segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Na boca da urna -




Adolescentes falam sobre a escolha de seus candidatos no segundo turno em SP


RODRIGO LEVINO

EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

No próximo domingo (28), quando acontece o segundo turno da eleição municipal em São Paulo, cerca de 500 mil jovens entre 16 e 20 anos estarão aptos a escolher entre José Serra(PSDB) e Fernando Haddad (PT).
Desse total, pouco mais de 21 mil têm 16 anos, idade em que se pode ir às urnas pela primeira vez.
Se comparado ao tanto de eleitores da cidade (cerca de 8,6 milhões), o número dos estreantes parece ínfimo, embora seja suficiente, por exemplo, para decidir uma campanha de páreo duro.
A importância do voto dos adolescentes, no entanto, reside em outro aspecto além do numérico. Votar é se tornar personagem da vida política do país.
Quando se escolhe um candidato a prefeito, está se optando por propostas amplas, que vão de melhorias na educação, no transporte e na saúde públicos, até detalhes mais palpáveis como a coleta de lixo no bairro.
Para Vitor Marchetti, cientista político da Universidade Federal do ABC, o voto do adolescente é como um rito de passagem.
"É quando você deixa de pensar apenas em aspectos privados de sua vida, como amigos, escola e preferências culturais, e passa a refletir sobre como se insere em questões da vida pública e o que quer para o futuro da cidade onde vive."
Ou seja, o voto é a expressão de uma escolha individual que se baseia também no interesse da coletividade. É quando a gente se torna cidadão, com direitos e deveres políticos, podendo cobrar quem nos representa.
A ESCOLHA
O caminho até a escolha é variado. Para a estudante Giulia Cardoso, 16, a conversa com amigos e a leitura de jornais foram fundamentais no primeiro turno. Até para mudar o voto de familiares.
"Convenci algumas pessoas da família, que iam votar em branco ou anular o voto, a refletir melhor e perceber que havia candidato com boas propostas, sim", conta.
A observação de Giulia toca em um aspecto importante do debate político: o risco de despolitização que nasce de expressões como "os políticos são todos iguais".
Quando questões assim se fixam na mentalidade da maioria, abre-se um caminho para maus políticos, que certamente terão quem vote neles se abstendo de refletir a respeito.
É mais ou menos como pensa a estudante Júlia Galhardo, 16. "Não acredito em candidato perfeito. Todos erram e têm seus interesses. Mas acredito que há quem pense mais em ajudar a população". Para ela, é o critério mais importante.
NA HORA DO VOTO
Independentemente do meio pelo qual se vai conhecer melhor os candidatos, destrinchar os seus planos de governo e pesquisar sobre o histórico de cada um na vida pública é a uma forma de dar consistência ao voto.
"Conhecer as propostas de cada um ajuda a saber como cobrá-los depois de eleitos, né?", ressalta Renan Brienza, 16, que votou pela primeira vez neste ano e já se vacinou contra certos truques.
"Os programas eleitorais gratuitos ajudam bastante a definir em quem vamos votar, mas acho importante prestar atenção no caráter apelativo e emocional de algumas propagandas."
Brienza chegou a pensar em mudar o voto por causa das pesquisas eleitorais, que mostravam outro candidato, que não o seu, à frente. Mas chegou à conclusão de que é mais importante votar em quem melhor representa as suas ideias do que em quem tem chance de ganhar.
Com a disputa centrada em apenas dois candidatos, a escolha fica facilitada. Familiares dão pitaco, jornais e TVs cobrem a campanha diariamente, o assunto bomba na web, principalmente nas redes sociais.
É o futuro da cidade que está em jogo, e o jovem é parte importante disso.

Arquivo de Alan Lomax está na web


INTERNETS

RONALDO LEMOS
@lemos_ronaldo

Uma verdadeira joia está disponível na rede: foi digitalizado neste ano parte do arquivo de Alan Lomax. Para quem não conhece, trata-se do pesquisador musical que junto com o pai, John Lomax, gravou desde o começo século passado (inicialmente em cilindros de cera) músicas cantadas por negros nas lavouras, prisioneiros e outras populações segregadas.
No arquivo dá para ouvir, por exemplo, uma versão emocionante da balada "Stagolee", regravada até os dias de hoje (ouça em: bit.ly/AFq0oG).
O trabalho dos Lomax foi essencial para a formação do folk nos anos 60, influenciando Bob Dylan ou Bruce
Springsteen. Não bastasse isso, Alan era visionário. Muito antes do Spotify, ele concebeu a ideia de um "jukebox global", em que a música seria acessível universalmente, permitindo classificá-la em "ramos" específicos.
Essa mesma ideia permitiu depois a criação de sistemas de recomendação de sites como Pandora ou Last.fm.
Para quem não se contentar apenas com o arquivo digital, uma bela biografia em quadrinhos foi publicada na França no ano passado. Ela conta um pouco das peregrinações dos dois pesquisadores pelo sul dos EUA (veja aqui: bit.ly/OJp62z).
Há missões musicais importantes no Brasil, como a que Mário de Andrade fez no interior do país nos anos 30. Ou ainda, o "Música do Brasil", feito na década de 90, que virou programa de TV apresentado por Gilberto Gil.
É uma pena que nenhuma esteja disponível de forma organizada na internet.
READER
JÁ ERA O K-Pop (pop coreano) só na Coreia
JÁ É O hit "Gangnam Style", cantado em coreano, dominando os EUA
JÁ VEM Girls Generation, grupo da Coreia que quer ser o novo estouro

Cresce registro de sífilis em bebês no país



De acordo com Ministério da Saúde, aumento de 53% em dois anos se deve ao maior esforço de diagnóstico precoce
Médico afirma, no entanto, que elevação dos números também ocorre por uma maior incidência da doença

JOHANNA NUBLAT

DE BRASÍLIA

O registro de casos de bebês que nasceram com sífilis subiu 53% no intervalo de dois anos, passando de 6,1 mil casos em 2009 para 9,4 mil em 2011.
Em comparação, nos cinco anos anteriores, a alta desses casos não chegou a 9%.
Para o Ministério da Saúde, a aceleração é positiva porque reflete o esforço de identificação precoce da doença e de redução da taxa de casos que não eram notificados -estimada no passado em cerca de 60%.
"Até 2005, a gente tinha poucos casos notificados, o que aparentemente era bom. Mas, em 2004, por estimativas indiretas e juntando os óbitos, chegamos à conclusão de que tínhamos 12 mil casos por ano", diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde da pasta.
A sífilis pode ser transmitida ao feto pela mãe. A depender da gravidade e da forma de manifestação, a doença pode causar alterações ósseas, comprometimento do sistema nervoso central e até a morte da criança.
A doença é evitável no bebê caso a gestante receba o diagnóstico e seja tratada. A meta é baixar a incidência, hoje em 3,3 casos por mil bebês nascidos vivos, para menos de um em mil até 2015.
Para chegar a isso, a estratégia é ampliar a oferta de testes rápidos contra a sífilis no pré-natal do SUS, que garantem a entrega do resultado à grávida antes do parto.
"Em casos de gestantes com dificuldade de se deslocar ao pré-natal, o exame tradicional era feito, mas se perdia a oportunidade de tratar a mulher, e o bebê nascia com a doença", diz o secretário.
A expectativa é que, até o fim de 2014, todas as gestantes atendidas na rede pública façam esse teste rápido.
Heloisa Helena Marques, do departamento científico da Sociedade Brasileira de Pediatria, concorda com a explicação de que o aumento se deve à maior identificação e não ao crescimento de casos.
"Ter 5.000 casos e ter um aumento é um indicador de que a gente está testando mais", afirma ela.
O esforço de melhorar o diagnóstico da gestante é antigo, segundo a médica. Quando isso não é possível, diz, um teste imediato da criança permite o tratamento precoce, além do acompanhamento da família.
Já para Sérgio Peixoto, professor de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP, os dados devem servir de alerta para o crescimento das doenças sexualmente transmissíveis.
"Concordo que tínhamos o problema da subnotificação. Na sífilis, estamos vendo um aumento nos dois lados: tanto na incidência da doença quanto nas notificações."
Helena Shimizu, coordenadora do programa de pós-graduação em saúde coletiva da UnB, destaca a necessidade de melhorar a estrutura de diagnóstico e tratamento.
"A abordagem clínica é simples, mas falta estrutura. Já a abordagem social do problema não é muito simples."

O poder das pequenas ideias


LULI RADFAHRER

Nunca foi tão fácil criar tecnologias inovadoras a partir do quintal de casa ou da mesa do trabalho

Houve um tempo em que todos podiam ser inventores. Bastava um pouco de tempo livre e espírito questionador para criar engrenagens em oficinas caseiras. Até a segunda metade do século 20, boa parte das descobertas era rudimentar, de compreensão direta e fácil reprodução.
Com o tempo, as invenções ganharam sofisticação e proteção industrial, até se tornarem grandes demais para que seus mecanismos fossem compreendidos. A situação chegou a um extremo: a constituição de praticamente qualquer bem de consumo se tornou hermética.
A evolução tecnológica é, naturalmente, bem-vinda. Mas o processo em que ela se desenvolveu trouxe consigo um desperdício e uma limitação criativa sem precedentes. Em uma época que tanto se valoriza o ambiente e a inventividade, não faz sentido ainda usarmos fogões descartáveis, geladeiras blindadas ou brinquedos impossíveis de consertar ou alterar. Cada aparelho trocado gera consigo grandes quantidades de lixo eletrônico na forma de cabos, adaptadores e baterias.
É senso comum que a situação precisa mudar. Mas, ao contrário do que defendem saudosistas e tecnófobos, a saída não está no enfrentamento à base de marretas, mas no uso de chaves de fenda, multímetros e fóruns na internet.
A revista "Make", referência para quem não se contenta em ser mero usuário, resume essa filosofia com a frase "se você não pode abri-lo, ele não é seu". Os iPhones, que proíbem até troca das baterias, são alvos evidentes. Mas não são os únicos. Como eles, câmeras, TVs, video-games, relógios, motores e boa parte dos aparelhos cotidianos está além de qualquer escrutínio.
Até mesmo nas grandes empresas há uma preocupação em devolver ao processo industrial sua característica modular. Hoje, com a concorrência grande e pouca distinção real entre marcas ou modelos de produtos, é cada vez mais difícil inventar algo realmente novo. Uma boa solução está na criação de aparelhos integrados, abertos para intervenção por quem se habilite.
A prova que tal modelo funciona pode ser vista na internet, onde sistemas de código aberto permitem que novas ideias complementares apareçam a cada instante.
Não é mais preciso desenvolver aplicativos ou sistemas operacionais completos, em um processo lerdo, burocrático, vulnerável e supérfluo. Pequenos módulos, criados ao redor do mundo, se complementam em simbiose. Sejam desenvolvidos com objetivos comerciais, filantrópicos ou por mera curiosidade, esses organismos promovem a inovação em uma escala sem precedentes, permitindo que qualquer indivíduo crie, no quintal de casa ou na mesa de trabalho, uma tecnologia que pode ajudar a mudar o mundo.
O terreno é muito mais fértil do que foi o final dos anos 1970 nos EUA, quando jovens curiosos transformavam a garagem da casa dos pais em pequenas oficinas para criar os primeiros computadores pessoais. Como naquela época, as novas ideias não surgem de consultorias, "think tanks" ou departamentos burocráticos de grandes empresas, mas de grupos de amadores cuja verba costuma ser inversamente proporcional ao entusiasmo. E há sinais deles em praticamente qualquer área do conhecimento.
ANDRÉ CONTI
escreve neste espaço na próxima semana

Bytes de Memória - Gus Morais


QUADRINHOS


Windows 8


8
Pressionada pelo crescimento do mercado de aparelhos móveis, Microsoft lança na próxima quinta-feira o Windows 8, nova versão do sistema operacional mais usado no mundo e que foi totalmente reformulado
Windows 8
Windows 8


BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na próxima quinta-feira, em uma série de eventos simultâneos em vários países, a Microsoft fará o mais importante lançamento de sua história recente: apresentará oficialmente o Windows 8, a nova versão do sistema operacional utilizado por 92% dos computadores do mundo.
O novo programa não carrega só o peso de repetir o sucesso do Windows 7, lançado em 2009 e que teve 650 milhões de licenças vendidas, ou de manter a hegemonia da Microsoft no mundo da computação pessoal, que dura mais de duas décadas.
O Windows 8 será a principal peça na transição da companhia para aquilo que Steve Jobs batizou de "era pós-PC", em que máquinas são ultramóveis, telas respondem ao toque, interfaces são mais atraentes, e dispositivos estão conectados à web e sincronizados entre si.
Para isso, o sistema operacional mudou: foi projetado para telas de toque e ficou com visual de smartphone.
A Área de Trabalho, interface tradicional do sistema, e o menu Iniciar, deram lugar a uma tela inicial com grandes e coloridos ícones retangulares, que se distribuem na horizontal e exibem dados atualizados em tempo real.
Outra novidade é o menu Charms, que permite acesso rápido a funções básicas, como busca, compartilhamento e configurações do PC.
O Windows 8 se conecta à nuvem. Os documentos e arquivos guardados na máquina se misturam aos que estão hospedados na internet -uma busca no aplicativo de fotos, por exemplo, traz tanto as imagens depositadas no PC como as publicadas no Facebook ou no Flickr. E esse conteúdo da máquina pode ser compartilhado com a rede por meio de um toque.
Há ainda uma loja de apps nos moldes das controladas pela Apple (App Store) e pelo Google (Google Play).
"O Windows 8 é mais importante do que o Windows 95", declarou em setembro Steve Ballmer, executivo-chefe da Microsoft, em referência à versão do sistema operacional que introduziu elementos que pareciam cimentados à plataforma, como a Área de Trabalho e o Iniciar.
NOVOS RUMOS
A reforma do Windows 8 destoa das alterações pontuais que marcaram versões anteriores do sistema e reflete a compreensão pela Microsoft das profundas mudanças tecnológicas dos últimos anos.
A empresa reviu sua posição. Em entrevista em 2007, Ballmer chegou a fazer piada com o iPhone. O motivo: o telefone não tinha teclado.
Hoje, dados da consultoria IDC mostram que o mercado de smartphones e tablets está melhor que o dos computadores tradicionais.
No segundo trimestre de 2012, foram vendidos 87 milhões de PCs no mundo, queda de 0,1% em relação a 2011. Nesse período, foram vendidos 154 milhões de smartphones, alta de 42%, e 25 milhões de tablets, aumento de 66%.
Ao investir no mundo móvel após a concorrência, a Microsoft encolheu. O Windows Phone, seu sistema operacional para celulares, foi lançado só em 2010 e hoje está em apenas 1% dos aparelhos.
No último trimestre fiscal, sua receita foi de US$ 16,01 bilhões, queda de 8% em relação ao mesmo período de 2011. O lucro, de US$ 4,47 bilhões, também caiu: 22%.
O faturamento atual é inferior ao gerado pela Apple só com o iPhone: US$ 16,24 bilhões no mesmo período.

Com dois sistemas em um, novo Windows deixa a desejar
Interfaces funcionam bem separadamente, mas integração é ruim
Visual metro, ótimo para tela sensível ao toque, interfere na área de trabalho, que vai melhor com teclado e mouse
EMERSON KIMURA
DE SÃO PAULO
Usuários do mundo inteiro estão habituados ao visual do Windows. A estrutura de sua interface, com o menu Iniciar e a barra de tarefas, pouco mudou desde a versão 95.
Agora, 17 anos depois, a Microsoft lança um sistema com aparência renovada, o Windows 8. A nova versão, porém, não abandona totalmente o visual antigo. Em vez disso, apresenta duas interfaces.
Uma usa o estilo Metro (codinome que deve dar lugar a nomes comerciais ainda não divulgados) e chama a atenção por elementos grandes e amigáveis ao toque. A outra, que aparece sob o nome de Área de Trabalho, é semelhante à do Windows 7.
Elas funcionam bem em distintas situações de uso. A nova é ótima em equipamentos com telas sensíveis ao toque, enquanto a Área de Trabalho é melhor para operação com teclado e mouse.
Essa dualidade não se limita às interfaces. Os apps oferecem visual e recursos diferentes dependendo de onde estão.
O Metro possui uma ótima experiência de uso com toque. Os comandos não são intuitivos, mas é fácil se acostumar.
Os aplicativos Metro, em geral, oferecem menos recursos do que programas que funcionam na Área de Trabalho. Muitos não têm menus ou barras de ferramenta aparentes.
Faz sentido. O Metro é um visual voltado a tablets, que funcionam melhor para consumo do que para criação de conteúdo. Menus e barras são úteis em situações que requerem maior produtividade -e, nesse caso, o Windows 8 tem a Área de Trabalho.
Em tese, portanto, o sistema apresenta o melhor dos dois mundos: uma bela interface para toque e o consolidado ambiente para teclado e mouse. Na prática, porém, o resultado deixa a desejar.
A integração entre as duas interfaces não é fluida, o que dá ao Windows 8 um ar de trabalho inacabado.
A melhor experiência ocorre quando você consegue usar apenas uma das interfaces. Mas isso é muito difícil -frequentemente, uma invade o espaço da outra.
Na Área de Trabalho surgem notificações no estilo Metro, e o usuário tem de mudar de interface para utilizar funções simples, como a busca. Muitas configurações e ferramentas do sistema, por sua vez, não têm versão Metro -só abrem na Área de Trabalho.
O Internet Explorer 10 oferece versões separadas para o Metro e a Área de Trabalho, mas elas não se comunicam direito. Abas e favoritos, por exemplo, não podem ser sincronizados entre elas.
A Microsoft provavelmente sabe que a integração não oferece, ainda, uma experiência de uso ideal. Por que a empresa fez isso, em vez de adotar o modelo da Apple, com um sistema para PCs (OS X) e outro para tablets (iOS)?
A Microsoft demonstra apostar na convergência de computadores e dispositivos móveis, com PC e tablet reunidos em um só aparelho. O sistema com duas interfaces, então, faz muito sentido.
Além disso, ao incluir o Metro em todas as versões do Windows 8, a empresa apresenta sua nova interface para uma grande base de consumidores -os usuários de PC, que ainda são bem mais numerosos do que os de tablets.
E vale a pena comprar o Windows 8?
Quem adquirir um PC novo com o sistema da Microsoft não terá muita opção -o número de máquinas novas com Windows 7 diminuirá bem.
A escolha é mais complicada para quem cogita atualizar o PC. O Windows 8 oferece melhor desempenho e mais segurança, mas também uma interface controversa. Se você acha que o Metro pode incomodá-lo, talvez seja melhor esperar a Microsoft melhorar a integração entre interfaces.


TIRE SUAS DÚVIDAS
1 Quanto custa o Windows 8? Como comprá-lo?
Vendido por varejistas de informática, a versão em disco sairá por R$ 269.
A partir de sexta, o sistema será vendido por download no site windows.com, mas o preço para o Brasil ainda não é conhecido. Nos EUA, até 31 de janeiro de 2013, usuários de Windows 7, Windows Vista e Windows XP SP3 poderão atualizar seu PC para Windows 8 Pro por US$ 39,99 (R$ 81).
2 Comprei um PC com Windows 7 recentemente. Tenho direito a desconto para comprar o Windows 8?
PCs com Windows 7 comprados de 2 de junho de 2012 a 31 de janeiro de 2013 podem ser atualizados para Windows 8 Pro por R$ 29. Mas é preciso fazer cadastro em windowsupgradeoffer.com até 28 de fevereiro de 2013.
3 Tenho dúvida se quero instalar o Windows 8. Há alguma maneira de testá-lo?
É possível baixar a Release Preview, a última versão de testes, em bit.ly/win8rpre. A licença é válida até 15 de janeiro. Mas tome muito cuidado para não apagar o seu sistema operacional atual.
4 O Windows 8 vai funcionar no meu computador?
Depende da configuração da sua máquina. O Windows 8 precisa de, pelo menos, um computador com processador de 1 GHz, memória RAM de 1 Gbyte (versão 32 bits) ou 2 Gbytes (64 bits), espaço em disco de 16 Gbytes (32 bits) ou 20 Gbytes (64 bits), placa de vídeo com suporte a DirectX 9 e tela com resolução de 1.024 pixels x 768 pixels.
5 Vou perder meus arquivos se atualizar?
Não. Arquivos serão mantidos para usuários de Windows XP, Windows Vista e Windows 7. As configurações do sistema também serão mantidas para quem vem do Vista e do 7.
6 Os programas de versões anteriores do Windows vão funcionar?
A maioria dos programas do Windows 7 deve funcionar. Para ter certeza, consulte
bit.ly/centrocomp.
7 O Windows 8 sempre vai ter essa cara de sistema de smartphone?
Sim. O Windows 8 é a tentativa da Microsoft de fazer a transição para o mundo de telas sensíveis ao toque e de padronizar o visual de seus produtos, como o Windows Phone e o Xbox 360.
8 O que houve com a Área de Trabalho tradicional? É possível usá-la?
Ela virou um ícone na nova tela inicial para rodar programas de Windows tradicional e aplicativos indisponíveis na Windows Store.
9 Não gosto do Internet Explorer. Posso usar outro navegador?
Sim, mas, por enquanto, faltam versões desenhadas com o estilo Metro. O Google Chrome até funciona na nova interface, mas apresenta o mesmo visual da versão tradicional, sem elementos que facilitam o uso por toque.
10 O que houve com o menu Iniciar?
Ele foi eliminado do Windows e não é possível usá-lo de forma oficial (alguns desenvolvedores independentes estão tentando criar alternativas).
11 Para que serve a nova Windows Store?
É uma loja com programas pagos e gratuitos, como a App Store, da Apple. Para usá-la, é preciso criar uma conta.
12 Onde está o Windows Media Center?
A central de arquivos multimídia foi removida do Windows 8. Para utilizá-la, é preciso comprar um pacote adicional.

Ao menos 13 marcas terão modelos com novo sistema
Ultrabooks e desktops com Windows 8 estarão no mercado já nesta semana
Grandes redes varejistas colocam em pré-venda na internet aparelhos que custam a partir de R$ 1.199
DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os ultrabooks, laptops finos e leves, devem ser os carros-chefe dos equipamentos com Windows 8 no Brasil.
Além deles, aparelhos híbridos (que funcionam como tablet e notebook), desktops e laptops convencionais serão apresentados em um evento da Microsoft em São Paulo nesta quinta. Pelo menos 13 marcas deverão expor produtos que usam o novo sistema.
A LG mostrará o Z355, ultrabook com tela de 13,3 polegadas e chip Intel Core i7, que será vendido por R$ 4.299.
O ultrabook Aspire S7 e o tablet Iconia W700 serão os destaques da Acer. O primeiro tem modelos com tela sensível ao toque de 11,6 polegadas ou 13,3 polegadas e chip Intel Core i5 ou i7. Os preços no Brasil não estão definidos -nos EUA, custam a partir de US$ 1.199 e US$ 1.399.
O W700, que pode ser acoplado a um teclado, tem tela de 11,6 polegadas e resolução de 1.920 pixels x 1.080 pixels e chip Core i3 ou i5. O preço por aqui ainda não foi anunciado -nos EUA, é vendido por ao menos US$ 800.
A Lenovo mostrará o ultrabook IdeaPad Yoga, cuja dobradiça permite abrir a tela em 360 graus, transformando o aparelho em tablet. Terá versões com touchscreen de 11,6 polegadas e 13,1 polegadas, mas só esta última está confirmada para o Brasil.
PRÉ-VENDA
Alguns modelos já estão em pré-venda em sites de grandes varejistas, como Ponto Frio, Americanas, Fast Shop e Submarino. Todos prometem entregar a partir da sexta-feira.
O Samsung 530U3C-AD3, ultrabook com tela de 13,3 polegadas e processador Core i5, sai por R$ 2.649. Por R$ 3.299, é possível comprar o ultrabook HP Envy 4-1150br, com tela de 14 polegadas e o mesmo Core i5. Já a Dell oferece, por R$ 2.799, o Inspiron 14z, de mesmo tamanho de tela e processador do modelo da HP.
Entre as opções mais baratas, há o laptop RV415-CD3, da Samsung, com tela de 14 polegadas e chip AMD E-300. Custa R$ 1.199.
A Positivo venderá dois modelos de desktop e quatro de notebook, em várias configurações. O desktop i8800, por exemplo, tem chip Core i3 e diversas opções de tela. Com monitor de 21,5 polegadas, custa R$ 1.599; com tela de 18,5", cai para R$ 1.499.
Outras marcas que venderão produtos com Windows 8 no Brasil são Asus, CCE, Itautec, Megaware, Semp Toshiba e Sony -consultadas pela Folha, elas não quiseram divulgar seus modelos. (EMERSON KIMURA e BRUNO ROMANI)


Microsoft lança tablet Surface e versão adaptada do Windows 8
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Junto ao Windows 8, chegará às lojas na sexta o Surface, tablet desenvolvido pela própria Microsoft. É a primeira tentativa da empresa na construção de hardware para computação.
O dispositivo rodará o Windows RT, versão mais básica do Windows 8 projetada para funcionar com processadores da ARM. É a primeira vez que a Microsoft adapta um sistema operacional para chips da companhia inglesa, presentes na maioria dos tablets e smartphones.
O Surface com 32 Gbytes de armazenamento e sem a Touch Cover (capa com teclado embutido) vai custar US$ 499 nos EUA -mesmo preço do iPad mais básico, sem 3G e com 16 Gbytes. O tablet da Microsoft só tem versões wi-fi.
Em pré-venda, o estoque de Surface de 32 Gbytes foi esgotado no site da Microsoft na última quarta-feira. Estará disponível novamente apenas em três semanas.
O início das vendas no Brasil ainda não tem data marcada, e não houve pré-venda no país -presente em Alemanha, Austrália, Canadá, China, EUA, França, Hong Kong e Reino Unido.
O sucesso inicial ajudou a aliviar o medo da Microsoft de mais um fracasso na área de harware, que inclui a linha de celulares Kin e o tocador de MP3 Zune. (BR)

Empresas de jogos atacam limitações do Windows 8
Nova loja de aplicativos é o alvo dos fabricantes; Microsoft não comenta
Games violentos ou indicados para maiores de 18 anos terão uso limitado na nova versão do sistema operacional
ALEXANDRE ORRICO
DE SÃO PAULO
"Catástrofe" e "equívoco" são alguns dos termos que alguns executivos da indústria dos games têm usado para descrever o Windows 8.
As críticas são voltadas especialmente à Windows Store, loja de aplicativos que estreia no novo sistema operacional da Microsoft.
A novidade obrigou as empresas a submeterem seus jogos para aprovação da Microsoft, se quiserem estar na nova loja e ter programas integrados à interface do sistema.
"Se o nome soa como a App Store, é porque ela é mesmo essencialmente como a loja da Apple. É um mecanismo centralizado de distribuição que a Microsoft usa para controlar o que as pessoas vão comprar", diz à Folha Casey Muratori, programador envolvido na criação da série de games "Age of Empires".
Os games que a Microsoft não aprovar para a Windows Store ainda poderão ser instalados, já que a plataforma não é 100% fechada.
"Mas o futuro aponta para um ecossistema bloqueado, se analisarmos o histórico de decisões da companhia. A Microsoft está cometendo um equívoco", diz Muratori.
Markus Persson, criador do sucesso indie "Minecraft", que já vendeu mais de 10 milhões de cópias, se recusou a licenciar o jogo para a Windows Store. "A Microsoft tem que parar de tentar arruinar o PC como plataforma aberta", disse Persson no Twitter.
Games instalados fora da Windows Store não vão aparecer nos resultados da busca estendida, ter atalhos em blocos dinâmicos e em barras laterais, exibir notificações ao usuário ou comparar as pontuações de jogadores, dentre outras coisas -uma desvantagem competitiva para muitos desenvolvedores.
Uma cláusula dos termos de uso da Windows Store piora a situação: games destinados a maiores de 18 anos ou que contenham violência gratuita não serão comercializados na loja da Microsoft.
Isso prejudica jogos premiados como "Skyrim" e "GTA 4" e lançamentos como "Call of Duty: Black Ops 2".
No Windows RT, versão feita para dispositivos com chips ARM, a situação é ainda mais complicada, uma vez que ele rodará só apps baixados por meio da loja.
Gabe Newell, cofundador da Valve (criadora de "Half-Life") disse que o Windows 8 será uma catástrofe. Newell planeja investir no Linux e lançar, "em breve", mais de 2.000 jogos para o sistema.
Questionada pela Folha, a Microsoft optou por não responder às críticas.


Xbox 360 muda para ter maior integração com novo sistema
DE SÃO PAULO
O Xbox 360, videogame da Microsoft, desempenha um papel importante no ecossistema que a empresa pretende montar com o lançamento do Windows 8.
Até o final da semana que vem, a Microsoft terá liberado para todos os usuários do console a atualização da Live, a rede on-line do console.
O design dessa rede on-line foi repaginado para se parecer ainda mais com a interface do Windows 8.
Agora há mais blocos por página, o que diminui a quantidade de cliques até a abertura do conteúdo desejado. Porém, não há ainda a opção de reorganizar os quadros, como no Windows 8.
A integração também existe na outra ponta: haverá um aplicativo e versões de jogos da Xbox Live para PC e tablet, e os pontos de conquista (os "achievements") acumulados pelo jogador serão interconectados entre computador, tablet e videogame. Até mesmo os clássicos "Campo Minado" e "Paciência" renderão pontos de conquistas.
CONTROLE REMOTO
O SmartGlass, aplicativo para Windows 8 e Windows Phone 8 (com versões para iOS e Android), será lançado também na sexta-feira. A tecnologia permitirá o controle do Xbox Live por meio de PC, tablet ou celular. (AO)



MÔNICA BERGAMO



monica.bergamo@grupofolha.com.br

SERRA PRESIDENTE
Já está sendo lançado um movimento no PSDB para que José Serra ocupe a presidência nacional do partido caso ele saia derrotado da eleição à Prefeitura de São Paulo.
FÔLEGO
A eleição dele para o comando do partido seria uma homenagem e uma saída encontrada para que Serra não deixe a vida pública. Já estão previstos os apoios de Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin à ideia. E a oposição de Aécio Neves (PSDB-MG).
EM CASA
A Prefeitura de São Paulo também distribuiu às escolas de sua rede materiais que tratam de diversidade sexual. Um dos livros, destinado a alunos de dez anos, explica que a cidade de SP tem famílias de muitos tipos: nuclear monogâmica, multinuclear (em que as crianças transitam por casas de dois ou mais casamentos dos genitores), com filhos adotivos, com avós criando netos e também "família de casal homossexual sem filhos" e de "casal homossexual com filhos".
EM CASA 2
O material foi enviado por Alexandre Schneider (PSD-SP), candidato a vice de Serra, quando era secretário municipal de Educação. Apesar da polêmica que o assunto tem causado na campanha, ele afirma que não vê "problema" em tratar do tema nas escolas com as crianças. "A sociedade ainda tem níveis grandes de intolerância e seria um equívoco não abordarmos o assunto. Falamos não só das diferenças ligadas à sexualidade como também em relação aos deficientes, por exemplo, o que ajudou muito na inclusão de alunos com problemas nas salas de aula."
EM CASA 3
Quando secretário, Schneider estendeu aos funcionários gays os mesmos direitos dos heterossexuais, como o de licença em caso de morte. "A maior riqueza da nossa sociedade é a sua diversidade", diz ele.
BOLSA CAUÃ
Com o fim de "Avenida Brasil", Cauã Reymond pode agora se dedicar à sua estreia como produtor de cinema. Ele desembarca nesta semana em SP para apresentar a algumas empresas o projeto de "Azuis", filme baseado na obra de Rodrigo de Souza Leão.
DA SERRA AO MAR
"Sangue Azul" será a primeira grande produção rodada integralmente no arquipélago de Fernando de Noronha (PE). Para viver o protagonista, Daniel Oliveira abriu mão da superprodução "Serra Pelada", de Heitor Dhalia.
O longa sobre o garimpo seria inicialmente rodado no meio do ano, mas acabou atrasando e embolando suas filmagens com as de "Sangue" -ambas em novembro.
HOMEM-BALA
Oliveira será um homem-bala no filme. "A história começa com um circo voltando para a ilha e trazendo como atração principal um menino que tinha saído de lá há 20 anos", conta o produtor Renato Ciasca. A atriz Carol Abras, que foi a Begônia de "Avenida Brasil", vai interpretar o par do protagonista. A direção é de Lírio Ferreira ("Árido Movie").
MY NAMES IS NEYMAR
Neymar nem inaugurou seu complexo esportivo, a Arena Soccer Grass Neymar Junior, em São Paulo, e já tem proposta para abrir uma unidade na Flórida, nos Estados Unidos.
E na festa de inauguração do espaço, hoje, o cantor Robson Machado, que canta "Vem Dançar com Tudo", da abertura de "Avenida Brasil", fará um show.
CABARÉ
O ator e diretor Cacá Rosset e a pianista Cida Moreira reencenam nos dias 16 e 17 de novembro, na Casa de Francisca, o espetáculo-cabaré "Ornitorrinco Canta Brecht e Weill". Rosset e seu grupo, o Ornitorrinco, montaram a peça nos anos 70.
LANÇA DOIDA
Junior Franch
A novela está longe do fim para Gaby Amarantos, 34. Depois de "Ex Mai Love" em "Cheias de Charme", a paraense emplaca "Beba Doida" em "Salve Jorge", ambas na Globo. Como atriz, vai participar de série da Fox produzida pela O2, de Fernando Meirelles.
A parceria com a produtora não fica por aí: Gaby será dirigida por Cassiano Prado no clipe de "Chuva". Ela tem planos, ainda, de gravar um DVD com um diretor francês. "É ótimo poder ser eu mesma e deixar de ser conhecida como a Beyoncé de algum lugar."
CHORANDO SE FOI
Denise Fraga interpreta uma moradora de rua em "Chorinho", de Fauzi Arap, que estreou no teatro Eva Herz. Os atores Leopoldo Pacheco e Guilherme Leme foram ver a peça, em que também atua Cláudia Mello.
LIBERDADE EDITORIAL
O médico e apresentador Drauzio Varella lançou o livro "Carcereiros". Sua mulher, Regina Braga, e a atriz Bárbara Paz foram à sessão de autógrafos, na Livraria Cultura.
CURTO-CIRCUITO
Maria Gadú e a portuguesa Mariza se apresentam na premiação do Melhor Dentista do Mundo, promovida pela ONG Turma do Bem, de Fábio Bibancos. Hoje, no teatro Abril.
O Ministério Público de SP lança hoje revista jurídica, na Casa das Rosas.
Zuzu Abuh lê trechos de "Um Lugar para se Perder", livro de Alexandre Staut, na Livraria da Vila dos Jardins. Às 19h30.
A oncologista Silvia Brandalise, do Centro Infantil Boldrini, é tema do documentário "Andrés", exibido hoje no MIS. Livre.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIERCHICO FELITTI e LÍGIA MESQUITA

Trabalho reduz chance de preso reincidir, diz pesquisa



Probabilidade de detento que tem ocupação na cadeia voltar à criminalidade é 48% menor que de desocupados
DENISE MENCHEN

DO RIO

A análise de informações relativas a mais de 50 mil detentos que passaram por cadeias do Rio ao longo de dez anos mostrou que aqueles que trabalham durante o cumprimento da pena têm chances de reincidência 48% menores do que os demais.
Já para os que estudam, essa probabilidade é 39% inferior do que entre os que não estudam. Apesar disso, os percentuais de presos que estudam ou trabalham no cárcere são baixos no Brasil. No Rio, em 2008, eram de 16,4% e 7,3%, respectivamente.
Realizada por Elionaldo Fernandes Julião, doutor em sociologia, a pesquisa vem suprir parte da carência de informações existente hoje no sistema penitenciário.
A própria Secretaria de Administração Penitenciária do Rio, Estado onde foi feito o estudo, não tem estatísticas sobre o retorno de ex-detentos às unidades prisionais.
Para a pesquisa, Julião compilou e analisou dados da Vara de Execuções Penais referentes aos apenados de 1996 a 2006. Foram considerados reincidentes os detentos que, após cumprirem pena, voltaram à prisão em um período de até cinco anos.
"Meu objetivo era verificar se o estudo e o trabalho têm impacto na reinserção social, e a pesquisa mostrou que sim", afirma Julião.
O professor e especialistas ouvidos pela Folha, porém, ponderam que não é possível dizer taxativamente que a ocupação tenha papel central na não reincidência.
Isso porque o estudo e o trabalho podem estar atraindo pessoas que já têm menor envolvimento com a criminalidade e/ou maior disposição para se integrar à sociedade.
"Muitas pessoas podem ter buscado o estudo ou o trabalho porque já tinham tomado a decisão de não reincidir e queriam dar um sinal para a família", explica Julião.
O doutor em sociologia Anderson Moraes de Castro e Silva ressalta que, como as vagas para estudo e trabalho no sistema são escassas, os escolhidos para preenchê-las podem ter características que já facilitariam sua reinserção, como, nível de escolaridade maior do que os demais.
ATRIBUIÇÕES
Os dois criticam a oferta e o perfil das vagas, consideradas insuficientes e inadequadas para preparar os detentos para a vida em liberdade.
Muitas das funções exercidas por presos são na manutenção dos presídios. Conhecidos como "faxinas", eles ajudam na limpeza das unidades, no preparo de alimentos e na área administrativa.
Há casos em que empresas montam cursos profissionalizantes e pequenas indústrias nas penitenciárias.


Redução de pena atrai detentos para estudo e trabalho
DO RIO

A carioca Marlene da Silva Macedo, 44, decidiu trabalhar no cárcere assim que ouviu de colegas de cela que, com isso, poderia reduzir a pena de 21 anos à qual foi condenada por um crime que não revela _mãe de um menino de dez anos, ela ainda não contou a ele o que a levou para trás das grades.
Com a dedicação a diversas funções nos dois presídios pelos quais passou, aliada ao bom comportamento, Marlene foi libertada no último mês de junho, após passar 14 anos em dois presídios do Rio.
Pela legislação, cada três dias de trabalho podem resultar em um dia a menos de pena. Desde 2011, o abatimento também pode ser obtido com 12 horas de estudo, divididas em três dias.
Marlene trabalhou como monitora do refeitório, bordadeira de lingerie e na área administrativa do presídio.
Quando recebeu o benefício do regime semiaberto, passou a trabalhar na Cedae, companhia de abastecimento de água e esgoto do Rio. Lá, por cinco anos, ajudou no reflorestamento de áreas à beira de rios.
Neste ano, pouco antes de ser libertada, trocou a Cedae pelo estaleiro Mac Laren Oil, de Niterói. Foi contratada como ajudante de serviços gerais e, pela primeira vez, teve a carteira assinada. "Me senti gente, com direitos de trabalhador. Quase não acreditei", conta ela, que agora ganha cerca de R$ 1 mil por mês.
(DM)


TRABALHO NO SISTEMA PRISIONAL

7.320
Detentos do sistema prisional do Rio trabalham
Pesquisador analisou casos entre 1996 e 2006
44.989
É o número de presos que não trabalham no Rio
Bandos de dados da Justiça do Rio não possui informações sobre todos 137.500 detentos período analisado
48%
Redução nas chances de reincidência para quem trabalha
11,2%
É a proporção de detentos que trabalharam e voltaram a ser presos
26%
É a proporção de detentos que não trabalharam e voltaram a ser presos
666
É a quantidade de presos que estudavam
51.643
É o número de presos que não estudaram na prisão
39%
É a redução das chances de reincidência para quem estuda
6,3%
É a proporção de detentos que estudaram e voltaram a ser presos
24,2%
É a proporção de detentos que não estudaram e voltaram a ser presos
R$ 1,3 bilhão
São usado na reforma e construção de novas prisões e compra de equipamentos em todo o país
R$ 92,8 mi
É o valor destinado pelo para penas alternativas no país
Fonte: Livro "Sistema Penitenciário Brasileiro - A educação e o trabalho na Política de Execução Penal"

Como o crime se estendeu por mais de uma centena de municípios paulistas?


ANÁLISE
Criminalidade se espalha com jogo de sedução e medo

JOSÉ DOS REIS SANTOS FILHO

ESPECIAL PARA A FOLHA

Como o crime se estendeu por mais de uma centena de municípios paulistas?
A resposta a essa pergunta deve considerar que essas organizações visam o lucro. Algo a ser buscado de forma clandestina, é natural, já que fora da lei. Mas contam com chefia e uma hierarquia.
A contabilidade, o caixa e o estoque precisam estar em dia. Não sobrevivem sem matéria-prima ou insumos. Funcionam com comunicação interna, logística e pontos de distribuição, troca ou venda. Reivindicam mão de obra. E, principalmente, precisam de mercado e espaço para autorreprodução.
Consideradas em conjunto, por mais clandestinas que sejam, para dar conta destas atividades ou de parte delas, são obrigadas a manter redes de relações. São obrigadas a vir a público.
Para lavagem de dinheiro, para proteção de suas atividades e, inclusive, proteção de seus membros. São dependentes de agentes ligados ao mercado financeiro e do apoio de policiais dispostos a ultrapassar os limites do lícito. Sobretudo, precisam do envolvimento da população.
E, aqui, o jogo é o da sedução, do medo e/ou da combinação dos dois.
Se o serviço público é ruim, por que não aceitar o oferecido pela criminalidade?
Se imperar o medo do que pode ocorrer com a família, por que não a rendição frente às ameaças do bandido?
No limite, a extensão e a intensidade com que se espalhou o crime organizado só foram possíveis por que o Estado não estava onde devia estar. A relação do cidadão isolado com a criminalidade só comprova isso.
JOSÉ DOS REIS SANTOS FILHO é sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos sobre Situações de Violência da Unesp


Obra ausente


MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Artista recupera projeto de cúpula para a Pinacoteca, que foi inaugurada incompleta em 1900

Em 1901, quando a estação da Luz inaugurou sua nova e bonita gare, com as feições inglesas que conhecemos, já existia do outro lado da rua uma importante edificação: a sede do Liceu de Artes e Ofícios.
A instituição fora criada no final do século 19 para promover a instrução popular. Logo a seguir sofreu uma reforma e tornou-se uma espécie de escola técnica. Ministrava conhecimentos necessários ao exercício de diversas profissões demandadas pelo processo de urbanização e expansão econômica da cidade, além de formar artesãos, artistas e escultores -caso do jovem Victor Brecheret, que foi aluno do liceu antes de se aperfeiçoar na Europa.
Foi o onipresente arquiteto Ramos de Azevedo quem dinamizou a escola e a transformou numa fornecedora de serviços para a construção civil e outras atividades. Coube a ele próprio, com seu associado Domiciano Rossi, projetar a nova sede, que foi inaugurada, incompleta, em 1900.
Era a burguesia do café empenhando-se em aparelhar São Paulo com estruturas artísticas, educacionais e científicas, esforço que deu à cidade, entre outros, o Instituto Histórico e Geográfico, o Conservatório Dramático e Musical, o Theatro Municipal, o Museu do Ipiranga e a Sociedade de Cultura Artística.
Cinco anos depois de sua inauguração, a sede do liceu passou a abrigar também a Pinacoteca do Estado, criada para ser o primeiro museu de arte da capital. Artistas que ganhavam bolsas do Pensionato Artístico para passar temporadas na Europa tinham que reproduzir periodicamente grandes obras da arte universal e enviar a cópia para o acervo da nova instituição -que patrocinou, ainda do início do século 20, exposições importantes, com grande sucesso de público.
Hoje, o prédio da avenida Tiradentes abriga apenas a Pinacoteca, considerada um modelo no país. Entre 1993 e 1998, o edifício passou por uma luminosa intervenção arquitetônica de Paulo Mendes da Rocha. O projeto original foi generosamente respeitado, embora nunca tenha sido concluído. Ficou faltando a majestosa cúpula imaginada por Ramos de Azevedo.
No início da tarde de sábado desci do metrô na estação da Luz, atravessei a rua e dirigi-me ao chamado Octógono, um espaço dentro da Pinacoteca que é de tempos em tempos ocupado por um artista plástico. É o chamado "site specific".
Convidado para criar uma obra no local, o artista Artur Lescher já havia percebido que o octógono servia de base para uma cúpula que não fora realizada. "Para mim, apesar de não existir fisicamente, ela sempre esteve lá", diz ele, que chegou a imaginar em desenhos como poderia ser a estrutura ausente.
Lescher fez uma pesquisa sobre o edifício e logo descobriu a imagem da fachada original. Viu, enfim, como era a cúpula projetada no século 19, que deveria estar ali.
A partir da proposta de Ramos de Azevedo criou sua obra e a instalou no Octógono. Não se trata de cópia, mas de uma versão, que usa elementos do antigo projeto e incorpora (ou desincorpora) outros. Mas atenção: você não verá uma cúpula do lado de fora da Pinacoteca. O artista instalou a peça invertida, voltada para dentro, com a longa agulha metálica que a arremata quase tocando o chão.
Para designar a obra, Lescher recorreu ao neologismo "inabsência", palavra criada para designar "a ausência da ausência ou a presença do que estava ausente". Atrai o olhar e anima a mente.
marcos.augusto@grupofolha.com.br
Veja fotos do projeto original da cúpula e do trabalho de Lescher
folha.com/no1172856

Benett


CHARGE

Tendência/Debates


O ASSUNTO DE HOJE: RAZÕES PARA VOTAR NO MEU CANDIDATO

Haddad e o laboratório do doutor Lula

Dr. Frankenstein Lula inventou Haddad? Sim, mas criou Dilma também, e ela tem ido bem. Já o PSDB e seu aliado pós-arenista Kassab precisam virar passado

O padre Antônio Vieira (1608-1697), gênio da oratória sacra, chamado por Fernando Pessoa de "imperador da língua portuguesa", saiu-se com esta num de seus sermões, o do Santíssimo Sacramento, de 1645: "Tempo houve em que os demônios falavam, e o mundo os ouvia; mas depois que ouviu os políticos, ainda é pior mundo".
Não é difícil encontrar quem concorde com o Vieira nesse mesmo mundo de Deus e dos demônios. Também eu tendo a fechar as narinas diante do enxofre exalado pela grande maioria dessas figurinhas carimbadas, os políticos.
Sou forçado, porém, a reconhecer que é deles que a gente depende se quiser ver os grandes antagonismos sociais, econômicos, culturais e religiosos de um país, região ou cidade acomodados numa arena política civilizada, ainda que mal e porcamente (e não a ferro, fogo e sangue nas ruas, como hoje na Síria, por exemplo).
Vai daí que fica difícil defender a opção pela neutralidade quando chega a hora da onça beber voto num país, como a nosso, que tenta a muito custo se ver como democrático.
Agora, em São Paulo, a onça está a postos, radicalmente polarizada entre dois contendores de peso.
De um lado, José Serra, o velho político do já encarquilhado PSDB. Um partido que, de tanto se aliar aos remanescentes da velha Arena, criada pelos milicos da ditadura para lamber-lhes regularmente os coturnos, já vai se encaminhando para o seu irremediável ocaso.
Espero que o atual prefeito, o Kassab, cria do ex-arenista Maluf e desmioladamente ungido por Serra, escoe rapidinho pelo mesmo ralo da história, junto com o partido oportunista que tirou da cartola, o PSD, última eflorescência da famigerada Arena, via PFL e DEM. Vita brevis, é o que eu e o padre Vieira latinoriamente lhe desejamos.
Do outro lado, temos Fernando Haddad, a mais recente criação do doctor Frankenstein da política nacional, Lula, que está ficando deveras craque nisso.
Farol supremo do ávido e inescrupuloso PT (que está ameaçando deixar o PMDB para trás neste quesito), Lula enche a pança de justificado orgulho com seu primeiro monstrengo de laboratório, a Dilma, que até agora vem dando conta do recado de manter a aura de seu criador, sem grandes vexames.
Pelo contrário, até procurou varrer alguns vexames para fora de seu governo, na modestíssima medida do possível.
Acho que o Haddad vai por aí também. Ela leva no bolso, portanto, o meu voto.
Será um prefeito razoável, tentará com sucesso mediano acomodar os apetites da máquina partidária que o controla, sofrerá com alguns escândalos protagonizados por seus aliados à direita e à esquerda, mas não há de ser nenhum Celso "Maluf" Pitta pilhado pulando o muro do tesouro municipal com os bolsos cheios de precatório sujos.
Se não inventar nenhuma excrescência tributária, como a taxa do lixo de sua colega Marta Suplicy, e tiver o bom-senso de não dar continuidade a esse escândalo que é a inspeção veicular do seu Kassab, que não poupa nem veículos recém-saídos da linha de produção, sabe-se lá com que escusos propósitos (alguns promotores até sabem e estão se movendo para denunciá-los), vai sair bem na foto.
O risco que o Haddad corre, aliás, é justamente esse: ser bem avaliado à frente da prefeitura e se ver lançado pelo PT ao governo paulista em 2014, por falta de opções, cumprindo o mesmo vergonhoso roteiro de renúncias a cargos majoritários do seu oponente Serra.
Se isso acontecer, não é nada improvável que algum demônio midiático sustentado por dízimos subtraídos ao bolso do povão se apodere da cadeira do alcaide em 2016, como ameaçou conseguir no primeiro turno desta eleição. Vade retro, digo eu, ecoando Vieira.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.debates@uol.com.br

MARCELO MADUREIRA

A cidade e o Serra
Serra não é simpático? E daí, se é competente? A eleição de SP é nacional. Não se pode fortalecer o PT, que se alia ao que há de pior por seu projeto caudilhesco

O Brasil é um país complicado. Por um lado, a democracia dá um salto de qualidade, impulsionada pela ação do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. Do outro lado, assistimos nestas eleições de 2012, mais uma vez, articulações de forças intestinas na direção do atraso, do patrimonialismo autoritário e obscurantista.
A cidade de São Paulo é a principal arena deste MMA político brasileiro. Queira ou não queira, o segundo turno paulistano, como sempre, alcança dimensão nacional. São Paulo não é só a nossa maior metrópole, mas também, por sua multiplicidade, uma síntese do Brasil. Além da gestão da cidade, o que esta em jogo são dois projetos políticos distintos e antípodas.
Coerente com o perfil autoritário do ex-presidente Lula, o candidato Fernando Haddad, enfiado goela a dentro do PT, dá continuidade ao projeto lulista.
Esse lulismo traz dentro de si tudo aquilo que a civilização brasileira quer transformar em página virada. O projeto caudilhesco de Lula usa o aparelhamento do Estado, a demagogia populista e não contempla uma transformação virtuosa da sociedade brasileira.
Fernando Haddad é mais uma peça desse projeto. Projeto que tem como único arcabouço "ideológico" o poder pelo poder, a qualquer preço, e com as alianças com aquilo de pior que existe na política brasileira. E a lista é grande: são Malufes, Sarneys, Barbalhos, Calheiros, Collors e Valdemares Costa Neto. Está nos autos.
O mensalão foi um atentado à democracia brasileira. Uma traição explícita à Constituição, pedra fundamental do Estado de Direito que, no ato de posse, o presidente jura manter, proteger e cumprir.
Mas palavra de honra não me parece que seja coisa para se levar em conta no lulismo. Para Lula e os seus áulicos, a democracia é um valor burguês, uma figura de retórica a ser utilizada segundo a conveniência do momento.
O povo de São Paulo, guardião intransigente da Constituição brasileira, honrando o movimento constitucionalista de 1932, tem o dever de derrotar esse projeto político.
José Serra pode não ser um candidato simpático. Muito pelo contrário. O ex-governador de São Paulo Mário Covas também não era. Mas, como o saudoso Covas, Serra já provou mais de uma vez retidão e competência na gestão da coisa pública, e isso é o mais importante. O eleito, afinal, não vai ganhar um programa de humor, mas uma prefeitura para administrar.
A única lembrança que Haddad deixou do seu período à frente do Ministério da Educação, por outro lado, foi a sua desastrosa gestão do Enem, com fraudes e erros de organização que prejudicaram milhões de alunos em um momento crucial das suas vidas.
Desnecessário dizer que, se votasse em São Paulo, votaria no Serra. Subtraindo seus defeitos e somando as suas virtudes, José Serra é a melhor alternativa.
Inclusive acredito que o compromisso que o candidato tucano propõe aos paulistanos não será interrompido por uma eventual candidatura à presidência, como tanto se comenta. Serra sabe que o seu sonho com o Planalto já passou e que a oposição brasileira, em nível nacional, pede novos protagonistas.
Caramba! Nunca escrevi tão sério! Deve ser a influência do Serra...

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Ulysses Guimarães


AÉCIO NEVES

Ulysses

Os brasileiros lembram neste mês, com reverência, os 20 anos do desaparecimento de Ulysses Guimarães. Ele foi e será sempre símbolo da luta pela democracia e pela justiça social, que encontra sua melhor tradução na Constituição.
Guardamos para sempre sua imagem histórica erguendo o primeiro exemplar e anunciando a "Constituição Cidadã", trazendo luz ao país após um longo período de sombras.
Ulysses conviveu com uma singular geração de homens públicos. De Tancredo, como dizia Tales Ramalho, era parceiro em uma dança da qual só eles conheciam os passos. Os dois lideraram alas distintas da oposição e agiam de forma complementar, ciosos da necessidade de manter a coesão em torno do fundamental desafio daquele tempo: vencer o regime de exceção. São dois grandes exemplos da dimensão ética e transformadora que a ação política pode ter.
Eram líderes leais ao Brasil, honravam a palavra dada e colocavam sempre o interesse do país cima de quaisquer outros.
Permitiu o destino que, anos depois, eu me sentasse na cadeira de Ulysses, na Presidência da Câmara dos Deputados, e não foram poucas as vezes em que, para tomar decisões complexas, me inspirei no velho timoneiro. Foi nesse período que, com o apoio de diferentes forças políticas, acabamos com a imunidade parlamentar para crimes comuns e criamos na Câmara o conjunto de medidas que ficou conhecido como Pacote Ético.
Dr. Ulysses e sua geração nos deixaram um denso legado. A defesa das razões de Estado, o fortalecimento das instituições, o adensamento da democracia e o compromisso com a Federação criaram uma realidade nova e permitiram que mais adiante pudéssemos continuar avançando com a estabilidade econômica e a inclusão social de milhões de brasileiros.
Lamentavelmente perdemos essa ideia-força -o sentido da construção nacional como tarefa coletiva e dever de todos. Acabamos reféns de um modelo que substituiu o projeto de país por um projeto de poder. As grandes reformas foram abandonadas. As pontes construídas no passado em torno das causas nacionais sucumbiram a um ciclo de governo que apequenou-se e tenta reescrever a história de forma quase messiânica, como se o Brasil do nosso tempo fosse obra de poucos e tivesse sido fundado ontem. Não foi.
Por tudo isso, é importante que as novas gerações conheçam as convicções, o espírito público e a grande generosidade com que o doutor Ulysses sempre trabalhou pelo Brasil. E reconheçamos aqueles que, com coragem, lucidez e coerência, nos ensinaram que é possível sempre semear um novo país. A memória pode ser um eficaz antídoto à descrença e ao desalento que vemos hoje nos brasileiros em relação à política.
AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras neste espaço.

Um sonho de Vinicius


RUY CASTRO

RIO DE JANEIRO - 

Parece incrível, mas Vinicius de Moraes teria feito 99 anos na sexta-feira última. Como se não bastasse, a data foi o ponto de partida para o seu centenário -que, para todos os efeitos, já começou. Uma vasta programação, incluindo reedições de sua obra e antologias de textos nunca publicados em livro, uma caixa de seus discos (dispersos por vários selos), uma exposição itinerante, shows, palestras etc., ocupará os próximos 12 meses. E isso é só o Vinicius oficial.
Ótimo. Efemérides como essa devem zarpar de um projeto institucional e, daí, abrir-se a adesões -sempre que possível, sem ônus. Foi o que determinou o sucesso do centenário de Nelson Rodrigues, ainda em curso, e, há tempos, o fracasso do centenário de outros artistas -pela ganância dos herdeiros.
Quando se dizia que Vinicius era um ser plural, não estavam brincando. Poeta, diplomata, letrista, cantor, cronista e homem de teatro, cinema, uísque e mulher, ele pode ser abordado de muitos ângulos. Um ano será pouco para homenageá-lo, daí terem começado tão cedo.
Repórter da "Manchete", fui entrevistá-lo em princípios de 1968, em sua casa na Gávea. Vinicius estava no banho, mas já vinha, me disseram. OK. Só que quem apareceu primeiro foram duas jovens repórteres,
rindo muito. Em seguida, surgiu Vinicius, num rastro de sabonete e talco, recém-saído da banheira onde recebia todo mundo. Por acaso, recebeu-me à paisana.
Devo ter toda a poesia e música de Vinicius. Mas o que me orgulho mesmo de possuir são os dois números da incrível revista "Filme", que ele editou com Alex Viany em 1949 e que encontrei num sebo. Fazer uma revista de cinema, de nível internacional, era um sonho antigo, a que ele se atirou com amor. E conseguiu. Pena ter ficado nesses dois números -Chaplin na capa do nº 1, Fred Astaire na do nº 2.

Engajamento eleitoral da Igreja Católica é inédito



ENTREVISTA DA 2ª - DOM FERNANDO FIGUEIREDO

BISPO DEFENDE VISITAS DE POLÍTICOS A TEMPLOS E DIZ QUE, NO LUGAR DE KASSAB, ATÉ IRMÃ DULCE SOFRERIA REJEIÇÃO


DANIELA LIMA

DIÓGENES CAMPANHA
DE SÃO PAULO

Bispo responsável por uma das igrejas mais assediadas por políticos em São Paulo -o Santuário do Terço Bizantino, do padre Marcelo Rossi-, dom Fernando Figueiredo admite nunca ter visto a Igreja Católica se envolver tão fortemente numa eleição municipal quanto neste ano.
"Já vi uma manifestaçãozinha aqui e acolá, mas jamais um pronunciamento oficial", afirma, ao comentar a ação do arcebispo dom Odilo Scherer, que no primeiro turno determinou que padres lessem comunicado com críticas à campanha de Celso Russomanno (PRB).
À Folha, o bispo de Santo Amaro diz que abre as portas de seu Santuário para que os fiéis possam "conhecer melhor" os candidatos.
Rechaça, no entanto, que líderes religiosos indiquem nomes aos eleitores. Apesar disso, direcionou os maiores elogios a José Serra (PSDB), que concorre com Fernando Haddad (PT).
O Santuário acabou se tornando alvo do périplo de políticos. Como vê isso?
Vejo o santuário como local de congregação do nosso povo. Isso não só chama a atenção da imprensa, como também dos políticos, que têm ali acesso a um grupo bastante grande para se apresentar. Muitos deles vão movidos também pela fé. Gostaria que todos fossem assim.
O objetivo político incomoda?
Eu não pergunto a ninguém se foi lá por razão política ou religiosa. Cabe à pessoa.
É positiva essa aproximação dos políticos com as igrejas?
É um modo de eles se apresentarem e também de nós os conhecermos. Para votar, creio que uma das leis máximas é justamente conhecer e conhecer bem o candidato. É verdade que eles vão lá e as pessoas os veem naquele instante. Mas talvez essa primeira impressão já traga uma alegria de saber que conhece aquele candidato.
Não há risco de a igreja ser instrumentalizada?
Se eles [os políticos] instrumentalizam, o problema é deles. Nós fazemos com a consciência reta, desejando apresentá-los e levá-los a um encontro com o Senhor.
Na última semana, os materiais anti-homofobia que Haddad e Serra produziram viraram tema na campanha. Como vê isso?
Não vou entrar na questão do kit. A igreja sempre propugnou contra todo tipo de discriminação. Todos são chamados à salvação.
Mas elaborar esse material pode ser considerado algo que desabone um candidato?
Creio que essa questão é muito delicada. Delicada demais para, numa pincelada, tratarmos sobre ela.
Delicado para tratar em uma pincelada. E para tratar em ano eleitoral?
Muitas vezes os debates se tornam não muito elucidativos e, às vezes, distorcidos. Não colocaria essas questões num período eleitoral.
O pastor Silas Malafaia pediu voto para Serra dizendo que Haddad queria ensinar a homossexualidade. Ele está pregando o preconceito?
Eu não gostaria de julgar.
Mas o que acha de um líder religioso indicar candidato?
Ninguém deveria dizer quem é o candidato. É um abuso do contato e da credibilidade que os fiéis nos dão.
Então qual é o limite para a participação dos religiosos?
Eu diria que devemos apresentar, sim. Mas dar conhecimento não é indicar.
O sr. disse que é preciso conhecer bem os candidatos. Pode falar um pouco o que conhece de Haddad e Serra?
O Haddad me foi apresentado pela família Tatto [dez irmãos filiados ao PT-SP]. Eu já o vi em outra ocasião, mas não tenho contato. Vejo que é muito inteligente, tem capacidade intelectual e também flexibilidade quando discursa. O Serra eu conheço há tempos. Pediram-me para dar a unção dos enfermos a uma senhora. Na saída, vi um porta-retratos com foto dele e perguntei de onde o conheciam. Era a mãe dele. Difícil encontrar alguém que conheça mais a cidade do que ele.
O sr. foi a muitas inaugurações desta gestão. Se Haddad for eleito, continuará indo?
Eu não sou ligado a este ou aquele partido. Sabia que quando os cristãos eram martirizados, eles rezavam pelo imperador, que os estava levando à morte? É uma responsabilidade da autoridade estar sempre sintonizado com o Senhor.
No primeiro turno, dom Odilo Scherer pediu para que padres lessem nas missas texto contra a campanha de Celso Russomanno. Como viu isso?
Eu não tinha claro até aquele momento que o Russomanno estivesse ligado à Igreja Universal. Até hoje não tenho. Como o conhecia há muito tempo, o que eu via era ligação com a Igreja Católica.
O sr. declarou publicamente que ele era católico.
Você sempre deve fazer o que é melhor para a pessoa. Se nada me dizia que ele não era católico, como poderia não defendê-lo?
É inédito o engajamento eleitoral da igreja em São Paulo?
Essa pergunta é para ele [dom Odilo], não para mim. Cheguei aqui como bispo em 1989. Sempre houve uma manifestaçãozinha aqui e acolá, mas não um pronunciamento oficial. Isso jamais.
Qual é o limite desse engajamento religioso?
Você apresenta [candidatos], simplesmente. Mas a igreja deve iluminar a mente do eleitor para que ele possa considerar os candidatos não só no momento presente, mas também no passado. Senão, aparece alguém da Lua com um belo discurso, e as pessoas são levadas. O conhecimento que temos, por exemplo, do Serra. Ele é mais conhecido. É mais fácil termos julgamento.
Ele tem alta rejeição, em parte por ter saído da prefeitura.
Mas isso é tão secundário. Ele saiu por quê? Porque não queria servir o povo? Ou quis servir o povo ainda mais, como governador? Perdemos essa referência.
O sr. falou do Serra, poderia destacar méritos das gestões que viu desde 1989?
A Erundina teve muita preocupação social, pela realidade sofrida do povo. O Maluf é um homem de decisão. Quando tivemos problemas na região sul, agiu imediatamente. O Pitta bem menos...
E a Marta Suplicy?
Marta, Marta, Marta.... O que eu poderia falar da Marta? Aqui na região sul... Ela tinha uma preocupação pela saúde. Vemos postos de saúde que ela incentivou. Isso foi importante. A atuação do Kassab também tem sido marcante aqui na região.
A maioria da população reprova a gestão dele.
Eu fico sempre me perguntando: de onde que vem isso? Acho injusto. Acho não, creio. Vocês que estão na imprensa, o que me dizem? Não é um pouco pegar os aspectos que não são positivos e alardear, e isso faz com que a imagem da pessoa seja denegrida?
O senhor se refere ao Kassab?
Pode ser qualquer pessoa, até um santo. Pegue irmã Dulce. Pega um aspecto que não era muito positivo e começa a divulgar. Cria-se uma ideia contrária à pessoa.
O sr. recebe crítica por receber os políticos?
Às vezes recebo críticas: "Você recebeu Fulano, ele nem é católico e o senhor o deixou comungar". Há uma lei na igreja que, se a pessoa se aproxima para a comunhão, você não pode negá-la.
Antes do primeiro turno, o candidato Gabriel Chalita veio a uma missa na qual estava o Serra. Ele reclamou que precisou "se convidar" para o evento. Na ocasião, o sr. não quis comentar.
Continuo sendo elegante com ele.
Ele se queixou com o senhor?
Continuo sendo elegante com ele. Estou começando a ser político! [risos]

Vanessa vê TV




VANESSA BARBARA
vanessa.barbara@uol.com.br

O tecido do cosmo

Semana passada falei sobre "Nova", franquia de documentários científicos exibida pela emissora americana PBS.
Em novembro de 2011, foi ao ar pela primeira vez "The Fabric of the Cosmos", conjunto de quatro capítulos baseados no livro do físico Brian Greene. Com a ajuda de bamboleantes efeitos especiais e depoimentos de especialistas, Greene procura mostrar como os cientistas contemporâneos têm lidado com as velhas questões de tempo, espaço e universo.
Ele é professor e diretor do Iscap (Instituto de Teoria das Cordas, Cosmologia e Astrofísica de Partículas) da Universidade de Columbia. Apesar das credenciais, este amável Ted Mosby da gravitação quântica vai devagar com o espectador: no primeiro episódio, pergunta singelamente o que é o espaço.
Só um problema: trata-se de um dos maiores mistérios da ciência, conforme nos informa o teórico Sylvester J. Gates -uma espécie de Morgan Freeman de chapinha.
Episódio a episódio, Greene usa recursos gráficos para apresentar conceitos fundamentais como a mecânica clássica de Newton. Ele diz: "Agora imagine o seguinte", enquanto compara o tempo a um pão de forma, as partículas subatômicas a um grupo de paparazzi e o universo a um queijo suíço inflável. Mas ele tem más intenções. Marotamente, vai nos levando pela mão rumo a um beco sem saída teórico.
"Mas, se isso é verdade, então isto aqui também é", afirma. "E não faz o menor sentido." É dessa forma que Greene introduz ao espectador uma teoria absolutamente desvairada, fruto de uma descoberta recente.
Assim como os físicos, ficamos cada vez mais confusos. Aprendemos que as partículas atômicas e subatômicas são regidas por leis de probabilidade, e não de certeza, e passamos a considerar cientificamente aceitável a ideia de que o tempo é uma ilusão.
"Como poderíamos estar tão errados sobre algo tão familiar?", pergunta Greene. "Ela é chamada de teoria do Big Bang, mas não diz nada sobre o Bang em si, o que fez Bang, por que fez Bang ou o que aconteceu antes do Bang", explica outro Ph.D. em coisas complexas.
O episódio derradeiro fala sobre a polêmica dos multiversos, eterna briga de foice entre os cientistas. No fundo, ninguém parece saber de nada.
"Isso incomoda? Claro que sim", admite Steven Weinberg, Prêmio Nobel de Física. "Mas não há princípio embutido nas leis da natureza que diga que os físicos teóricos têm que ser felizes."

Luiz Felipe Pondé



O que é uma vida decente?

O que é melhor, um pai ou marido corrupto ou pobre? Honestidade, conforto ou bem-estar?

Quando se fala de corrupção, todo mundo mente. Quase todo mundo prefere um pai ou marido corrupto a um honesto, mas pobre. Para resistir à corrupção, você tem que ser radical, ou religioso, ou moral ou político.
Parafraseando Hanna Arendt em seu "Eichmann em Jerusalém", quando ela disse que os nazistas estavam preocupados com a aposentadoria e chamou isso de banalidade do mal, eu diria que existe uma "banalidade da corrupção" inscrita na perversão do que seria uma vida decente.
Não quero "desculpar" a corrupção, quero trazer à tona uma causa ancestral de corrupção da qual não se fala no silêncio do cotidiano.
O julgamento do mensalão não significou nada para o eleitor, mesmo para aquele que se julga "crítico". Ninguém dá bola para a corrupção do seu partido do "coração". Também foi importante para ver o modo de operação da corrupção ideologicamente justificada inventada pelo PT: só faltava dizer que foi a direita de Marte que inventou tudo.
Já se falou muito que quando classes sociais mais baixas ascendem socialmente e tentam imitar os hábitos da aristocracia ficam ridículas. Isso é descrito como "novo rico". Mas o "novo corrupto" é tão ridículo quanto. Que "saudade" dos corruptos clássicos do coronelismo nordestino, que negavam, mas não apelavam para uma inocência ideologicamente justificada, ou simplesmente não se davam ao trabalho de negar. Os mensaleiros continuam a agir como um clero de puros de coração.
Mas não é disso que quero falar. Quero falar do fato de que, para além do debate político -que acho chatinho e quase sempre um circo-, a corrupção se alimenta de algo muito mais profundo.
Damos pouca atenção a esse fato porque a substância da moral pública é a hipocrisia, por isso é melhor brincar de dizer que a causa é só política, quando na realidade é mais banal do que isso.
Quase ninguém quer ter um pai ou marido pobre, e sim prefere um pai ou marido corrupto, mas que dê boas condições de vida. Esta é a verdade que não se fala.
Imagine que você é uma jovem mulher que vai casar com um jovem rapaz. Antes que me acusem de "sexista" (mais um termo usado para quebrar a espinha dorsal do debate público, semelhante a acusar alguém de pedófilo), o que vou descrever pode acontecer também com um homem, mas é mais comum ser mulher, porque elas ainda são mais financeiramente dependentes e continuam execrando homem sem sucesso profissional, apesar das mentiras das feministas.
Agora imagine que seu marido será um policial honesto até o fim da vida. A chance de ele acabar pobre é enorme. O mesmo pode acontecer, ainda que num grau mais alto em termos financeiros, com qualquer um que venha ocupar um cargo nos variados escalões do governo.
Agora imagine que, no começo, ele seja honesto e com ereção e vigor, e você também seja uma jovem mulher cheia de vida e expectativas. Agora imagine que se passaram 20 anos... 30 anos... O que importa? A honestidade dele ou ele pensar "no bem-estar da família"? Espere, não responda em voz alta, guarde para si a resposta, senão você mentirá na certa.
Por "pensar no bem-estar da família", quero dizer: roupa, comida boa, escola dos filhos, melhor casa para morar, ajudar os sogros doentes e idosos, viajar para Miami e Paris, apartamento na praia, iPhone, no mínimo para as crianças, carro novo, uma bolsa de marca, ainda que "em conta", sair com amigos para jantar, levar as crianças para comer pizza no domingo, poder mostrar para os cunhados que você está melhor de vida (isso às vezes vale mais do que tudo na escala da miséria moral de todos nós), viajar de avião, comprar coisas nos EUA, ter TV de 200 polegadas, iPads, enfim, "ter uma vida".
Em situações de risco, em guerras, a covardia é a regra -ao contrário dos mentirosos que até hoje se dizem filhos de "la résistance française".
No dia a dia, isso tem outro nome: honestidade não vale nada, o que vale é ter uma "vida decente": segurança para os filhos, uma esposa feliz porque pode comprar o que quiser (dentro do orçamento, claro, mas quanto menor o orçamento menor o amor...), enfim, um "futuro melhor".
*ponde.folha@uol.com.br