domingo, 24 de fevereiro de 2013

Carlos Heitor Cony

folha de são paulo

Receita para matar a fome
RIO DE JANEIRO - E assim se passaram dez anos com o PT no poder. Logo no início, quando tomou posse no primeiro mandato, Lula lançou o Fome Zero. Não sei se acabou com a fome, o fato é que dona Dilma quer acabar com a miséria. Faço votos.
Em espírito de colaboração, tomo a liberdade de lembrar um projeto lançado por Jonathan Swift (1667-1745), autor de "As Viagens de Gulliver", doutor em teologia e deão da catedral de St. Patrick. Preocupado com a fome em algumas regiões da Irlanda, em 1729 escreveu o ensaio "Modesta Proposta para Impedir que os Filhos dos Pobres na Irlanda Pesem sobre seus Pais ou sobre o País, tornando-se Úteis ao Público".
E deu algumas receitas: "Uma criança sadia, bem nutrida é, na idade de um ano, uma nutrição deliciosa, substancial e sã, assada ou cozida, ensopada ou ao forno, podendo ser servida como fricassé ou ragoût. (...) As mães darão de mamar com fartura no último mês, de modo a ficarem carnosos e gordos. Um menino daria dois pratos em um almoço de amigos; quando a família janta só, a metade dianteira ou traseira daria um prato razoável, temperado com um pouco de pimenta e sal. Em média, um menino que pese 12 libras ao nascer pode, em um ano, se é passavelmente nutrido, atingir 28 libras".
Para confirmar suas preocupações com o problema da fome em seu tempo e em sua cidade, Swift legou todos os seus bens para uma instituição fundada por ele, que abrigava mendigos e loucos.
Na primeira viagem a Lilliput, habitada por pigmeus, Gulliver apaga um incêndio no Palácio Real sem necessidade de chamar o Corpo de Bombeiros. Ele urina em cima das chamas e salva o palácio. Com anos de antecedência, Gulliver dá uma lição aos cariocas que desperdiçam o chamado precioso líquido fazendo da cidade um imenso mictório.

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