquele velho e aí poderemos criar nosso filho em paz. Você terá o direito de pegar esse lindo bebê no colo e chamá-lo de ‘meu filho’”, comenta a ex-secretária. Félix ficará chocado. Mas, sem perder tempo, registrará a cena com uma câmera digital, bem no momento em que o casal troca carinhos. Depois, o vilão arquitetará um plano para desmascarar a ardilosa Aline e se vingar do “Papi soberano”, como ele chama César.

EX-NAMORADO INSPIROU
HIT DE PAULA FERNANDES


Paula Fernandes contou, em entrevista à revista Contigo! desta semana, que Um ser amor, tema de Paloma (Paolla Oliveira) em Amor à vida, foi feita para um ex-namorado, de quem não tem boas lembranças. “Fiz essa música para o homem que mais me decepcionou na vida”, contou a cantora sobre a canção feita há alguns anos. Agora, ela curte ótima fase ao lado do atual namorado, Henrique do Valle, com quem está há um ano. “Pela primeira vez na vida vivo um amor que vai além da paixão”, garante.

TRABALHADOR POPULAR É
TEMA DE SÉRIE NO FUTURA


O Sobre rodas na América Latina, hoje, às 21h30, no canal Futura (TV paga), viaja até Cuba, Argentina e Brasil para contar as histórias de trabalhadores populares. Noelvis vende flores pela cidade de Havana, em Cuba. Ela empurra seu carrinho, todos os dias entoando canções por onde passa. Em Buenos Aires, na Argentina, El Turco comercializa molduras que ele mesmo fabrica com madeira reciclada, mesas e placas antigas, além de diversos objetos que encontra no ferro-velho. E em terras brasileiras, Bacalhau trabalha em Belém do Pará sobre a bicicleta equipada com caixas de som que propagam músicas e propagandas de alguns estabelecimentos. Apesar das dificuldades cotidianas, Bacalhau segue pelas ruas dançando e alegrando a vida das pessoas.

DEBORAH SECCO NÃO FARÁ
MAIS O PAPEL DE JOELMA


A atriz Deborah Secco desistiu de viver Joelma no filme sobre a banda Calypso, segundo anúncio feito ontem. Por conta de atraso na produção, as novas datas não batem com a agenda da atriz. Mas, se houver algum ajuste, a atriz poderá retomar o projeto. O ator Bruno Gagliasso, que interpretaria Chimbinha, também não integra mais o elenco do filme. O atraso no início das filmagens teria ocorrido por conta de dificuldades na captação de recursos para viabilizar o longa-metragem.

ELE É UM SUCESSO!

Antônio Fagundes, eterno galã da TV, é o convidado do Viva o sucesso, amanhã, às 21h15, no canal Viva (TV paga). Ele conta como iniciou sua trajetória artística, diz como se prepara para interpretar seus personagens e revela o que o estimula, mesmo depois de tantos anos, a continuar atuando: “Curiosidade infinita. Sou profundamente curioso, não só com as coisas relacionadas à arte, mas com a vida em geral”. O ator diz buscar, com seu ofício, transmitir às pessoas a mesma sensibilidade que tem diante da vida. Atualmente no papel de César em Amor à vida, Fagundes também está em cartaz com a peça Tribos. E fala da emoção de contracenar com o filho, Bruno Fagundes. “Fiquei muito feliz de perceber no Bruno um profissional tão apaixonado pelo teatro quanto eu. É um colega de cena de primeira linha e, no camarim, é meu filho! Que coisa boa!” Antônio Fagundes ainda faz uma distinção entre fazer sucesso e ser famoso: “Para ser famoso não precisa muito. Se você aparecer nu na TV fica famoso. Não sei durante quanto tempo. O sucesso para mim é fruto do seu trabalho. Mesmo que você fique parado um tempo, continua fazendo sucesso. Você tem, digamos, uma obra para ser lembrada.”

VIVA
Um dos pontos positivos de Sangue bom (Globo) é detonar com a indústria de celebridades.

VAIA
Repeteco do reality musical The X factor, no canal Sony (TV paga). Uma canseira sem tamanho. 

Novo remédio para tratar o diabetes pode ajudar a perder peso

Remédio trata o diabetes e ajuda a emagrecer Medicamento desenvolvido por grupo internacional de pesquisa consegue aumentar a produção de insulina e reduzir o peso de pacientes com diabetes tipo 2 

Vilhena Soares

Estado de Minas: 31/10/2013


Unir duas armas para aumentar o poder de fogo contra o inimigo. Assim pode ser descrita a estratégia de um grupo internacional de pesquisadores que resultou em um novo e promissor tratamento contra o diabetes. O novo remédio criado pelos especialistas, apresentado na edição de hoje da revista especializada Science Translational Medicine, já foi testado em humanos e não só conseguiu aumentar a produção de insulina em pacientes com o tipo 2 da doença como promoveu também a perda de peso.

Para alcançar esse resultado, os cientistas uniram propriedades de dois hormônios produzidos naturalmente pelo organismo humano, o GLP-1 e o GIP, de grande importância para a regulação do metabolismo. “A ação combinatória integrada desses dois hormônios fisiológicos oferece uma abordagem única e benéfica para o tratamento da síndrome metabólica”, declarou Brian Finan, um dos autores do estudo e membro do Instituto de Diabetes e Obesidade da Alemanha. “Ela representa um passo importante em nossa busca de opções terapêuticas mais eficazes”, complementou em um comunicado à imprensa.

Os pesquisadores justificam a escolha do GLP-1 e do GIP pela capacidade que eles têm de estimular a secreção de insulina e suprimir a liberação de glucagon, um contrarregulador que dificulta a produção da substância que falta aos diabéticos. Além dessas tarefas auxiliares, os dois hormônios usados na nova droga desaceleram o esvaziamento do estômago, fazendo com que o indivíduo se sinta saciado por mais tempo e ingira menos alimentos, o que contribui para a diminuição de peso.

“Os resultados demonstram que o GLP-1 e o GIP, quando incorporados numa única molécula, proporcionam uma atividade sinérgica para o controle da glicose e menor peso corporal”, declarou Richard DiMarch, do laboratório da Universidade de Indiana.

Com os resultados positivos obtidos no experimento, DiMarch acredita que o remédio poderá auxiliar tratamentos de diabetes, substituindo os medicamentos que não conseguem atender todas as necessidades no combate a doença. “As drogas atualmente aprovadas são bastante eficazes, mas não são suficientes para normalizar a glicose e certamente não provocam diminuição de peso corporal”, acrescentou.
Cautela Especialistas que não participaram do estudo consideram a droga promissora, mas lembram que os autores do artigo ainda têm um caminho a percorrer para provar que a novidade é mesmo eficaz e segura. “Essa molécula mostrou resultados bastantes positivos, porém outros testes precisam ser feitos. Os voluntários foram testados por apenas seis semanas, mas o controle de glicose precisa ser monitorado por meses, já que o tratamento do diabetes é algo constante.

Precisamos ter certeza do sucesso de um medicamento antes de colocá-lo no mercado”, diz Daniel Benchimol, endocrinologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O endocrinologista Mauro Schars indica outra questão importante: o número de pessoas que já experimentou o remédio. O teste com humanos, realizado depois do sucesso com animais, envolveu apenas seis pessoas.

“A busca por novos medicamentos é constante. Esse é um exemplo. No entanto, esses trabalhos precisam usar um número maior de pacientes para que possamos observar se sua eficácia é realmente comprovada. Esse é um caminho normal, que todos os medicamentos seguem. A estratégia de utilizar uma molécula com duas funções importantes, vindos desses hormônios, é algo interessante, mas que precisa de mais comprovações”, frisa.

Benchimol explica que o combate à obesidade caminha ao lado do tratamento do diabetes, já que a maioria dos pacientes acaba tendo problemas com aumento de peso. Isso tem feito com que muitos grupos de pesquisa busquem desenvolver drogas com duplo efeito, como a apresentada pelo grupo internacional. “Cerca de 80% de diabéticos adultos são obesos. É claro que existem estratégias para que eles consigam escapar desse problemas, como dietas saudáveis e a prática de exercícios, mas ainda assim é difícil para esses pacientes se manter em forma”, destaca.

Um cuidado que Mauro Schars acha fundamental é evitar que drogas desse tipo sejam usadas por quem deseja emagrecer, mas não sofre de diabetes. “O uso indiscriminado desse produto por quem não tem resistência a insulina poderia gerar outras complicações. É preciso tomar cuidado para evitar que outros problemas sejam provocados e prejudiquem a saúde”, alerta. 

Terapia freia câncer no cérebro de ratos‏

Estado de Minas: 31/10/2013 



Um novo tratamento traz esperanças no combate a um temido tipo de câncer no cérebro, o glioblastoma multiforme. Pesquisadores da Universidade de Northwestern desenvolveram uma terapia que, ao ser testada em ratos, desligou um gene crítico do tumor e, dessa forma, aumentou as chances de sobrevivência dos animais doentes. O trabalho, publicado pela Science Translational Medicine, deve em breve ser testado em humanos.

O tratamento usado pelos cientistas consiste em um pequeno RNA de interferência que envolve uma nanopartícula de ouro com ácidos nucleicos. O conjunto forma uma esfera invisível a olho nu capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e chegar ao tumor cerebral. O medicamento aciona o interruptor do gene problemático e consegue silenciá-lo, derrubando as proteínas que mantêm as células cancerosas ativas.

Os ratos utilizados no experimento tiveram a taxa de sobrevivência ampliada em cerca de 20%, e o tamanho do tumor foi reduzido de três a quatro vezes, em comparação com o grupo de controle. “Esse é um belo casamento de uma nova tecnologia com os genes de uma doença terrível. Essa prova de conceito estabelece ainda uma grande plataforma para tratar uma ampla gama de doenças, incluindo a artrite reumatoide e a psoríase”, afirmou, em comunicado à imprensa, Chad Mirkin, especialista em nanomedicina e coautor do estudo.

Os pesquisadores adiantam que o próximo passo é testar a terapia em ensaios clínicos, utilizando o tratamento em humanos. “Meu grupo de pesquisa está trabalhando para descobrir os segredos do câncer e, mais importante, uma maneira de pará-lo”, declarou Alexander H. Stegh, professor da Universidade de Northwestern e coautor sênior do estudo. “O glioblastoma é um câncer muito difícil, e a maioria dos medicamentos quimioterapêuticos falham na clínica. A beleza do gene silenciado nesse estudo é que ele desempenha muitos papéis diferentes na resistência à terapia. Tirar o gene do quadro deve permitir que terapias convencionais sejam mais eficazes.”

Grande demais para quebrar

Grande demais para quebrar 

Em Minas, a produção do café envolve cerca de 4 milhões de pessoas - mais do que toda a população da Região Metropolitana de Belo Horizonte 

Roberto Simões
Presidente do Sistema Faemg Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais

Estado de Minas: 31/10/2013


A crise econômica mundial que eclodiu em 2008 consagrou uma frase, criada nos Estados Unidos, que tem uma sabedoria irrefutável: “Grande demais para quebrar”. Na prática, ela significa que, dentro da cadeia econômica de um país ou região, existem setores que, se quebrassem, arrastariam para o abismo milhares de empresas, acabariam com milhões de empregos e contaminariam outras atividades produtivas. O resultado seria recessão e caos. Por isso, são “grandes demais para quebrar” – ou seja, não podem quebrar.

Cientes disso, o governo americano e de vários países da Europa blindaram, com fluxo de crédito regular e juros baixos, setores inteiros da economia, principalmente os ligados a grandes instituições financeiras. Também no Brasil, o governo
agiu: cortou impostos de segmentos como o automotivo e linha branca e estimulou o consumo interno. A crise arrefeceu e o mundo percebeu que a frase estava certa. Tão certa que chegou a hora de ser aplicada a um dos mais importantes setores do agronegócio do país: o café.

Já não é segredo para ninguém que o setor cafeeiro do Brasil e do estado vive uma das mais graves crises de sua história recente. Falta crédito, sobram dívidas, os estoques estão altos e os preços permanecem baixos. O preço da saca de 60kg, que já chegou a R$ 530, está hoje na faixa de R$ 240 – o que não cobre sequer o custo de produção. Não é exagero dizer que o setor está à beira do colapso.

Como também não seria exagero dizer que, se tal colapso ocorresse, não seria bom para ninguém. Basta olhar os números. O estado é responsável por 51,4% da safra nacional de café. A safra mineira de 2013, de 25 milhões de sacas, se estende por mais de 600 municípios. Em 2012, as exportações mineiras de café somaram US$ 3,8 bilhões, contribuindo para o saldo positivo da balança comercial brasileira.

No estado, a cadeia de produção do café envolve, direta e indiretamente, cerca de 4 milhões de pessoas – mais do que toda a população da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Se o setor parasse, colocaria um ponto final no longo período de pleno emprego que, segundo dados do governo federal, o país vive hoje.

O governo de Minas está ciente da gravidade da crise e tem sido um aliado precioso para os produtores. Em abril, o governador Antonio Anastasia já havia solicitado ao governo federal o estabelecimento de preço mínimo para a saca. No fim de outubro, o governador voltou a apresentar à presidente Dilma Rousseff, em Belo Horizonte, uma nova pauta de reivindicações, classificando a situação como “dramática”.

O quadro é, de fato, dramático. As poucas medidas efetivamente liberadas até agora pelo governo federal só surtirão efeito em março de 2014. Até lá, é provável que muitos produtores já tenham encerrado suas atividades. Para evitar isso, o que precisamos agora é da interrupção imediata de todos os vencimentos das dívidas por um prazo de 90 dias e o lançamento de um programa para geração de renda para os produtores em curtíssimo prazo. São medidas de sobrevivência, que permitirão aos cafeicultores respirar e ter tranquilidade para buscar soluções sustentáveis para o setor – nossa meta principal.

A presidente Dilma Rousseff já demonstrou sensibilidade para auxiliar setores da economia – principalmente ligados à indústria e varejo – que enfrentavam dificuldades provocadas por turbulências externas. Acreditamos, portanto, que ela terá agora a mesma sensibilidade em relação ao setor cafeeiro. Presidente, acredite: o setor do café, no Brasil, é grande demais para quebrar. As consequências do agravamento da crise seriam dramáticas para o país. O governo federal tem recursos suficientes para evitar o colapso.

Recordista no número de dentistas, Brasil falha no acesso ao serviço‏

Recordista no número de dentistas, Brasil falha no acesso ao serviço


Rayssa Nunes Villafort
Cirurgiã bucomaxilofacial do Hospital São Francisco de Assis


Estado de Minas: 31/10/2013 




Não é de hoje que o sorriso é visto como o cartão de visitas do ser humano, ou para os mais românticos, a porta da alma. Por isso, o ofício de cuidar dos dentes existe desde muito antes da formalização da profissão de dentista. Os primeiros cursos de graduação de odontologia no Brasil foram criados no Rio de Janeiro e na Bahia, em 25 de outubro de 1884. Mais tarde, a data foi instituída como o Dia do Profissional de Odontologia. Se, atualmente, a atividade mostra sinais evidentes de melhora nas práticas e acompanha o avanço da tecnologia, houve um tempo em que os profissionais que cuidavam da saúde dentária eram chamados de dentistas práticos. O trabalho se resumia em fazer a extração dos dentes com problemas, em locais, muitas vezes, precários e sem a higiene necessária. É evidente que esse não é mais o quadro predominante. Contudo, a cultura de banalização da extração dentária se manteve até poucas décadas. O Brasil é o país com maior numero de profissionais de odontologia no mundo, com 219.575 dentistas cadastrados, o que representa 19% do total, de acordo com dados da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas. O número recorde, entretanto, não reflete o acesso de boa parte da população ao serviço. Prova disso é que somente a metade dos adultos brasileiros tem pelo menos 20 dos 32 dentes funcionais.

A saúde oral do brasileiro apresentou melhoras nos últimos anos, mas ainda precisamos desenvolver iniciativas que ampliem o acesso ao tratamento dentário em todo o país, não apenas nos grandes centros urbanos. Quase 12% da população brasileira nunca pisou em um consultório odontológico, segundo dados do IBGE. É grave pensar, também, que boa parte da população que tem acesso a dentista não se preocupa com a saúde da boca como deveria. O desleixo com os cuidados da saúde dentária é parte de um conceito equivocado, que desassocia a boca do restante do corpo. A frequência recomendada de visitas ao dentista é de pelo menos uma vez a cada seis meses. Afinal, o dentista é um profissional capaz de cuidar não só da estética, mas de problemas da cavidade bucal como um todo —gengiva, língua, mucosa oral, dentes e ossos da face. Enfermidades que podem comprometer a saúde em geral, dependendo da gravidade. O contraste é evidente. Enquanto o Brasil é o país que mais forma cirurgiões-dentistas e o segundo na produção e colocação de implantes dentários, ainda há doentes por falta de cuidados com os dentes. Números da Associação Brasileira de Odontologia estimam que menos de 22% dos adultos e 8% dos idosos têm gengivas totalmente saudáveis. Os problemas da cavidade oral são muitos, entre eles: afta, cárie, gengivite, periodontite, maloclusão, abscesso, lesão cística, fratura de ossos da face e até mesmo câncer.

Engana-se quem pensa, também, que cuidar mal dos dentes traz problemas apenas para a região da boca. Diversas doenças sistêmicas, que podem afetar todo o organismo, têm origem em infecções orais. Um exemplo é a endocardite bacteriana, infecção grave das válvulas cardíacas, que pode ser causada pela falta de higiene oral. Pesquisas recentes associam infecções na gengiva à ocorrência até de descontrole da diabetes e partos prematuros. A principal arma de prevenção ainda continua sendo a boa e velha higiene bucal, associada à visita periódica ao dentista. Afinal, quando alguém perde um dente, perde, também, parte da saúde.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Governo planeja incentivo a carro híbrido - Sergio Leo

Criticado pelos parceiros comerciais do Brasil como medida protecionista, o Inovar-Auto, que prevê incentivos à fabricação de automóveis no Brasil e sobretaxa carros importados, dá tanta satisfação ao governo que os ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda decidiram uma segunda fase. Há duas semanas, os dois ministérios acertaram estender o programa aos chamados carros híbridos, movidos a eletricidade e combustível líquido e outras fontes alternativas de energia.
Os detalhes dos incentivos a serem concedidos a esses automóveis ainda estão em debate na equipe econômica. Pelo Inovar-Auto, as montadoras já podem reduzir em até quatro pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), dependendo do investimento em inovação e desenvolvimento de engenharia no país. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, defende novos incentivos aos híbridos mais "generosos", com aumentos mais fortes dos descontos do IPI que os atuais.
Pelos cálculos de técnicos do governo, o IPI médio cobrado das grandes montadoras ficaria em torno de 10%, que podem ser reduzidos para no máximo seis pontos percentuais, com os descontos por inovação e engenharia. Um corte adicional do imposto em pelo menos mais três pontos percentuais, para carros híbridos, é o considerado ideal pelos defensores do novo incentivo.
Ministros decidem que Inovar-Auto terá uma segunda fase
O regime automotivo brasileiro regulamentado pelo Inovar-auto estabelece exigências de fabricação local e de incorporação de peças nacionais, ou do Mercosul, que, na prática, permitem aos beneficiados pagar imposto sobre produtos industrializados 30 pontos percentuais abaixo do que o cobrado dos carros sem o mesmo teor de conteúdo nacional.
Pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), os produtos estrangeiros, após pagamento do imposto de importação, não podem sofrer discriminação do Fisco, pagando impostos internos diferentes dos pagos por produtores nacionais. O Inovar-Auto transgride essa lógica, e esse é um dos principais argumentos dos países que já se queixaram na OMC contra o programa brasileiro.
Nenhuma das queixas se transformou em contestação legal às regras brasileiras e a razão disso está na política e na diplomacia que acompanharam a medida: as principais montadoras ocidentais já estavam no país e se beneficiaram do programa; as montadoras que ficaram de fora, asiáticas e fabricantes europeus e americanos de carros de luxo, tiveram regras especiais, que acomodaram suas demandas por meio de cotas e prazos mais amplos de adaptação às novas exigências.
Marcas como BMW e Audi manifestavam profundo descontentamento com as regras brasileiras, argumentando ter recebido cotas insuficientes e não ter escala de produção no Brasil capaz de justificar a montagem de fábricas brasileiras. Ganharam, mais recentemente, uma adaptação que, na prática, permitiu a elas instalações do tipo CKD, de importação dos automóveis desmontados para simples montagem no país, no limite de até 30 mil carros por ano, até 2017. O governo espera, com isso, permitir a criação de uma rede de revendedores no país.
As empresas estrangeiras não só não foram adiante na contestação do Inovar-Auto na OMC como deram ao governo um forte argumento em defesa do regime: desde o começo do programa, 21 fabricantes de veículos já instalados no Brasil habilitaram-se, e 12 empresas comprometeram-se com a abertura de fábricas no país. Os investimentos previstos ultrapassam R$ 7,7 bilhões, que, em 2016, terão acrescentado cerca de 576 mil carros anuais à produção nacional.
A conta inclui R$ 2,5 bilhões prometidos pela Nissan e mais de R$ 500 milhões da Volkswagen para fabricação do Golf. A esses números devem acrescentar-se mais de R$ 600 milhões, caso seja aprovada as propostas da chinesa Foton, para produção de utilitários na Bahia e no Rio Grande do Sul.
O governo argumenta que o programa não é protecionista, mas destinado a incentivar investimentos em tecnologia e inovação no país, com data definida - 2017 -para acabar. Em 2017, os diferentes níveis de tributação do IPI sobre carros deixarão de se basear na cilindrada dos automóveis (carros populares, até mil cilindradas pagam menos que os mais potentes) para orientar-se pela eficiência energética dos motores.
"Temos de abrir espaço no regime automotivo para quem quiser vir ao Brasil produzir veículos não tradicionais", defende Pimentel, que, há duas semanas foi conhecer o carro híbrido da Peugeot, que aproveita a energia produzida pela própria frenagem do veículo.
A chegada dos carros híbridos no país levanta dúvidas sobre o futuro do bem-sucedido programa de carro a álcool, que não conseguiu estabelecer um novo padrão mundial de tecnologia "verde" para automóveis. Pimentel argumenta que o Inovar-Auto para híbridos é plenamente compatível com os veículos flex movidos a gasolina e etanol. O governo estuda dar incentivo diferenciado para carros híbridos com motor movido também a álcool.
Outra consequência evidente do êxito do Inovar-Auto como mecanismo de atração de montadoras é a tendência de se estabelecer no Brasil uma espécie de "hub", um centro de produção e distribuição de veículos para o restante da América do Sul e, talvez, América Central e México. Isso vai depender, porém, da competitividade a ser alcançada por essas fábricas, e da maneira como o governo brasileiro acomodará as já existentes pressões da Argentina para imposição de medidas que garantam o parque automotivo no país vizinho.
Sergio Leo é jornalista e especialista em relações internacionais pela UnB. Escreve às segundas-feiras
E-mail: sergioleo.valor@gmail.com


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Bolsa Família e a revolução silenciosa no Brasil - Deborah Wetzel

Por décadas e até mesmo séculos, a desigualdade e a pobreza têm caminhado juntas no Brasil, resultado de modelos de crescimento não inclusivos e políticas sociais regressivas. Na segunda metade do século XX, o país esteve entre os de condições mais desiguais no mundo, razão pela qual economistas criaram expressões como "Belíndia - uma sociedade com a prosperidade do tamanho da pequena Bélgica cercado por um mar de pobreza indiana". Por muitos anos, os 60% mais miseráveis da população detinham apenas 4% da riqueza, enquanto os 20% mais abastados detinham em média 58% dela.
Há dez anos, o presidente Lula iniciou o inovador Programa Bolsa Família, intensificando e administrando de maneira crucial iniciativas dispersas existentes sob um conceito simples, porém poderoso: confiar a famílias pobres transferências de pequenas quantias de dinheiro em troca de manter seus filhos na escola e com acompanhamento médico regular.
O programa foi recepcionado com um ceticismo considerável, afinal o Brasil continuava a ser tradicionalmente um grande investidor no setor social, com 22% do PIB aplicado em educação, saúde, proteção e segurança sociais. Uma das analogias utilizadas por acadêmicos era a de que jogar dinheiro de um helicóptero seria tão eficiente quanto atingir a população mais pobre, devido à frustração brasileira com a falta de resultados. Como o Bolsa Família, com cerca de 0,5% do PIB, mudaria esse cenário sombrio?
A desigualdade de renda foi reduzida para um coeficiente de Gini de 0,527, que corresponde a uma redução de 15%
Dez anos depois, o Bolsa Família seria chave para diminuir mais da metade da pobreza no Brasil- de 9,7 a 4,3% da população. O mais impressionante, em contraste com outros países, é que a desigualdade de renda também foi reduzida de forma acentuada, para um Coeficiente de Gini de 0,527, que corresponde a uma redução de impressionantes 15%. Atualmente, o Bolsa Família beneficia em torno de 14 milhões de famílias -50 milhões de pessoas ou cerca de ¼ da população, e é amplamente visto como uma história de sucesso, um ponto de referência para a política social no mundo.
De igual importância, estudos qualitativos destacaram como a transferência regular de dinheiro do programa tem ajudado a promover a dignidade e autonomia entre os pobres. Isso é particularmente verdadeiro para as mulheres, que são mais de 90% dos beneficiários.
Além do impacto imediato na pobreza, uma outra meta central do programa era quebrar o ciclo de transmissão de pobreza de pais para filhos pelo aumento de oportunidades para as novas gerações com mais educação e saúde. Avaliações a respeito do progresso dessa meta exigem um monitoramento a longo prazo, mas os resultados têm sido bastante promissores até o momento. O programa aumentou a frequência escolar e a progressão entre séries.
Por exemplo, as chances de uma jovem de 15 anos estar na escola aumentaram para 21%. Crianças e famílias estão melhor preparadas para estudar e aproveitar oportunidades com mais visitas de atendimento pré-natal, cobertura de vacinação e redução na mortalidade infantil. A pobreza invariavelmente lança um espectro sobre as próximas gerações, porém esses resultados não deixam dúvidas de que o Bolsa Família melhorou as expectativas para gerações de crianças. Ao mesmo tempo, receios sobre consequências não intencionais, tais como uma possível redução de incentivos no trabalho, não se materializaram. Na verdade, o aumento da renda do trabalho tem sido outro fator crítico na redução da pobreza e desigualdade brasileiras durante o período.
O Cadastro Único é a ferramenta essencial que permitiu que o programa Bolsa Família alcançasse esse marco de sucesso, sendo capaz de direcionar suas intervenções diretamente aos mais pobres. Ele é hoje a base de programas sociais, uma vez que fornece as informações ao sistema que processa milhões de pagamentos mensais para os beneficiados, permite ajustes rápidos e ampliação de benefícios com esforços adicionais tais como o recente programa Brasil Carinhoso. Por meio de uma administração eficiente e direcionamento adequado, o Bolsa Família atingiu um grande objetivo a custos bem baixos (cerca de 0,6% do PIB) e construiu a base para programas ambiciosos como Brasil sem Miséria e o Busca ativa, que incluirá os que ainda não foram alcançados.
A experiência brasileira está mostrando o caminho para o restante do mundo. Apesar do pouco tempo de criação, o programa ajudou a estimular um aumento nos programas de transferência condicionais de renda na América Latina e pelo mundo inteiro - tais programas atualmente existem em mais de 40 países. Somente no ano passado, mais de 120 delegações visitaram o Brasil para aprender sobre o Bolsa Família. O Banco Mundial é parceiro do programa desde o início; estamos aprendendo com ele e ajudando sua disseminação.
Nossas novas metas globais de erradicar a pobreza extrema até 2030 e impulsionar a prosperidade compartilhada foram inspiradas pela experiência brasileira. Outra etapa concreta desta parceria foi o desenvolvimento da "Iniciativa de Aprendizagem no Brasil para Um Mundo Sem Pobreza" (WWP), assinada recentemente em Brasília em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, Ipea e Centro de Política Internacional da UNDP. A iniciativa apoiará inovações e o aprendizado contínuo com base na experiência de política social brasileira.
A meta final para qualquer programa social é que seu sucesso o torne redundante. O Brasil está bem posicionado para sustentar suas conquistas da última década e está perto de alcançar a incrível façanha de erradicar a pobreza e a fome de todos os brasileiros, razão legítima para celebrar.
Deborah Wetzel é diretora do Banco Mundial para o Brasil e PhD em economia pela Universidade de Oxford, Inglaterra.


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O espólio nazista na Holanda

O Globo - 30/10/2013

PROCURAM-SE OS DONOS

Museus identificam em seus acervos 139 obras roubadas de judeus durante a ocupação do país

http://www.radford.edu/~rbarris/art428/kandhouses72.jpg
Justiça. “Images of houses”, de Kandinsky, foi roubada de judeus, dizem museus


Depois de quatro anos de
investigação, a Associação
de Museus Holandeses
conseguiu identificar,
em seus acervos, 139 obras de arte
que teriam sido roubadas de judeus
pelos nazistas durante a ocupação
do país. Entre os autores das obras,
figuram artistas como Kandinsky,
Klee e Matisse.

Donos de 61 das peças já foram
identificados. São dezenas de telas,
desenhos e esculturas. Há um catálogo
na internet para quem quiser consultar
a lista de obras. Ele pode ser acessado
na página www.musealeverwervingen.
nl, que tem versão em inglês. A
ideia é que os donos das obras sejam
identificados e possam recuperá-las.

— Esse trabalho mostra a própria natureza
do trabalho de um museu, que é
analisar nosso acervo e revelar ao público
nossas descobertas. O fato de ter
passado muito tempo desde 1933 não é
desculpa para não rastrearmos a procedência
das obras — disse Siebe Weide,
diretor da associação de museus.

Ele definiu a investigação como
“obrigação moral”, e disse que ela “faz
justiça” às vítimas da Segunda Guerra.

Espera-se que os herdeiros identifiquem
as obras, por fotos das casas dos
antepassados ou por serem mencionadas
em cartas. Durante a ocupação nazista
na Holanda, os judeus foram roubados
ou obrigados a vender suas
obras de arte abaixo do preço de mercado,
ou mesmo a usá-las como pagamento
para fugir do país.