quarta-feira, 15 de maio de 2013

Livros sobre a arte brasileira contemporânea destaca a importância da pintura entre os novos artistas-Walter Sebastião‏

Livros sobre a arte brasileira contemporânea destaca a importância da pintura entre os novos artistas.  


Walter Sebastião

Estado de Minas: 15/05/2013 

A arte dos anos 2000 ganha seus primeiros registros em dois livros: Pintura brasileira séc. XXI, de 2011, e Desdobramentos da pintura brasileira séc. XXI, recém-lançado. O primeiro é voltado para produção recente, basicamente realizada com tintas e telas postas a serviço de várias estéticas; o segundo traz instalações, objetos e colagens, que podem ser vistos como diálogo ou expansão da pintura. Um e outro sinalizando também fenômeno recente: interesse pela pintura de jovens artistas. Foi a produção dos novíssimos, conta Isabel Diegues, que com Frederico Coelho organizou os volumes, que trouxe o desejo de livro que fosse panorama do que se faz na área hoje no Brasil.

Pintura brasileira séc.. XXI, recorda Isabel Diegues, surgiu da observação de grupos de jovens artistas fazendo pinturas no Rio e em São Paulo, o que reabriu discussão sobre o tema e até motivou autores maduros a reinventarem o que faziam. Movendo o fenômeno, para ela, está revalorização mundial da pintura, mais exposições no Brasil (“o que faz circular ideias”) e queda da negação da pintura que existiu em outros momentos. “A partir dos anos 2000 vive-se momento de multiplicidade. As pessoas vão à academia e estudam os princípios do que querem fazer, seja o que for”, observa.

Para entender a pintura atual, a partir dos mais jovens, mas sem se deter neles, foram utilizados três critérios: trabalhos relevantes; que fossem importante para outros artistas; e que tivessem presença no circuito de arte e mercado. Foi trabalhando nesse projeto que ela e Frederico Coelho se deparam com o motivo apresentado no segundo volume: obras interessantes, de boa qualidade, que extrapolavam noções tradicionais de pintura. “É um borrar dos limites, de margens que separam os gêneros. Trabalhos que não são só pintura, só desenho, só fotografia. E veio a vontade de livro sobre trabalhos que não são pensados a princípio como pintura. Talvez o mundo multidisciplinar em que vivemos leve a isso”, suspeita a editora.

Desenvolvimento da pintura séc. XXI, explica Isabel Diegues, procura fazer recorte preciso a partir de trabalhos muito diferentes, com linguagens distintas, que têm caligrafia pessoal forte, produzido por artistas de vários lugares do Brasil. “Não está no livro um gosto pessoal, mas trabalhos relevantes. Cada um deles tem a sua questão, propõe algo diferente. Que pode ser a delicadeza, a força, a construção da obra, os materiais que o artista utiliza, a cor, a interação com público”, exemplifica, evitando uma palavra que unifique todos. “O que emociona, o que chama atenção, depende do olhar de quem vê”, observa.

Os dois livros são obras afins. “Mostram caminhos e possibilidades da arte que se faz no Brasil hoje, o que os artistas estão pensando no momento”, observa. Com relação à atenção internacional às pintoras Beatriz Milhazes e Adriana Varejão, Isabel considera que a visibilidade das artistas deve-se “à enorme qualidade de ambas”. Lembra ainda a descoberta da fundamental importância da arte brasileira nos anos 1950, em especial Hélio Oiticica e Lygia Clark, o que levou à curiosidade sobre o que se faz em arte no país. “Todos vêm olhando hoje para o Brasil. E a arte e a cultura acabam sendo também observadas”, conclui.


Mineiros
Interesse pela pintura e investigações que colocam o tema da migração do pictórico para outros suportes, motivo posto em destaque pelos dois volumes lançados pela Cobogó, também podem ser vistos na arte feita em Belo Horizonte. Se Pintura séc. XXI, até injustamente, traz poucos artistas mineiros – apenas Patrícia Leite –, no volume Desenvolvimento da pintura brasileira sec. XXI estão cinco autores nascidos em Minas Gerais, que mostraram trabalhos em Belo Horizonte. São eles: Cristiano Rennó, Rivane Neuenschwander, Thiago Rocha Pitta, Valeska Soares e Laura Lima.


Foco em ivros de arte

Isabel Diegues tem 42 anos e é uma das proprietárias da Editora Cobogó, criada em 2008, voltada para a arte e cultura contemporâneas. Adolescente, começou a trabalhar com cinema, área em que fez de tudo. Largou a atividade e, “mais do que adulta”, fez curso de letras. A convite da galerista Márcia Fortes, ainda hoje uma das sócias da empresa, e Ricardo Sardemberg, foi trabalhar na Cobogó. “Resisti muito até aceitar, mas hoje sinto que gosto muito da atividade de editora”, conta.

Favorecendo a edição de livros de arte, no Brasil, avalia Isabel Diegues, está momento em que o público anda valorizando as artes plásticas. “Quem não é colecionador se interessa pelos livros. O público tem curiosidade sobre o assunto e quer entender melhor o que está vendo. Estamos começando a decodificar os signos das artes plásticas”, diz. Dificuldade, aponta Isabel, é o custo alto da impressão, devido a existência de poucos parques gráficos.

Isabel Diegues conta que é projeto da editora lançar novos volumes com panorama das artes. São da Cobogó os quatro volumes com textos do grupo teatral Espanca!, de Belo Horizonte. O próximo lançamento da editora é o livro Popismo, de Andy Warhol, reunião de reflexões e máximas do artista.


Desenvolvimentos da Pintura Brasileira Séc. XXI
Organização de Isabel Diegues e Frederico Coelho
Editora Cobogó, 288 páginas, R$ 160

Adriano Costa, Alexandre da Cunha, Antonio Dias, AVAF, Carlito Carvalhosa, Cristiano Lenhardt, Cristiano Rennó, Daniel Senise, Delson Uchoa, Dora Longo Bahia, Dudi Rosa Maia, Emmanuel Nassar, Fabio Miguez, Hugo Houyaek, Jac Leirner, José Bechara, Karin Lambrecht, Laura Lima, Leda Catunda, Lucia Koch, Luiz Zerbini, Maricus Galan, Marcone Moreira, Miguel Rio Branco, Nuno Ramos, Rafael Alonso, Ricardo Carioba, Rivane Neuenschwander, Thiago Rocha Pitta e Valeska Soares.


Pintura brasileira Séc. XXI
Organização de Frederico Coelho e Isabel Diegues
Editora Cobogó, 308 páginas, R$ 160

Adriana Varejão, Alex Cerveny, Ana Elisa Egreja, Ana Prata, Ana Sario, Beatriz Milhazes, Bruno Dunley, Caetano de Almeida, Cassio Michalany, Cristina Canale, Eduardo Berliner, Gisele Camargo, Janaina Tschäpe, Lucas Arruda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mariana Palma, Mariana Serri, Marina Rheingantz, Patricia Leite, Paulo Pasta, Paulo Nimer PJota, Rafael Carneiro, Renata de Bonis, Renata Egreja, Rodolpho Parigi, Rodrigo Andrade, Rodrigo Bivar, Sergio Sister, Tatiana Blass, Thiago Martins de Melo, Tiago Tebet e Vânia Mignone. 

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