sábado, 23 de fevereiro de 2013

Marcos Caramuru de Paiva


Folha de são paulo
Oportunidade a passar
O comércio chinês exibe crescentemente produtos importados, com marcas europeias se acotovelando
Poucos duvidam de que o mercado mais promissor dos próximos anos será a China. Por duas razões óbvias: o número de consumidores e as características do projeto econômico chinês.
O país crescerá pelo menos cinco a seis por cento ao ano, apenas pela via da redução da pobreza. Mas certamente crescerá mais que isso e será um motor da economia mundial por algumas décadas.
É sempre possível adotar uma atitude derrotista diante das possibilidades de entrar na China.
Mas o comércio chinês exibe crescentemente produtos importados. Marcas europeias de todo tamanho têm-se acotovelado na disputa por pontos de venda.
O dilema é que não se pode pensar na China de maneira casual: como um país que absorverá o excedente de produção ou um local para onde vamos canalizar vendas quando a economia brasileira estiver desaquecida. O gigantismo do mercado não permite tratá-lo como um coadjuvante.
Explorar todo o potencial que ele exibe requer estratégia, investimento pesado e audácia.
As gôndolas dos supermercados chineses são exemplo de desafio para um país com a força agrícola do Brasil. Estão cheias de leite francês e alemão, de produtos europeus, japoneses, norte-americanos, australianos e neozelandeses que vão da água às mais variadas iguarias. Exceção feita ao frango, não se veem produtos brasileiros.
Muitas razões dificultam um bom desempenho exportador brasileiro. O custo Brasil apequena o nosso potencial de vendas. O custo China, por sua vez, mesmo mais elevado, ainda é baixo.
Mas há pontos que não podem passar despercebidos. No setor de alimentos, por exemplo, os chineses têm baixa confiança nos produtos de origem local.
Quando aumentam um pouco a sua renda, compram importados. O mesmo se passa com remédios e produtos de higiene pessoal.
O chinês é ávido por conhecer novas marcas de bens de consumo. Há pesquisas que tentam medir quantas marcas o cidadão de classe média identifica, quantas procura quando viaja. As pessoas com um nível razoável de renda vão três vezes por ano ao exterior e gastam US$ 800 por compra que fazem.
Talvez estejamos fadados a deixar passar a oportunidade na China ou a entrar modestamente num mercado que nada tem de modesto.
O problema é que outros (chineses e estrangeiros) preencherão os espaços vazios. E os que tiverem escala no mercado chinês precisarão utilizar só uma fração de sua musculatura para conquistar o nosso mercado.
A onda de grifes de luxo que chegam com força ao Brasil depois de anos de receitas gordas na China é uma boa mostra disso.
Vai mudar, em casa, o cenário para as grifes brasileiras. Expulsá-las para andares menos nobres dos shoppings, tomar uma parte de suas vendas.
Para contrarrestar essa tendência, temos, é verdade, a possibilidade das medidas protecionistas. Mas elas estarão longe de resolver definitivamente o problema, se as empresas não se dispuserem a avançar no processo de internacionalização.

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