segunda-feira, 12 de novembro de 2012

As histórias que o cinema não conta - André Conti


As histórias que o cinema não conta  

André Conti

Depois de assistir a "Detona Ralph", saí com a impressão de que alguém finalmente tinha acertado um filme sobre videogames.
Claro que falta Pixar ali. No fim das contas, o fator Disney acaba se sobressaindo: em vez de um filme que mira nas duas plateias, adulta e infantil, há mensagens sendo tortuosamente esfregadas na cara do espectador, e uns 40 minutos no meio que são tão chatos quanto qualquer filme da empresa.
Pensando melhor, "Detona Ralph" nem é tão bom assim. Mas o cenário de adaptações de jogos para o cinema é tão inacreditavelmente ruim, que a meia hora inicial, onde os personagens dos jogos todos se encontram depois que o fliperama fecha, à la "Toy Story", vale a viagem.
Mas é estranho que ninguém tenha acertado em cheio uma adaptação dessas. Conforme a tecnologia avança para jogos cada vez mais cinematográficos, muitas vezes com atores e roteiristas de Hollywood envolvidos, o cinema ainda não encontrou meios de levar a experiência de um jogo para as telas.
E não foram poucas tentativas. Lembro direitinho da decepção de assistir, no cinema, "Super Mario Bros.", que contava no elenco com os improváveis Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper, este último no papel de King Koopa.
Havia pouca semelhança entre jogo e filme, e todos os envolvidos já declararam em algum momento que este foi o pior trabalho de suas vidas (se não acredita em mim, busque o trailer no YouTube).
Mesmo se dermos o desconto de que "SMB" foi a primeira adaptação de um jogo para a história, o que veio a seguir também não foi muito animador. Basta lembrar de "Street Fighter" (que acabou sendo o último papel do Raul Julia), "Double Dragon", "Wing Commander", "Mortal Kombat", "Resident Evil": absolutamente nada se salva.
Ao longo dos anos, nos acostumamos a colocar a culpa no Uwe Boll. O diretor alemão, tido como o Orson Welles dos filmes de videogame, dirigiu meia dúzia de adaptações, todas tenebrosas. Em 2006, cansado das críticas negativas, convocou seus críticos mais ferrenhos para uma luta de boxe.
O "efeito Boll" afastou os estúdios de investimentos mais sérios em adaptações. Há uns anos, Peter Jackson, diretor da trilogia "Senhor dos Anéis", ensaiou uma produção de "Halo", da Microsoft, que acabou dando água. Outras tentativas recentes, como "Max Payne", não encontraram público.
Talvez o acerto de "Detona Ralph" esteja em fugir de jogos já existentes, adaptando um título imaginário e capitalizando, assim, na popularidade geral dos videogames, sem se ater a nenhum deles.
É assim que Zangief, Pac-man e Q*bert podem conviver num mesmo universo, sem que as tramas ínfimas de seus jogos precisem ser levadas em conta.
A questão central, para mim, continua na mecânica do jogo. Já disse aqui que ninguém joga "Super Mario Bros." para salvar a princesa. A narrativa de um jogo não está na trama, ela é construída pelo jogador com o controle, conforme ele vence obstáculos, descobre novas áreas etc.
Por isso é tão difícil adaptar um jogo, mesmo que conte com uma trama espetacular (acredite, eles existem). Ao fim e ao cabo, estamos interessados em construir nossas próprias narrativas, algo que o cinema jamais vai proporcionar. Melhor assim.

Quadrinhos


CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO

ADÃO
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

Charge - Angeli


CHARGE

ALCIONE ARAÚJO » A poesia será a minha escola‏

"Compram violas de brinquedo para quebrar, e uma de 3 metros a ser destruída na praça!" 

Alcione Araújo
Estado de Minas: 12/11/2012 
No sertão do Pajeú, o sol imóvel no céu sem nuvem retarda a noite; e na caatinga torra a catingueira, o xiquexique e o facheiro. O mandacaru resta vertical por não dar sombra, pouso ou encosto. Pedras e rochas mantêm a terra quente. Moscas voejam as carcaças do gado. Vinte cidades sugam as águas e os ares do Rio Pajeú: Serra Talhada, Afogados de Ingazeira, Solidão, Quixaba, Carnaíba, etc., e Tabira – a terra do poeta e violeiro ganha súbita guerra eleitoral e um poeta vira herói da viola! 

Violeiro e poeta Sebastião Dias, de 43 anos de cantoria e 600 prêmios em desafios, candidata-se a prefeito pelo PTB. Na campanha, cola no favorito, Dinca Bandino, atual prefeito, do PSB, e tumultua a sua tranquila reeleição. A disputa incendeia Tabira. 

Aliados de Bandino dizem que o povo não leva fé em cantador, nem vota em pobre. Juram que, se vencerem, vão quebrar as violas de Tabira diante da casa de Dias! – grave ameaça ao instrumento-símbolo do Pajeú, e insulto ao ilustre violeiro! Mais atacam, mais o povo apoia Dias. Sugerindo que ele quer fugir à luta, os socialistas doam mil CDs: "Amanheceu, peguei a viola/ botei na sacola/ e fui viajar". Compram violas de brinquedo para quebrar, e uma de 3 metros a ser destruída na praça! 

O trabalhista reage: “Quebrar viola em Tabira é violentar a alma do povo e trair a essência do lugar”. Denuncia: “É um atentado à cultura popular.” E canta: "Quem discrimina a viola/ por não gostar de cultura/ vai ver o povo levar/ um poeta à prefeitura". Eis que entra em cena o carroceiro Zé Edmilson: “Eles querem quebrar a viola, mas a gente não vai deixar. Viola é como a vida da gente!” E junta 200 carroceiros, que se cotizam: cada um dá o que pode. Dias se comove ao receber a sacola de moedas e notas de R$ 2. Eis o financiamento público de campanha!

Com 7.553 votos, Sebastião Dias vence Dinca Brandino, 7.066 votos, e se elege. Com violas de brinquedo presas ao pescoço, os vencedores comemoram a vitória. 

Derrotados viram santos: “Ninguém determinou a agressão. Não chegou aos nossos ouvidos e não houve determinação do comando de campanha nesse sentido. Se houve, foi manifestação esporádica de eleitores ou militantes. Temos orgulho da viola e da poesia, símbolos da cultura não só de Tabira, como do sertão do Pajeú”. 

Mas o cantador Zé Carlos do Pajeú insiste: “Vi a carreata chefiada por um carro que levava uma viola tratada com deboche. Se Brandino ganhasse, a viola ia sofrer, arrastada pelo chão. A gente desgostou, porque viola é coisa sagrada para nós”. 

À sombra do umbuzeiro, Sebastião Dias, de chapéu, óculos Ray-ban e dente de ouro, junta poetas e violeiros para tocar viola e cantar a vitória. Abraçado à viola, tripudia: "Quem queria quebrar minha viola/ Foi dormir escutando o choro dela/ Foram dias de muito sofrimento/ Afastado do som da minha lira/ Só porque defendi nossa Tabira/ Juraram quebrar meu instrumento/ Mas viver sem viola eu não aguento/ Que cultura pra mim é coisa bela/ Até quando esta mão pegar na vela/ A poesia será a minha escola". 

E com isso tudo está bem dito. Não me atrevo, nem é necessário dizer mais nada.

Após incêndio, canteiro da usina de Belo Monte (PA) tem quebra-quebra


Após incêndio, canteiro da usina de Belo Monte (PA) tem quebra-quebra


FÁBIO GUIBU
DE RECIFE
Um grupo de cerca de 30 pessoas encapuzadas e portando pedaços de pau depredou e saqueou instalações em um dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte (PA), na tarde de sábado (10).
A ação ocorreu menos de 24 horas após um incêndio destruir quatro galpões de lona usados para a estocagem de material, em outro canteiro da mesma obra. Ninguém foi preso nem se feriu.
A Polícia Civil e os bombeiros investigam os casos. Uma das hipóteses a serem apuradas é a eventual ligação dos incidentes com o processo de renovação do acordo coletivo de trabalho dos operários, que começou neste mês.
O incêndio aconteceu na noite de sexta-feira (9), véspera de uma assembleia geral dos trabalhadores, no sítio Belo Monte, o maior canteiro de obras da hidrelétrica.
Segundo o tenente dos bombeiros de Altamira (PA) que comandou a operação no local, Gilmares da Silva, o fogo destruiu "totalmente" os quatro galpões, onde havia equipamentos de proteção, material hidráulico e elétrico.
"Quando chegamos, a brigada interna de segurança já combatia o fogo com carros-pipa e os operários estavam no refeitório", declarou Silva. Ninguém sabe o que provocou o incêndio. O resultado da perícia sai em 15 dias.
No sábado, as depredações e o saque aconteceram no sítio Pimental, durante a assembleia dos operários com o sindicato da categoria.
O grupo de encapuzados forçou o fim do evento e, segundo a polícia, tentou impedir a saída dos ônibus que transportavam funcionários.
Houve confusão e quebra-quebra. De acordo com o CCBC (Consórcio Construtor Belo Monte), computadores, mesas, cadeiras e arquivos da empresa foram destruídos.
Ainda segundo o consórcio, houve tentativa de incêndio em uma cozinha. Uma farmácia e a lanchonete do canteiro de obras também foram depredadas. O dinheiro que estava nos caixas sumiu.
Um helicóptero da Polícia Civil foi ao local, mas os policiais não conseguiram identificar os responsáveis. "Assim que nos viram, os encapuzados se misturaram aos operários", disse o superintendente regional da Polícia Civil, Cristiano Nascimento.
SINDICATO
O vice-presidente do Sintrapav (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada do Pará), Regimel Gobbo, negou que o vandalismo tenha sido cometido por trabalhadores.
"Não temos domínio sobre quem pode estar infiltrado entre os operários, se tem incendiários, encapuzados", disse ele. "Se existe esse problema no canteiro, cabe à empresa resolvê-lo", afirmou.
Em nota, o CCBM informou que "repudia ações desse tipo" e disse que "formalizou registro dos atos de violência de vandalismo junto aos órgãos de segurança do Estado" para "identificação e punição dos responsáveis".
Ainda segundo a nota, o consórcio "prosseguirá com as negociações junto ao Sintrapav, confiando no bom senso dos seus dirigentes e trabalhadores".
Cerca de 15 mil pessoas trabalham nas obras da hidrelétrica.

Simplicidade de bamba - Sérgio Rodrigo Reis‏

Paulinho da Viola prefere não celebrar profissionalmente os 70 anos. Mas o jornalista Vagner Fernandes, que fez a biografia dele, tem projeto de lançar uma caixa de discos 

Sérgio Rodrigo Reis
Estado de Minas: 12/11/2012 
O cantor e compositor carioca Paulinho da Viola coleciona histórias, inúmeros sambas e chega aos 70 anos não raras vezes repetindo a frase: “Não sinto saudades”. A afirmação soa contraditória, diante de obra tão vasta, repleta de crônicas musicais do país, que tanto fazem referência e deferência ao passado. Ele tem um modo particular de lidar com o tempo. É como se, a cada aparição, partisse do passado para entender e revitalizar o presente.




Paulinho da Viola, que faz 70 anos hoje, já avisou que disco novo só no ano que vem


Tímido, simples e avesso à badalação, sempre que possível longe da mídia, Paulinho da Viola tem sabedoria de poucos para lidar com a carreira. Já gravou bastante, assim como fez muitos shows, mas, de uns anos pra cá, vem se tornando cada vez mais avesso às regras do show biz. Prefere gravar pouco, falar quase nada e aparecer menos ainda. Talvez por isso, sempre que ensaia voltar à cena, a atitude se torna um acontecimento. Ele avisou: não esperem de sua parte comemorações em torno dos 70 anos (celebrados hoje). Fará três shows: dia 17, no Parque Madureira, no Rio; dia 28, no Carnegie Hall, em Londres; e em 11 de dezembro, no Teatro Coliseo, em Buenos Aires. Disco novo? Só no ano que vem, se tudo der certo. E nada mais. 

Filho do músico Cesar Faria, Paulinho da Viola cresceu em torno da música. Em Botafogo, onde passou a infância, tradicional bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro onde nasceu em 12 de novembro de 1942, conheceu os ritmos brasileiros graças ao pai, violonista do conjunto Época de Ouro. Entre um ensaio e outro, não era raro estar ao lado de Jacob do Bandolim e Pixinguinha, entre outros que se encontravam para fazer choro, valsas e sambas. 

Ao longo de décadas de carreira, Paulinho da Viola passou por fases distintas. Gravou intensamente nos anos 1960 e 1970; depois, diminuiu o ritmo, até que, de 1990 em diante, tem sido cada vez mais raro mostrar algo inédito. O distanciamento da mídia veio acompanhado de amadurecimento da carreira e do reconhecimento dos que passaram a vê-lo como artista mais sofisticado e maduro. O trabalho dele é tido como elo entre tradições populares como o samba, o carnaval – desde 1965 integra a ala de compositores da Portela – , o choro e a contemporaneidade. Nada mal para quem não vive de saudades.


EM DOIS TEMPOS


Documentário

» A obra de Paulinho já foi tema de livros, teses acadêmicas, discos e do documentário Meu tempo é hoje, lançado há 10 anos pela VideoFilmes, com direção de Isabel Jaguaribe e roteiro de Zuenir Ventura. Em 83 minutos, o filme mescla às canções as memórias do artista bem delineadas pelo olhar atento do jornalista Zuenir Ventura. A produção só confirmou o senso comum: que Paulinho da Viola é pessoa simples, suave, sensível, inteligente, elegante. 

Livro
» Paulinho da Viola ganhou inúmeras homenagens, mas uma considera especial: o livro Velhas histórias, memórias futuras – O sentido da tradição em Paulinho da Viola, de Eduardo Granja Coutinho (Editora Uerj). Recentemente, a publicação ganhou reedição revista e ampliada. Mostra, entre outras coisas, como o compositor conseguiu expressar-se na tradição do samba e do choro, mas, ao mesmo tempo, mantendo-se ligado a seu contexto, sem saudosismo. Fruto de tese de doutorado do autor, a obra trata Paulinho como um dos compositores que melhor representam a visão da tradição como algo em movimento, como “herança viva”. No texto, fica claro que o passado resgatado tem importância na medida em que diz aos interlocutores atuais alguma coisa sobre o presente e, dessa forma, garante projeção para o futuro. A questão, presente em vários momentos nas composições do sambista, ganha síntese nos versos de Dança da solidão: “Meu pai sempre me dizia/ Meu filho toma cuidado/ Quando penso no futuro/ Não esqueço meu passado”.

Músicas inéditas 


É do jornalista e pesquisador carioca Vagner Fernandes, autor da biografia da cantora mineira Clara Nunes, a ideia de propor à EMI a reedição de 11 discos fundamentais na carreira de Paulinho da Viola. São álbuns feitos entre 1968 e 1979, que, pela primeira vez, serão reunidos numa caixa, depois de passarem por processo criterioso de remasterização. “Paulinho está participando ativamente do processo”, conta o jornalista. Desde que a proposta saiu do papel, o desafio tem sido encontrar novidades. “Estamos vasculhando os arquivos da EMI em busca de alguma sobra de gravações ou registros inéditos, que não tenham entrado nos álbuns.”
 

A proximidade de Vagner Fernandes com o universo do artista vem de infância, pois todos os familiares são ligados ao samba. Sempre teve profunda admiração pelas canções do sambista, algo que só aumentou com o tempo. “A obra do Paulinho, como de outros ícones de nossa música, é atemporal, de beleza rara, de sofisticação melódica inebriante.” Para ele, as letras são como obras-primas por conseguirem traduzir a alma de um artista absolutamente apaixonado, sempre a serviço de sua arte, de forma incondicional.

“Cada vez que o ouço, descubro novas vertentes, percebo-me caminhando por trilhas inéditas em uma constante (re)descoberta que só um grande autor, uma grande obra é capaz de nos proporcionar.” Ao longo da trajetória, Paulinho da Viola compôs de maneira tão plural que é difícil reduzir sua obra a poucos aspectos. O jornalista considera essa produção como “a música brasileira legítima”, em sua verdadeira essência e totalidade. “É a força motriz indelével, que nos conduz ao abismo da felicidade e da paixão”, enfatiza. 

Além dos 11 álbuns clássicos, a caixa trará, como novidade, CD com registros inéditos ou pouco conhecidos do grande público, como, por exemplo, música que o cantor fez para a trilha da novela Simplesmente Maria, produção de 1970, da extinta TV Tupi, escrita por Benjamin Cattan e Benedito Ruy Barbosa, baseada no original de Rosamaria Gonzalez. Outra novidade é que a Warner também se prepara para reeditar os três álbuns que o sambista gravou na década de 1980, incluindo o raro Prisma luminoso, de 1983.

Ginástica contra doenças metabólicas - Bruno Freitas‏

Pesquisa realizada na USP demonstra como a prática de exercícios físicos ajuda a prevenir o desenvolvimento de distúrbios como o diabetes tipo 2, cujo dia mundial de prevenção é quarta-feira 

Bruno Freitas

Estado de Minas - 12/11/2012 
Acúmulo de gordura no fígado, diabetes tipo 2, obesidade. Doenças causadas por má alimentação passam a ser melhor compreendidas com uma nova e importante ferramenta científica que pode ajudar a prevenir males do tipo, cada vez mais comuns no cotidiano apressado das pessoas. Baseada na reação de camundongos, uma pesquisa realizada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (Each/USP) constatou que a prática de atividade física regular é capaz de impedir o desenvolvimento de distúrbios metabólicos mesmo em quem não adota dieta balanceada, gerando respostas no tecido adiposo e no músculo esquelético que favorecem o gasto de energia obtida por meio dos alimentos – em vez de simplesmente estocá-la no corpo.Valendo-se de uma ração incrementada com amendoim, biscoito à base de amido de milho, chocolate e açúcar – batizada de Cafeteria – para imitar os hábitos alimentares humanos, o estudo observou que animais sedentários alimentados com a dieta desenvolveram quadro de intolerância à glicose, resistência à insulina e obesidade. 

Submetidos a um programa de treinamento de dois meses, onde fizeram uma rotina de exercícios sobre uma miniesteira durante uma hora diária, cinco dias por semana, os camundongos foram divididos em quatro grupos: sedentários alimentados com ração normal (controle), sedentários com Cafeteria, treinados com dieta padrão e treinados com dieta Cafeteria.

Enquanto os sedentários da dieta controle apresentaram aumento de peso de 13,3%, os sedentários da dieta de Cafeteria tiveram aumento de 21,3%. Os camundongos alimentados com a ração doce e incrementada que praticaram os exercícios, entretanto, tiveram uma elevação de peso de apenas 8,7%. "O treinamento físico realizado pelos animais alimentados com dieta de Cafeteria também teve um crescimento bem mais discreto de níveis de colesterol", revela a coordenadora da pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fabiana de Sant'Anna Evangelista.

Especialista no desenvolvimento de pesquisas envolvendo exercício físico, a pesquisadora explica que os camundongos sedentários submetidos à Cafeteria desenvolveram comportamento alimentar compulsivo, baseado no prazer, o que levou a ingestão calórica superior, aumento da adiposidade e da glicemia e maior resistência à ação de insulina.

Um aspecto interessante observado no estudo foi  que o comportamento do tecido adiposo se manifestou de forma diferente. Ao mesmo tempo em que os sedentários da Cafeteria secretaram 80% mais leptina (hormônio que desempenha importante papel na regulação da ingestão alimentar e no gasto energético, gerando um aumento na queima de energia e diminuindo a ingestão alimentar), nos ratos treinados foi observado aumento de 20%. Já a adiponectina, proteína que atua na melhora da sensibilidade à ação da insulina, foi reduzida em 30% nos sedentários. Nas cobaias treinadas houve aumento em 25%, indicando um dos mecanismos relacionados com o efeito preventivo do diabetes. “Ficou evidente que o exercício físico evitou a hipertrofia das células adiposas e a consequente alteração da sinalização celular que contribui para regular o metabolismo energético. A atividade lipolítica do tecido adiposo branco aumenta tanto por estímulo da dieta quanto do treinamento físico. No entanto, apenas o grupo que treinou apresentou redução na adiposidade. Essa resposta pode ser consequência da abundância de ácidos graxos oriundos do tecido adiposo que não são oxidados e acabam sendo novamente estocados no tecido adiposo”, explica Fabiana.

A análise revelou ainda que os camundongos que praticaram atividade física tinham maior concentração de citatro sintase, uma enzima que é essencial para que as moléculas de gordura sejam oxidadas, fornecendo energia. Ou seja, a rotina de treinamento não apenas elevou o consumo de energia do tecido muscular esquelético, como também aumentou o metabolismo energético do próprio tecido adiposo. 

Equilíbrio quebrado Fundamental para o equilíbrio entre a atividade lipolítica – quebra de moléculas de gordura para consumo – e a lipogênica (que armazena gordura no tecido adiposo), a proteína AMPK passou a ser produzida em menor quantidade nos camundongos sedentários alimentados com a Cafeteria. Fabiana Evangelista constatou então que a dieta induziu, nos dois grupos, o aumento da atividade lipolítica, mas como organismos sedentários não têm capacidade para oxidar os ácidos graxos como fonte de energia, os lipídios acabaram indo para o fígado, se acumulando e causando quadro de esteatose hepática. Parte da gordura voltou para o tecido adiposo, onde foi novamente estocada. “A redução da atividade da AMPK é frequentemente observada em diabéticos tipo 2 e obesos, e está associada à redução da capacidade oxidativa, aumento da lipogênese e aumento ou redução da lipólise”, alerta a pesquisadora. O grupo treinado alimentado com a mesma dieta, por outro lado, apresentou aumento significativo da AMPK. Segundo ela, os camundongos mantiveram a lipólise aumentada, menor lipogênese e melhora na capacidade de oxidar os ácidos graxos.

Embora o foco do estudo tenham sido os mecanismos celulares induzidos pelo treinamento, a pesquisadora alerta que ele oferece uma mensagem muito importante à população sobre a importância do controle de peso corporal e a redução dos riscos cardiovasculares. Quando há aumento de peso e adiposidade, acrescenta Fabiana, outras consequências metabólicas podem surgir com o tempo. “Especialmente porque o tecido adiposo funciona não apenas para estocar energia, mas também para produzir substâncias com ação em diferentes locais do organismo.” Ela sustenta que o fato de fazer exercícios físicos não permite que se coma de tudo. “Se o indivíduo elevar demais o consumo calórico e não queimar na mesma proporção, o excesso de calorias se acumulará”, alerta. O próximo passo de pesquisa é entender melhor o impacto da atividade física no metabolismo do tecido muscular esquelético para desvendar a cooperação com o tecido adiposo.



Três perguntas para...


Airton Golbert, Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

Como o portador de distúrbios metabólicos pode aproveitar a atividade física para evitar o desenvolvimento dos males?
O exercício físico regular traz uma série de benefícios metabólicos, diminuindo a necessidade de insulina pelo organismo, pois a mesma insulina age melhor sendo necessário um trabalho menor do pâncreas para utilização da glicose proveniente da alimentação. Isso pode prevenir o diabetes tipo 2 e auxiliar no emagrecimento e manutenção do peso. Em quem tem diabetes haverá melhora do controle da doença, podendo levar à diminuição de remédios. Em indivíduos com excesso de peso e obesidade, a diminuição do peso é uma evidência de melhora metabólica.

No estudo feito pela pesquisadora Fabiana Evangelista, a prática dos exercícios  elevou o consumo de energia do tecido muscular esquelético e aumentou o metabolismo energético do próprio tecido. De que forma isso pode ser aproveitado pela medicina?

Essas modificações são usadas nas recomendações de tratamento e prevenção de diabetes, onde o exercício físico é um item fundamental.

Além dos exercícios, como chegar a um emagrecimento eficiente?

Um controle alimentar, e em primeiro lugar, vontade e determinação. Por isso, é muito importante o tratamento e a prevenção de diabetes tipo 2 em pessoas com mais de 40 anos, com hábitos pré-estabelecidos. Seguir a orientação dos profissionais é indispensável. Para quem não faz exercício, nessa fase, é complicado. O cotidiano corrido é outro dificultador. É preciso mudar o estilo de vida. Vivemos uma epidemia: mais de 50% da população brasileira têm excesso de peso e 15% é obesa. O exercício físico é uma grande saída, não só na prevenção e controle de diabetes, como também de problemas cardiovasculares.


Projeto da UFMG/Santa casa vence prêmio


O programa Promoção de hábitos saudáveis por meio do exercício físico em pacientes com diabetes tipo 2, desenvolvido no Laboratório do Movimento da Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com o Ambulatório de Diabetes tipo 2 do Centro Metropolitano de Especialidades Médicas (CEM) da Santa Casa de Belo Horizonte, é vencedor do prêmio em concurso promovido pela Bristol-Myers Squibb Farmacêutica, AstraZeneca do Brasil e Sociedade Brasileira de Diabetes. O programa mineiro tem como objetivo incentivar e avaliar os efeitos da modificação de hábitos de vida, com a inclusão de programas regulares de exercícios físicos, sobre a saúde e qualidade de vida em diabéticos tipo 2. Atualmente, 12 pessoas são atendidas no projeto de BH.

Pulmões envelhecidos na infância -Bruna Sensêve‏

Crianças expostas à poluição do ar no primeiro ano de vida têm capacidade respiratória comprometida, dizem suecos. Na fase adulta, podem ter problemas crônicos, como enfisema 

Bruna Sensêve
Estado de Minas: 12/11/2012 


O perigo está no ar das grandes cidades, colocando em risco as futuras gerações. Os gases poluentes expelidos diariamente pelos milhões de veículos que circulam nos centros urbanos contribuem diretamente para a redução da função pulmonar em crianças. Uma longa pesquisa acompanha desde o nascimento quase 2 mil crianças expostas a essa poluição ambiental. Na segunda divulgação de resultados – a anterior ocorreu no primeiro ano de vida dos participantes –, os cientistas conseguiram observar um déficit significativo no volume máximo de ar expelido por elas aos 8 anos. Especialistas afirmam que, entre as consequências a longo prazo, pode estar o desenvolvimento de doenças pulmonares obstrutivas crônicas, como a bronquite e o enfisema pulmonar. 

O estudo, publicado recentemente no Jornal de Medicina Respiratória e Crítica da Sociedade Torácica Americana, avaliou as crianças por meio da aplicação de questionários, da avaliação da quantidade de anticorpos no sangue, além do exame de espirometria. O último foi capaz de registrar uma redução de até 85% do volume de ar esperado para crianças com a mesma idade, o mesmo peso e a mesma estatura, mas sem a exposição aos poluentes. “Nosso estudo mostra que a exposição precoce à poluição do ar relacionada ao tráfego a longo prazo tem efeitos adversos sobre a saúde respiratória em crianças, particularmente entre aquelas com alergias”, detalha o pesquisador Göran Pershagen, professor do Instituto de Medicina Ambiental em Estocolmo, Suécia. 

Segundo o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), quanto maior o pulmão, maior será o volume de ar que a criança consegue expelir durante o exame. No entanto, os poluentes a que elas foram expostas agridem as células respiratórias, provocando inflamações, infecções, crises de bronquite e até a morte de células do órgão. Tudo isso na fase da vida em que os alvéolos pulmonares ainda estão em desenvolvimento. 

Kirchenchtejn considera que a redução de volume de ar tem um significado estatístico, mas ainda não leva a sintomas clínicos. A criança não terá falta de ar, por exemplo, aos 8 anos, mas é preciso considerar que ela provavelmente estará exposta ao perigo até os 20, 60 anos e, nesse estágio, talvez faça muita diferença. “No futuro, você aumenta as chances de ter um desenvolvimento pior do pulmão. É uma reserva funcional que está diminuindo. A pessoa fica mais suscetível a doenças respiratórias e, se adquirir alguma, tende a ser mais grave que alguém que tem a plenitude da reserva”, aponta Kirchenchtejn.

Em formação No artigo, os pesquisadores alertam que os alvéolos pulmonares são formados não só durante o período pós-natal precoce, mas durante toda a infância e a adolescência. A maturidade do órgão só é atingida aos 18 anos pelas mulheres e por volta dos 20 anos nos homens. Até essa faixa etária, o órgão precisa se desenvolver de maneira sadia para um funcionamento regular. Ainda assim, o grupo de pesquisadores suecos ressalta que, ao comparar os resultados encontrados no primeiro ano de vida dos participantes, os anos seguintes de exposição causaram menor impacto na função respiratória deles.

O pneumologista Ubiratan de Paula Santos, da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, conta que um outro estudo conduzido por pesquisadores americanos há alguns anos fez o acompanhamento do período seguinte ao divulgado pelo grupo sueco. Indivíduos dos 8 aos 18 anos foram observados por um longo período, com conclusões muito similares às anunciadas na semana passada. “O que eles não sabem é se a redução no crescimento do pulmão terá alguma implicação na vida do indivíduo adulto. Não sabemos ainda, na verdade. Uma criança exposta na infância à poluição veicular terá problemas se decidir ser um atleta de alto rendimento? Estará em desvantagem se comparada a quem não foi exposto? E se forem fumantes?”, questiona Santos.

Ricardo Martins, da Comissão Científica de Infecções Respiratórias da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, afirma que os pesquisadores suecos conseguiram traduzir em números o que já é observado nos consultórios. Ele destaca que o maior poluente ambiental de uma cidade é o carro, especialmente naquelas onde não há incentivo ao transporte coletivo. “Temos pessoas desenvolvendo doenças pulmonares obstrutivas crônicas e agudas sem nunca ter fumado, sendo que 80% dessas doenças estão ligadas diretamente ao tabagismo”, analisa. 
O especialista considera que, em Brasília, esses números ainda não são tão expressivos, mas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o prejuízo da poluição ambiental à estrutura pulmonar está bem documentado. Um estudo da Universidade de São Paulo, por exemplo, mostrou que um morador do centro urbano absorve o equivalente a seis cigarros por dia. A agressão aos pulmões é a mesma que a sofrida por um tabagista. “Essas doenças pulmonares já existiam, mas se agravaram com a comercialização do cigarro. Podemos ver pessoas diagnosticadas cada vez mais cedo. A tendência é que essas crianças submetidas a esse impacto de poluição também desenvolvam doenças mais cedo.” 

Fluxo de ar avaliado


Também conhecido como prova de função pulmonar ou prova ventilatória, o exame consiste no registro dos vários volumes e fluxos de ar por meio de um aparelho que mede a velocidade e a quantidade de ar que um indivíduo é capaz de colocar para dentro e para fora dos pulmões. As crianças avaliadas na pesquisa respiraram pela boca por meio de um tubo conectado ao aparelho (espirômetro) e assopraram com o máximo de força e rapidez possível. O processo pode ser repetido várias vezes.

Kristen Stewart e Robert Pattinson falam sobre o último episódio de 'Crepúsculo', que chega aos cinemas nesta semana


FOLHATEEN
Fim de uma era
Kristen Stewart e Robert Pattinson falam sobre o último episódio de 'Crepúsculo', que chega aos cinemas nesta semana
SILAS MARTÍENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Depois de gravar a última cena da saga "Crepúsculo", Kristen Stewart, a Bella, diz que se sentiu "leve como uma pluma". "Vivemos essa fantasia por um tempo suficiente, acho que deu para saciar", contou a atriz numa entrevista num quarto de hotel em Los Angeles. "E é bom poder sair disso tudo a essa altura."
Quando o quinto episódio da série sobre vampiros adolescentes, "Amanhecer - Parte 2", estrear nesta quinta, será o fim de um fenômeno que já faturou R$ 5 bilhões em bilheterias no mundo e fez de Stewart e Robert Pattinson, seu namorado em cena e na vida real, um dos casais mais magnéticos de Hollywood.
Tanto que os paparazzi não desgrudam suas lentes de Stewart e flagraram a atriz em plena escapadela amorosa aos beijos com Rupert Sanders, que a dirigiu em "Branca de Neve e o Caçador".
Infidelidades conjugais à parte, os fãs não abandonaram Bella, a garota frágil e insegura que se apaixona pelo soturno Edward - na verdade, um vampiro.
No novo filme, depois que ela engravida e precisa também se tornar vampira para dar à luz uma bebê imortal, o casal retoma o romance tórrido dos episódios anteriores, já que Bella tem os mesmos poderes de Edward -ela chega a caçar um leopardo e cravar os dentes na nuca do bicho.
Numa das cenas mais aguardadas do último episódio da série, o casal transa como vampiro e vampira. Embora Stewart diga ter achado "ridícula" a ideia de gravar olhando para a câmera, envolvendo o espectador, a cena, que às vezes lembra um comercial de xampu surreal, causou alvoroço numa sessão para fãs em Los Angeles.
"Muito pode ser dito sobre por que vampiros são sexy", diz Stewart. "Nesse caso, como uma menina, você gosta de imaginar que pode tirar vantagem da situação, chupar a vida de alguém e guardar para você essa força."
Pelo menos em Hollywood, Stewart tem a força. Está cotada para estrelar um filme com Ben Affleck e arrancou elogios da crítica por sua tresloucada Marylou em "Na Estrada", de Walter Salles.
"Tinha 17 anos quando comecei e tenho 22 agora. Acho que meu progresso como atriz espelhou o da Bella", diz Stewart. "Ela não se tornou uma pessoa diferente, mas pôde encontrar aquela sensação que borbulhava lá dentro, o que a enlouquecia."
SEM CONTROLE
Enquanto isso, Pattinson, 26, que este ano protagonizou "Cosmópolis", do aclamado diretor David Cronenberg, diz ter cansado da loucura e que está tentando pôr a vida em ordem depois do furacão "Crepúsculo". "Parece que só agora minha vida vai avançar."
Ele lembra que há cinco anos, quando conheceu Stewart e fez o teste para o filme, ficou tão nervoso que tomou um calmante. E muitos mais comprimidos foram necessários para lidar com o estresse das gravações e todo o assédio da mídia.
De fato, muita coisa mudou de lá para cá -do primeiro episódio, em que o elenco tinha dúvidas sobre o que estava filmando, se era um filme infantil ou terror maluco, a uma franquia bilionária.
"Quando algo se torna tão grande, você perde o controle", diz ele. "O lance de 'Crepúsculo' é que é muito fácil para as revistas de fofoca confundirem o enredo do filme com a minha vida real."
Pattinson conta que já pensou em processar fotógrafos que o perseguiram, mas desistiu. "Se você entra numa briga com esses grandes conglomerados de imprensa, é pior", diz o ator. "Você gasta milhões de dólares por causa de uma foto que já foi publicada de qualquer jeito."
Sua ideia agora é dar um tempo e se desvencilhar de Edward, embora não seja tão simples quanto tirar as lentes de contato avermelhadas e a maquiagem de vampiro.
"Não estou querendo provar que sou outro tipo de ator, abandonar tudo, porque você fracassa fazendo isso. Mas quero fazer outras coisas, continuar seguindo os meus instintos."

Torcendo para a oposição - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 12/11/2012


PSDB deve apostar na classe média que cresceu com o PT


E PSDB, maior partido de oposição, está frente a uma escolha decisiva: ou continua a nutrir o ressentimento da classe média tradicional ante a ascensão social dos mais pobres, ou conquista justamente esses ex-pobres, que subiram na vida com o governo Lula, oferecendo-lhes algo que o PT já não seria capaz de fornecer. Ou os tucanos apostam na velha classe média, como tem feito sobretudo a seção paulista do partido, ou lutam pela nova classe média. Ou ficam no ressentimento, ou partem para a proposta. Quedam-se no passado ou projetam um futuro.

O título deste artigo pode soar estranho, ainda mais se eu disser que o melhor que os cidadãos temos a fazer é torcer para a oposição - e para o governo. Torcer contra o governo é querer que ele não faça o que deve fazer. Isso prejudica a todos. Ninguém ganha se a produção, a saúde e a educação piorarem. Mas torcer para a oposição é apostar no futuro. Um dia, a oposição será governo. Se for boa na oposição, poderá ser boa no governo. A história recente mostra que os melhores governos vêm das oposições mais fortes em seus projetos: PSDB e PT. O governo é o presente, a oposição é o futuro - só que não se sabe quando chegará esse futuro, nem com qual oposição.

Mas o que entender, hoje, por oposição? Se decantarmos a gritaria própria a uma eleição, restam uma oposição visível e uma invisível. A visível é o PSDB, que continua anexando o minguado DEM e o nunca robusto PPS. Os tucanos são hoje a única força política viável que se opõe ao Planalto. Eles formam a oposição realmente existente. Quem quiser tirar o PT da Presidência precisa pensar no PSDB. Já a invisível, da qual falarei outra semana, são os verdes.


Fernando Henrique, meses após a eleição de 2010, publicou na revista "Interesse Nacional" o artigo "O papel da oposição" (no singular, porque ele não considera os verdes). A tese maior é que o PSDB deve disputar com o PT a classe média, não os pobres. Não diz, mas é óbvio, que a classe média cresce devido às políticas petistas. De 2005 a 2010, cinquenta milhões de pessoas foram das classes D e E para a C. A injusta pirâmide social que caracteriza o Brasil cedeu lugar a um losango, no qual se destaca a classe C. Portanto, a ideia é que o PSDB, em vez de ser apenas o pré-Lula, seja também e sobretudo o pós-Lula. Ele se beneficiaria da herança "bendita" dos governos petistas, bem como das limitações deles para aprofundá-las. Se o maior projeto de Dilma Rousseff é converter o Brasil num país de classe média, para os tucanos o melhor será surfar nos resultados, se possível felizes, dessa ação. O PT só ofereceria aos pobres o que eles não têm, poder de compra, não seus novos desejos e necessidades. O PSDB, sim, mas desde que lute por isso. E a oportunidade se deve justamente ao crescimento petista da classe C.

O PSDB está na curiosa condição de um partido que tem nome para disputar a Presidência - um nome simpático, fotogênico, disposto a negociar - mas carece de conteúdo definido. Tem um comunicador, o que na democracia de massas é trunfo essencial, mas não sabe o que comunicar. Comparemos: FHC comunicava-se bem com a sociedade e sabia o que lhe dizer; José Serra tinha conteúdo, porém comunicou-se mal - e seu próprio conteúdo terminou contaminado pelo preconceito religioso. Já Aécio comunica bem, mas não está claro o quê. A falha é do partido. O PSDB não sabe o que oferecer hoje à sociedade, fora o discurso reativo do rancor antipetista, que afundou dois candidatos seus ao Planalto.

A questão é ir além do poder de compra, para definir a classe média. Pirâmide e losango falam de dinheiro recebido. Mas o eixo da ascensão social é a educação, até mesmo para melhorar a qualidade de nossas eleições. Temos de aprimorar a educação, garantir a saúde, firmar a cidadania. Acrescento: boa parte dessa classe média poderia ser ganha pelo empreendedorismo. Ela não precisa ter como sonho - ou pesadelo - o assalariamento. Pode empreender. Ora, o empreendedorismo é a versão mais recente do projeto liberal, isto é, do projeto da livre iniciativa, do empresário, no caso, pequeno ou médio, que tem no lucro o motor da ação. No desenho político, defender esse projeto deveria caber a um partido liberal. O mais próximo que temos do liberalismo é o PSDB.

Já comentei o absurdo que é um governo petista fazer mais pelo empreendedorismo do que os tucanos. Se é bom o PT incentivá-lo, o que causa estranheza é que, ideologicamente, a oposição deveria enfatizar ainda mais esse tema.

Serão os tucanos capazes de compor uma cesta de propostas adequada à classe média? Por ora, sua oratória política oferta à classe média um produto envelhecido: o moralismo como peça retórica com a finalidade, nem tão oculta, de reforçar a classe média tradicional no ódio aos pobres que subam na vida (moralismo esse que não se confunde com a verdadeira e necessária moralidade). Correm o risco de repetir a ação da UDN contra Getúlio Vargas, que o partido conservador detestava não tanto por seus erros e crimes, mas pelo acerto de trazer os mais pobres para a cena política. Mas o PSDB não é filho ou neto da UDN. Ele pode ter um discurso para os ex-pobres, ou os ainda pobres. Só que, para isso, precisa parar de nutrir o ressentimento dos que mantêm o nível bom de vida, mas sentem raiva porque esse nível está deixando de ser (seu) privilégio. Aliás, onde foi dar a UDN? Não conseguindo votos, abriu caminho para o golpe militar de 1964 - que, por sua vez, a extinguiu. O PSDB pode propor coisa melhor ao Brasil. Tem candidato. Falta definir um projeto, que é possível.

'O elenco está fraco. De rica, não tem nenhuma' diz Val Marchiori - 'Mulheres Ricas'


'O elenco está fraco. De rica, não tem nenhuma' diz Val Marchiori
Segundo diretor, futilidade e malícia deixaram Val fora da segunda temporada do programa
Novas participantes tinham preconceito sobre o formato e alguns familiares não recebiam bem o convite
DE SÃO PAULO
Depois de uma primeira temporada de sucesso na TV e muita repercussão na internet, a Band não esperava ter dificuldade em selecionar as candidatas para a segunda edição de "Mulheres Ricas".
Não foi o que ocorreu.
O diretor argentino Diego Pignataro entrevistou 75 socialites e, até chegar à nova formação, enfrentou o preconceito das próprias convidadas e de suas famílias.
O sentimento de repúdio à atração muito se deveu a atuação de Val Marchiori na primeira temporada.
A controversa emergente paranaense ficou famosa por alfinetar as colegas, pelo bordão "hello!" e por fazer questão de exibir joias e dinheiro.
Ela também tinha uma obsessão por champanhe, que bebia desde cedo, numa taça banhada a ouro.
"Disse não. Não tinha nada a ver comigo. Mas falaram que o formato seria mais light. Trabalho, tenho filho e estudo", diz Mariana Mesquita, que se define como uma mistura de patricinha com maloqueira. Chamada pelo diretor de "panicat", por causa do porte sarado, ela enfrentou resistência do marido, o ex-jogador Luizão, que não a queria no programa.
"A primeira temporada só mostrou futilidade. Ninguém bebe champanhe e compra o dia inteiro", faz coro Aeileen.
Mais jovem das ricas, aspirante a cantora e "wanna be famous", segundo Diego Pignataro, ela é herdeira de um haras no Espírito Santo.
"O Carlos Alberto [de Nóbrega, humorista do SBT] levou um susto com o convite", diverte-se Andréa Nóbrega.
"Quando você decide que seu personagem será do mal, você corre o risco de ser muito popular, como foi a Carminha de 'Avenida Brasil', ou de as pessoas virarem as costas. Acho que a futilidade e a malícia de Val Marchiori deixaram-na de fora do programa", afirma o diretor.
Procurada pela Folha, no entanto, a socialite afirma ter sido chamada para integrar a nova edição do "Mulheres Ricas".
"Queriam que eu fizesse participações, mas achei o elenco muito fraco. Não participaria com essas mulheres", diz ela, atualmente com contrato com a Record. "Estou feliz na emissora. De rica, ali não tem nenhuma...".
"Se a Zilu [ex-mulher do sertanejo Zezé Di Camargo] tivesse fechado ou a Bia Barros ou até mesmo as antigas participantes, eu pensaria no caso."