terça-feira, 2 de abril de 2013

Cúpula da Câmara quer me achincalhar, diz Feliciano

folha de são paulo

Deputado afirma não ver motivo para ir a reunião que vai tratar do seu caso
Alvo de protestos, presidente da Comissão de Direitos Humanos também critica o governo Dilma e o PT
FERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAO deputado Marco Feliciano (PSC-SP) disse ontem que a reunião de líderes partidários na Câmara para tratar do seu caso tem o objetivo de achincalhá-lo. O encontro, marcado para ontem, ficou para a semana que vem.
"Eu não recebi o convite ainda. Estou estudando se eu vou atender. [...] Eu não sei o que faria nesse colégio de líderes. Ir ali para ser oprimido e achincalhado por um grupo de pessoas que, na verdade, deveria defender o Parlamento -e não abrir um precedente como está sendo feito. Acho muito perigoso."
Em entrevista à Folha e ao UOL, Feliciano falou sobre suas convicções como pastor, sua outra atividade além da política. Ao dizer mais uma vez que não renunciará à presidência da Comissão de Direitos Humanos, comparou-se ao presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).
"Todos nós sabemos que o deputado Henrique Alves chegou à presidência debaixo de muita pressão, debaixo de muita luta. Eu me espelho nele. Esse vigor que eu estou tendo de suportar essa pressão se inspira nele", declarou Feliciano, que tem 40 anos e sofre críticas diárias por estar no comando da Comissão.
Henrique Alves foi eleito para presidir a Câmara em meio a acusações de irregularidades, como manter dinheiro no exterior sem declarar. Alves negou culpa.
Na entrevista, o deputado também diz estar insatisfeito com o governo de Dilma Rousseff. Coloca em dúvida o apoio dos evangélicos ao projeto de reeleição dela.
Relata ter vestido a camisa de Dilma em 2010, mas agora se sente traído pelo PT. "O PT pegou um grupo de deputados e veio contra mim", diz.
Sua mágoa é com a ministra Glesi Hoffman (Casa Civil), que não o ajudou a ter audiência com Dilma Rousseff.
Feliciano diz esperar o apoio de 24 mil pastores que irão para um congresso da Assembleia de Deus em Brasília. "Eles [LGBT] colocam 20, 50, 200 pessoas na rua. Nós temos 50 milhões [de fiéis] no país".
A respeito de sua declaração sobre a comissão ter sido no passado comandada por "Satanás", explicou se referir a todos que pensam de forma diferente da sua. "Satanás" seriam "os adversários".
Deputados prometem pedir hoje a anulação de sua eleição na comissão e encaminhar uma representação ao Ministério Público Federal pela frase sobre Satanás.
A vice-presidente da comissão, Antônia Lúcia (PSC-AC), disse que se sentiu ofendida, pois pertenceu aos quadros do colegiado nos últimos três anos. Ela avisou ao comando do partido que cogita renunciar ao cargo -o assunto deve ser discutido hoje.
Ontem, um dos assessores do deputado recomendou no Twitter um vídeo dizendo que o destino de crianças adotadas por gays será o estupro.
Na entrevista à Folha e ao UOL, Feliciano voltou a negar ser racista ou homofóbico. Disse que ele e o papa Francisco são perseguidos pelos simpatizantes da causa gay e que o Brasil vive uma "ditadura gay". Diz ser contra o aborto, entre outras razões, porque sua mãe chegou a manter uma casa clandestina de abortos.
É necessária uma lei para combater a homofobia? Ele acha que não. Se a lei for aprovada, teria de se fazer o mesmo para outras minorias -"caolho" ou "banguelo".
Contrário a manifestações públicas de carinho entre gays, o deputado considera que os próprios homossexuais saberiam que se trata de algo inconveniente.

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