segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Câncer de pele, problema público‏

Ellias Magalhães - Médico oncologista


Estado de Minas: 16/09/2013 




O câncer de pele é considerado hoje um grande problema de saúde pública no mundo. Apesar de sua baixa letalidade em relação a outros tipos de tumores malignos, é o câncer mais prevalente na população humana. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que em 2012 foi a neoplasia mais diagnosticada no Brasil, com mais de 120 mil casos, ainda que seja uma doença subnotificada e subdiagnosticada. Está diretamente relacionada à exposição solar exagerada, câmaras de bronzeamento artificial, à tonalidade da pele, ao envelhecimento da população e apresenta um padrão de distribuição geográfica. 

O câncer de pele é dividido em dois grandes grupos: melanoma e não melanoma. O primeiro é considerado uma entidade à parte, tem uma baixa incidência (cerca de três casos por 100 mil pessoas/ano) e história natural bastante diferente, sendo mais agressivo, de crescimento rápido e com maior potencial de disseminação para outros órgãos. Os tumores de pele não melanomas são doenças muito mais comuns (cerca de 70 casos por 100 mil habitantes/ano), possuem um curso clínico mais indolente, lento crescimento e raramente se disseminam para órgãos a distância (2% a 5% dos casos). Apesar de muito prevalente, apresenta baixa taxa de mortalidade e menos de 4% dos pacientes vão a óbito devido à doença. 

Todos esses tumores de pele citados estão relacionados à exposição solar. Os raios UVA e UVB, emitidos pelo Sol, induzem mutações nas células da pele, podendo levar à sua malignização, desencadeando um processo de proliferação celular desordenado que resultará, anos depois, em um tumor de pele. A melanina, pigmento humano que dá coloração à pele, age como um bloqueador natural dos raios UVA e UVB. Assim sendo, indivíduos com tonalidade de pele mais clara (olhos claros, ruivos), que têm pouca melanina, estão mais propensos a desenvolver câncer de pele. A doença raramente acomete negros. Sua distribuição também sofre influência geográfica, sendo mais comum em regiões próximas à linha do Equador, onde a intensidade dos raios solares é maior e mais duradoura.

Estudos sugerem que as reações negativas da radiação solar têm efeito cumulativo. Isso explica por que a doença é mais comum em áreas do corpo constantemente expostas ao sol, como o rosto e a parte superior do tronco (70% dos casos), assim como por que a maior incidência ocorre em idosos. Raramente observa-se câncer de pele antes dos 40 anos. Estudos também indicam que a radiação solar sofrida na infância e até os 18 anos tem impacto mais expressivo no desenvolvimento do câncer do que a mesma exposição em idades mais avançadas.

O paciente deve sempre procurar auxílio médico para avaliação de pintas e manchas de crescimento progressivo. Tumores de pele podem causar dor, manifestar-se como uma ferida que não cicatriza, sangrante ou alterações da coloração da pele. Na suspeição, uma biópsia deve ser realizada. O tratamento depende de uma série de fatores, como idade, localização e profundidade da lesão, questões estéticas e econômicas. Normalmente é feita a retirada cirúrgica da lesão, mas a crioterapia (congelação) ou eletrocauterização (queimadura) podem sem indicadas em casos selecionados. A radioterapia deve ser indicada em casos mais avançados, em áreas não passíveis de cirurgia. As taxas de cura dessas modalidades terapêuticas superam os 90%.

A melhor maneira de prevenir o câncer de pele é evitando a exposição solar, especialmente das 10h às 16h, quando a intensidade dos raios é maior. Atenção especial deve ser dada à proteção da pele das crianças. O filtro solar deve ser aplicado nas áreas expostas ao sol e a reaplicação a cada duas horas é recomendada. O fator de proteção depende da tonalidade da pele, mas deve ser pelo menos 30%, sendo que peles mais claras necessitam de um fator de proteção maior. O uso de utensílios como chapéus, bonés, óculos escuros e roupas mais longas ajuda na prevenção das lesões causadas pelo sol. 

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