terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Para onde voam os livros

folha de são paulo

William Joyce, autor de "A Origem dos Guardiões", fala à Folha sobre sua declaração de amor ao universo do livro
Divulgação
O personagem Modesto Máximo, de William Joyce, em ilustração do livro "os Fantásticos Livros Voadores..."
O personagem Modesto Máximo, de William Joyce, em ilustração do livro "os Fantásticos Livros Voadores..."
CASSIANO ELEK MACHADODE SÃO PAULOMuita tinta já foi gasta e muitos bits foram pulverizados na internet para discutir o fim do livro impresso.
Mas uma das declarações de amor mais poderosas feitas ao vetusto produto gutenberguiano apareceu, há dois anos, onde menos se imaginava: na loja de aplicativos Apple App Store.
No aplicativo "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore", o autor e ilustrador de livros infantis William Joyce conta a história de um rapaz apaixonado pela leitura que é levado por um furacão, criado à imagem e semelhança dos que sopram em "O Mágico de Oz", a uma enorme biblioteca, onde passa a viver.
O aplicativo em questão foi adaptado ao formato de um curta de animação, logo em seguida. E o filme acabou levando o Oscar do gênero no ano passado.
Depois de ter aparecido em iPhones, iPads, computadores e telas de cinema, a história encerrou seu ciclo e foi enfim adaptada para um livro.
Para tratar de "Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo" (Rocco), como a obra foi batizada aqui na tradução competente de Elvira Vigna, e do futuro do livro, o americano William Joyce, 55, falou à Folha.
Folha - "Modesto Máximo" é uma clara declaração de amor ao universo dos livros. Qual é a sua opinião sobre o tão debatido fim do livro impresso?
William Joyce - Não penso em morte do livro, mas em evolução. Ainda que "Modesto Máximo" tenha começado como um aplicativo e um filme é um projeto sobre a importância dos livros.
Ao passo que o mundo do livro ilustrado evolui e se adapta às novas tecnologias, sinto que é importante reforçar a ideia de que, apesar dos lampejos que os aplicativos possam trazer, sempre haverá a necessidade e o espaço para os prazeres únicos da página impressa. O livro impresso jamais irá morrer.
Por que acredita nisso?
Por vários motivos, mas vale dizer que um livro pode ser molhado, e ainda poderá ser lido. Um livro pode cair no chão, e ainda poderá ser lido. Seu cachorro pode mastigá-lo, e ainda poderá ser lido. E tem mais: ele nunca ficará sem bateria.
Eu me diverti bastante brincando com as novas tecnologias dos aplicativos.
E acho que, no futuro, haverá muitos aplicativos interessantes que mesclam texto, estrutura de livro e animação, com cada maneira de contar uma história funcionando bem separadamente.
Mas, mesmo quando isso acontecer, continuaremos carregando felizes livros impressos em papel.
Como foi adaptar o filme "Modesto Máximo", feito com milhares de imagens, para um livro infantil, de poucas páginas?
"Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo" foi concebido anos atrás como um livro infantil. Eu pensei que seria interessante fazer um curta de animação como peça promocional para o livro. Mas, enquanto o filme estava sendo produzido, a Apple lançou o iPad e achei que seria uma boa plataforma para uma história de animação. Vi menos como a separação entre filme, aplicativo e livro, mas como três partes de uma história.
Qual linguagem você mais admira?
Tudo o que faço em meu estúdio vejo inicialmente como um potencial livro.
Não é que eu valorize menos outros formatos e que eles não tenham tanto mérito intelectual, mas é minha maneira de criar.
Fazer um livro é complicado, mas menos complicado do que fazer um filme, um game, um aplicativo ou outras formas de contar uma história. É mais simples por uma razão essencial: você depende só de si mesmo.
Você se identifica com o personagem Modesto Máximo?
O personagem Modesto Máximo foi inspirado num querido amigo e mentor chamado Bill Morris, um amante dos livros e um grande cavalheiro da área da publicação de livros infantis.
Pessoalmente, sempre fui apaixonado por bibliotecas e sempre tento escrever histórias nas quais elas apareçam.
A ideia de um homem que é seguido por sua biblioteca me pareceu fascinante.
Como foi a experiência, pouco comum para um autor de livros, de receber um Oscar?
Foi inacreditável. Quando eu e Brandon Oldenburg fomos escolhidos como finalistas para o Oscar, a Academia nos pediu, como faz com todos, que preparássemos os discursos para o caso de ganharmos. Mas simplesmente não o fizemos. E tivemos um branco enorme quando subimos no palco. Estava em frente de Meryl Streep, George Clooney e toda esta turma e não conseguia pensar em nada. Depois, as pessoas me diziam: "Adorei seu discurso". Eu não tinha ideia do que dissera. Só consegui entender depois, quando assisti a uma gravação. Foi surreal.
Muita gente do mercado editorial acredita que, como desenvolver um aplicativo bem- feito é caro, os livros digitais para crianças serão dominados por estúdios de cinema ou empresas do gênero. O que você pensa sobre isso?
Ainda é caro criar aplicativos, mas acredito que este formato vai continuar se desenvolvendo e ficará cada vez mais viável economicamente. Acho que é uma maneira interessante de enriquecer a experiência de contar uma história.
Não imagino que este segmento vá ser dominado por estúdios de cinema.
Na realidade, acho que as portas estão se abrindo para que as pequenas companhias e os coletivos possam desenvolver seus projetos e apresentá-los de uma maneira muito democrática e de longo alcance.
São tempos maravilhosos para os criadores os que estamos vivendo.
OS FANTÁSTICOS LIVROS VOADORES DE MODESTO MÁXIMO
AUTOR William Joyce
TRADUÇÃO Elvira Vigna
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 39,50 (56 págs.)

    FRASES
    "Um livro pode ser molhado, e ainda poderá ser lido. Ele pode cair no chão, e ainda poderá ser lido. Seu cachorro pode mastigá-lo, e ainda poderá ser lido. E tem mais: ele nunca ficará sem bateria"
    "Fazer um livro é complicado, mas menos complicado do que fazer um filme, um game, um aplicativo ou outras formas de contar uma história. É mais simples por uma razão essencial: você depende só de si mesmo"

      Em livro, 'Guardiões' tem versão infantil e teen
      DE SÃO PAULOComo em "Modesto Máximo", em que trabalhou em diferentes formatos para prestar homenagem ao livro, na série "Os Guardiões da Infância" William Joyce faz, em diferentes mídias, um bonito tributo ao universo das fábulas.
      Adaptada, por ele mesmo, para o cinema como "A Origem dos Guardiões", a série de livros acaba de ser lançada no Brasil. Joyce criou duas linhas. A série "Guardiões", de texto, é voltada ao público juvenil. O primeiro volume é "Nicolau São Norte", que conta "a verdadeira história de Papai Noel".
      Para os pequeninos, a linha "Os Guardiões da Infância" é inaugurada com o livro ilustrado "O Homem da Lua".
      As séries apresentam temas e personagens semelhantes aos do filme de animação, mas de maneira diferente. Joyce explica: "É comum, quando você adapta um livro para o cinema, que fãs do livro reclamem que faltam partes fundamentais do texto no filme, ou que critiquem que os personagens não eram como haviam imaginado. Foi por isso que decidi que o filme seria ambientado 200 anos após o período do livro". (CEM)
      NICOLAU SÃO NORTE
      AUTORES William Joyce e Laura Geringer
      TRADUÇÃO Érico Assis (ambos)
      EDITORA Rocco (ambos)
      QUANTO R$ 29,50 (232 págs.)
      O HOMEM DA LUA
      AUTOR William Joyce
      QUANTO R$ 34,50 (56 págs.)

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